O UNIDADE recebeu denúncias de que a gerente Regional de Operações do Banco Real no Setor Rio-Sul, da Diretoria da Rede III, Marley Holanda Barreto, está impondo aos gerentes de sua região a orientação de pressionar todos os funcionários das agências do banco para vender produtos e serviços a fim de atingir as metas estipuladas para sua área de atuação.
A executiva chefia todos os Gerentes Gerais de Serviços (Operacionais) na região da Zona Sul da cidade. Em carta dirigida aos subordinados, ela dá orientações sobre as metas a bater até o fim do ano e como pressionar os empregados da área operacional para atingirem metas de cadastramento de débito automático, abertura de contas e outras operações. Nem os caixas automáticos escaparam e os gestores são orientados a concentrar atenção aos atendentes do hall eletrônico, para que sejam instruídos a encaminhar os clientes e usuários para os terminais de auto-atendimento.
Na correspondência, a executiva menciona claramente os caixas, estagiários e jovens aprendizes, dizendo que o empenho e o comprometimento destes empregados com o cumprimento das metas não são satisfatórios. Marley diz aos gestores que é preciso pressionar seus subordinados para que sejam mais eficientes em passar serviços para clientes e usuários.
Quadro da vergonha
A gerente regional orienta os gestores operacionais a montarem um quadro que deverá ficar visível para todos os empregados, em que constem as metas da agência e a produção diária individual dos funcionários. Marley entende que garantir “que todos saibam os objetivos e o quanto cada um está contribuindo para a entrega, além de identificar os destaques” é uma prática válida de gestão. O que a executiva não demonstra é que, ao mesmo tempo em que destaca os exemplos de sucesso, também evidencia quem não está conseguindo bater as metas, o que gera constrangimentos para estes funcionários.
A advogada Cristina Stamato, do escritório Machado Silva, que presta assessoria jurídica à Federação, pondera que o banco não pode submeter o desempenho dos funcionários à exposição pública.
“A cobrança de metas é uma prática comum em qualquer empresa. O problema é a conseqüência que isso provoca para a saúde dos empregados, que vivem sob enorme tensão, com medo de serem demitidos se não tiverem um desempenho que os gestores considerem satisfatório. Estes bancários estão sofrendo um dano moral coletivo. O quadro com desempenho, além de tudo, provoca animosidade entre os colegas e isso é ainda pior para os empregados da área operacional, para quem a venda de produtos não faz parte das atribuições do cargo”, argumenta a Dra. Cristina.
A mensagem ainda evidencia a prática ilegal de venda casada que o banco, agora, chama de “venda cruzada” para burlar a legislação. Como há metas para abertura de contas e cadastramento de débito automático, o bancário já “mata dois coelhos com uma cajadada só”, vendendo cada conta já com a opção de desconto programado dos valores das contas de prestação de serviços de empresas conveniadas.
A fila não anda
O impacto da atividade comercial durante o atendimento nos caixas é contestado pela executiva, que acha fácil processar e autenticar documentos enquanto tenta convencer um cliente ou usuário a abrir uma conta, cadastrar débito automático ou indicar um cliente em potencial. Um funcionário do banco lotado numa das agências chefiadas por Marley, tem observado a tensão que vivem seus colegas da área operacional com as novas funções que lhes foram atribuídas: “Eles estão preocupados, porque, além de abrir contas e oferecer serviços, têm que estar atentos às suas tarefas normais. Se cometerem erros, vai haver diferença de caixa e não vai ser a Marley quem vai pagar por isso”, pondera o bancário.
Exigir dos caixas, estagiários e menores aprendizes que desempenhem tarefas alheias ao cargo configura desvio de função. Para confundir estes trabalhadores e melhor convencê-los a venderem produtos, o banco divulga uma lista de atribuições para os cargos que inclui os tópicos “Efetuar oferta de serviços sob coordenação do Gerente Geral de Serviços”, no caso dos caixas. A lista de atribuições dos estagiários e aprendizes é encabeçada pelo seguinte tópico: “Realizar oferta de produtos e serviços aos clientes, alinhados entre a área de Operações e Comercial”.