Em entrevista ao Portal do Mundo do Trabalho, o secretário geral da Central Única dos Trabalhadores e coordenador geral da Plenária Nacional da CUT, Quintino Severo, faz uma avaliação sobre a importância do evento que inicia no próximo dia 5, em São Paulo. Quintino analisa os embates do segundo semestre, as campanhas salariais, as propostas da CUT contra a “inflação importada” pela especulação internacional de alimentos, a necessidade de redução dos juros e a simbologia da Assembléia da Classe Trabalhadora, em São Bernardo do Campo, dia 8 de agosto.
Como coordenador geral da Plenária Nacional da CUT, qual sua avaliação do momento político-econômico em que ela se realiza?
Quando iniciamos a organização da Plenária, tínhamos uma conjuntura bastante diferenciada da atual. Vivíamos um momento em que o processo inflacionário estava aparentemente controlado, com o processo de crescimento econômico bastante acima da média nacional das últimas décadas. A realidade mudou, tornou-se mais complexa, o que aumenta a importância da sua realização, pois vamos debater de forma mais aprofundada, coletivizando análises, dados e experiências. O fato é o que o Banco Central aumentou os juros sob a alegação do combate à inflação. Mas se o processo inflacionário vem a partir da especulação financeira movida pelos grandes grupos econômicos, especialmente no que diz respeito a commoditties do setor agrícola, o centro da inflação está aí, não há lógica. Uma boa análise de conjuntura neste momento fortalecerá a contraposição a esses argumentos com um plano de ação para os próximos semestres, com iniciativas para enfrentar este quadro, assim como suas implicações e impactos no próximo período.
O terceiro aumento consecutivo na taxa de juros é então, contraproducente, uma vez que a central identifica o motor da inflação importada na especulação com os alimentos?
Evidente que sim. Na minha opinião o Banco Central e o Ministério da Fazenda têm dado um tratamento completamente equivocado para o problema inflacionário. Se nós estamos vendo que a inflação não se dá em função do consumo, não abarca o conjunto dos setores da economia, mas está focada na agricultura, nos alimentos, travar o consumo de outros produtos, como bens industrializados e serviços, travar essa possibilidade via aumento de juros, é um remédio amargo e errado. Na minha opinião, a economia brasileira tinha que oferecer mais capacidade de produção, mais capacidade de investimento no setor produtivo, especialmente no setor agrícola, que é, na verdade, o motor desse processo inflacionário. Claro, não esquecendo dos demais setores. A inflação se combate ampliando a oferta e não reduzindo o consumo, o que vai emperrar o desenvolvimento já que impede que a demanda se amplie.
E a campanha pela redução da jornada de trabalho?
Reduzir a jornada de trabalho sem reduzir o salário, é a nossa luta para que as pessoas possam se desenvolver e investir em outras áreas, como a educação, o lazer, a cultura, com o trabalhador com mais tempo para ir no cinema, participar de eventos culturais e esportivos. Reduzir a jornada também significa gerar emprego e redistribuir renda, porque conforme o Dieese possibilitaria a criação de mais de dois milhões de novos postos de trabalho e dar condições do trabalhador ter mais qualificação. Também contribuiria para a diminuição da intensidade do ritmo de trabalho, o que melhoria a saúde. Não é um tema que tem impacto apenas na jornada enquanto tal, mas na melhoria da qualidade de vida do trabalhador brasileiro.
Momento de festa e de luta…
As comemorações destes 25 anos servirão para pensar um projeto de desenvolvimento nacional que inclua a valorização do trabalho, a redistribuição de renda, o emprego decente. Uma das grandes conquistas da CUT é chegar aonde chegou fazendo muita mobilização, greve e pressão, pensando a longo prazo o Brasil enquanto nação. Nosso compromisso é resgatar o valor do trabalho como centro da economia brasileira, resgatar a sua importância para o desenvolvimento.
Diante do significado do processo eleitoral deste ano, visto como ante-sala das próximas eleições presidenciais, a CUT elaborou uma proposta para ser apresentada aos candidatos a prefeito. Qual o desdobramento esperado?
O processo eleitoral precisa ser pensado em todos os níveis. Nós acreditamos que a classe trabalhadora tem papel destacado, ao lado dos movimentos sociais, na disputa pela democratização do Estado, pelo fortalecimento do seu papel indutor, principalmente em nível municipal, aonde a população se envolve mais, que é onde ela vive. As políticas mais imediatas se dão no município, daí o seu significado para o dia-a-dia. Entendemos que a disputa de projeto deve estar muito presente no processo eleitoral deste ano. Para nós, a questão fundamental é a distribuição de renda, a valorização do trabalho, o fortalecimento das políticas de estado e o controle social do âmbito municipal ao nacional. Fortalecer o mundo do trabalho com iniciativas que levem a atender o que estamos pensando de um projeto nacional. Os prefeitos têm muito a contribuir na sua ação, na concepção, nas propostas que apresentarão à sociedade. Vamos fortalecer concepções na disputa do que entendemos ser o melhor para a classe.
Qual a principal ação sindical da central neste segundo semestre?
Nós temos que combinar o debate mais imediato, que é a campanha salarial, o reajuste, a recuperação da inflação, com aumento real, com a ação mais estratégica que deve ser incorporar nas negociações coletivas a redução da jornada de trabalho e criar caminhos para a ratificação da Convenção 158, ou seja, cláusulas nos acordos e convenções coletivas que impeçam a demissão imotivada. Da mesma forma, vamos acumulando as condições até conquistarmos a redução constitucional para 40 horas, como jornada máxima.
E a assembléia, em São Bernardo?
Será a primeira vez que a CUT nacional vai aprovar um plano de lutas construído com agregação da plenária, apresentado e aprovado por uma grande massa de trabalhadores. Talvez a maior realizada até hoje, desde o Congresso de fundação da Central, com a participação de mais de cinco mil delegados. Nossa expectativa nesta assembléia é contar com a participação de cerca de 10 mil trabalhadores e trabalhadoras. Significa um momento histórico para a CUT aprovar um plano de lutas que tem uma responsabilidade muito grande com este momento conjuntural e para o próximo período. Não tenho dúvida que será algo para entrar na história.