Santander ignora denúncias de assédio moral no Call Center de São Paulo

O acordo de combate ao assédio moral, conquista da Campanha Nacional dos Bancários de 2010, não vem sendo respeitado no setor de Call Center do Santander. Diversas denúncias que chegam ao Sindicato dos Bancários de São Paulo por meio do instrumento sequer são apuradas ou o banco alega que não procedem apesar da farta evidência.

Um exemplo é o que vem acontecendo com os funcionários da equipe de e-mail e de chat, subdivisão da Equipe de Apoio do Call Center. “O Sindicato já recebeu pelo menos seis reclamações contra o supervisor dessa equipe, mas ele continua no cargo e, o que é pior, com a mesma prática”, denuncia o diretor do Sindicato, Marcelo Gonçalves.

Ofensas, humilhações em público e ameaças constantes de demissão ou rebaixamento são relatos frequentes nas queixas que chegam ao Sindicato desde setembro de 2011. “O supervisor, em reunião realizada no dia 9 de setembro, deixou todos constrangidos dizendo que a equipe era acomodada, preguiçosa e que vivia de forma ociosa na operação. Afirmou que as pessoas não tinham ambição e não corriam atrás de trabalho, e por este motivo poderiam ser demitidas a qualquer momento”, relatou um bancário.

“Ele (o supervisor) vem atacando funcionários que se encontram debilitados e estão em acompanhamento médico e psicológico”, acusou outro bancário, acrescentando que o gestor utiliza o histórico médico desses bancários como mau exemplo para a equipe, “ridiculariza esses trabalhadores na frente dos outros e ameaça de demissão constantemente”.

Foi o que aconteceu com um integrante da equipe que estava em tratamento psiquiátrico e piorou quando começou a ser perseguido pelo supervisor. “Ele criou um verdadeiro clima de pânico. Tem assediado pessoas em tratamento levando a uma piora do quadro. Eu mesmo tive uma crise de ansiedade, com ideação suicida e fui parar no pronto socorro psiquiátrico.” Após a crise, contou o bancário, o gerente da área o transferiu, mas nem isso livrou-o da perseguição do assediador. “Mesmo fora da área, ele me acusa nos corredores de fazer motim para derrubá-lo.”

Ameaças

“Ele é ríspido. Tem um discurso que não vale na prática. Já entrou (no cargo) ameaçando todo mundo, fazendo cobranças diárias por resultado e dizendo que tinha carta branca da coordenação do Call Center para demitir quem ele quisesse e para fazer o que achasse melhor. Já vi muita gente chorando no corredor após passar pela mesa dele”, informa outra bancária.

“Na primeira reunião que fez com a equipe, deixou bem claro que quem mandava ali era ele e que não iria admitir desvio de caráter de seus funcionários e que qualquer ato de desobediência seria considerado como insubordinação, e seria punido como tal”, descreve ela.

Estresse

Marcelo Gonçalves reforça que o Sindicato voltará a cobrar providências do Santander. “Insistimos para que o banco afaste o funcionário ou o requalifique para lidar com os trabalhadores como eles merecem, com respeito.”

O dirigente lembra ainda que os representantes dos trabalhadores e o Santander abrirão, em fevereiro, um canal de negociação específico sobre o Call Center, com o intuito de produzir um acordo para o setor.

“Trata-se de um setor particularmente estressante. O funcionário trabalha sendo monitorado o tempo todo, sob normas rígidas e com limite de tempo até para ir ao banheiro, o que é errado. Esse controle exacerbado e ritmo intenso de trabalho têm resultado em muitas denúncias de assédio moral”, informa Marcelo.

A diretora do Sindicato, Maria Carmen Meireles, ressalta que é por isso que os problemas do Call Center merecem reuniões específicas. “Isso tem de ser discutido mais profundamente com o banco para que possamos mudar o clima ruim que existe no local. Mudar para um ambiente de respeito e que valorize o trabalho dos funcionários. Mas para isso será fundamental a organização e participação dos funcionários do Call Center nas discussões com o banco que se iniciarão em fevereiro.”

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