Valor Econômico
Altamiro Silva Júnior, de São Paulo
Colaboração de Maria Christina Carvalho
A Redecard anuncia hoje que vai começar a credenciar estabelecimentos comerciais para a Cabal, bandeira argentina de cartões de crédito e débito que é emitida por aqui pelo Bancoob – Banco Cooperativo do Brasil.
Em meio às pressões do governo para aumentar a concorrência no mercado de cartões, a estratégia da Cabal é ser uma bandeira nacional, funcionando como uma alternativa à MasterCard e à Visa. Já a Redecard quer ser conhecida como uma empresa multibandeira, dona da rede que aceita a maior variedade de cartões no Brasil. Já são 11 associados, que incluem bandeiras de crédito como MasterCard e Aura e de benefícios como Ticket e Sodexo.
“Queremos ter o máximo de bandeiras possível”, diz Henrique Capdeville, diretor de planejamento e estratégia da Redecard. Para isso, a empresa começou uma campanha de marketing em jornais, revistas e televisão, com o objetivo de se mostrar mais ao mercado e explicar como funciona. Segundo o executivo, nem sempre os estabelecimentos percebem as vantagens de estarem ligados à rede da Redecard, que incluem tecnologia de ponta e transações aprovadas rapidamente.
A Cabal tem sede em Brasília e quer atrair novos bancos emissores. Para se diferenciar da Visa e MasterCard, vai oferecer aos bancos preços mais baixos. Marcos Vinícius Viana Borges, superintendente geral da Cabal Brasil diz que, com taxas menores, a bandeira pode ser oferecida ao cliente de menor renda, aquele que está fora do perfil para ter um plástico das duas grandes bandeiras.
Presente no Brasil desde 2000, a estratégia de atrair novos emissores não era possível porque a Cabal não tinha rede nacional. Ela tem 30 mil estabelecimentos credenciados, todos pela própria bandeira. O executivo conta que a bandeira avaliou que não valia a pena investir para criar uma rede própria maior, por causa dos altos custos e investimentos necessários. Por isso, a ideia do acordo com a Redecard, que é por tempo indeterminado.
O “namoro” da Cabal com a Redecard começou há mais de cinco anos. Mas Borges conta que as coisas só evoluíram após o fim da exclusividade no credenciamento da empresa para a MasterCard, há pouco mais de dois anos. A Redecard tem mais de 1,2 milhão de estabalecimentos cadastrados e fará a captura, processamento e liquidação financeira das transações com os cartões da Cabal.
Um dos momentos mais esperados pelo mercado (e pelo governo) é o fim da exclusividade entre Visa e sua credenciadora, a VisaNet. A Redecard tem todo interesse em credenciar para a Visa, a maior bandeira do mundo, diz Capdeville. “Do nosso lado não há problema algum”, diz o executivo, destacando que ajustes burocráticos com a Visa e técnicos nas máquinas leitoras podem retardar o início do credenciamento.
A VisaNet aguarda para a próxima semana o julgamento pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) do recurso voluntário que fez ao plenário do órgão contra a determinação da Secretaria de Direito Econômico (SDE) para que acabasse com a exclusividade para o credenciamento de estabelecimentos comerciais interessados em receber pagamentos com cartões da bandeira Visa.
O contrato de exclusividade está previsto para acabar em junho de 2010. Mas a SDE, do Ministério da Justiça, instaurou processo administrativo contra a VisaNet para apurar possível conduta anticompetitiva e decidiu determinar, preventivamente, a suspensão da exclusividade de credenciamento a partir de 6 de setembro. Caso a determinação não fosse cumprida, a VisaNet estaria sujeita a multa diária de R$ 300 mil. A VisaNet recorreu ao plenário do Cade.
O recurso chegou com pouca antecedência e o relator do processo transferiu o julgamento para a próxima reunião plenária, marcada para 16 de setembro. Até lá, estão suspensos os efeitos da medida preventiva da SDE.