A tal proposta global que os banqueiros se comprometeram a apresentar na rodada de negociação desta quinta-feira, dia 17, não surpreendeu o Comando Nacional dos Bancários. Apesar de saberem desde 10 de agosto que os bancários querem aumento real de salários, PLR maior, valorização dos pisos, respeito aos empregos, os negociadores da Fenaban trouxeram uma proposta que não contempla nada disso.
“Pelo sexto ano seguido os banqueiros estão forçando os trabalhadores a fazerem greve”, afirma o presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Luiz Cláudio Marcolino. “É incrível que ano após ano eles desrespeitem as justas reivindicações de seus funcionários, restando à categoria parar para conquistar mais”.
Sem aumento real
O reajuste proposto pela Fenaban, de 4,5% para salários, tíquetes e cesta-alimentação e outros direitos como auxílio-creche e pisos, repõe somente a inflação do período, ou seja, congelaria o poder de compra dos bancários. Os banqueiros alegam que “esse ano está muito difícil, não é um bom momento para dar aumento real”.
Marcolino rebate. “Eles podem e devem pagar. Já dissemos aos banqueiros que essa proposta está rejeitada, os trabalhadores deixaram claro em todas as consultas pelo país que querem aumento real e sem isso não dá pra fechar a campanha”.
Os bancários reivindicam reajuste de 10% (inflação do período mais aumento real).
PLR menor
A Fenaban apresentou um novo modelo de PLR, mais simples, mas totalmente rebaixado. Pela proposta, os banqueiros querem pagar 1,5 salário para todos os trabalhadores, limitado a R$ 10 mil e a 4% do lucro líquido do banco, o que acontecer primeiro, mais parcela linear de 1,5% do lucro líquido, com teto de R$ 1.500.
“Essa proposta é inconcebível, absurda. Os banqueiros parecem estar brincando com os trabalhadores. Simplificaram a proposta, como os bancários querem, mas rebaixaram totalmente os valores, de forma a pagar menos que no ano passado”, diz Marcolino. “Ou seja, é uma simplificação em que todo mundo perde”.
No ano passado, os bancários receberam 90% do salário mais R$ 966 limitado a 15% do lucro líquido. Na média, isso deu em torno de 1,8 a 1,4 salário. O teto, com a proposta dos banqueiros, sai dos atuais 15% para 4% do lucro. O bancário podia receber até 2,2 salários.
Além disso, a Fenaban propõe uma parcela linear de até R$ 1.500, quando em 2008 os bancários podiam receber até R$ 1.980. E ainda pioram, já que no formato atual esse valor não é descontado dos programas próprios de renda variável.
Os bancários reivindicam PLR de três salários mais R$ 3.850 para cada trabalhador.
Pisos sem valorização
A proposta da Fenaban não prevê valorização dos pisos. Mantêm o mesmo reajuste de 4,5% sugerido para os salários. Para os banqueiros, os pisos já foram suficientemente valorizados em outros anos e por isso não apresentaram sequer uma proposta para essa reivindicação.
Os bancários reivindicam elevaçãos dos pisos para:
– Portaria: R$ 1.432.
– Escriturário: R$ 2.047 (salário mínimo do Dieese).
– Caixa: R$ 2.763,45.
– Primeiro comissionado: R$ 3.477,00.
– Primeiro gerente: R$ 4.605,73.
Sem emprego e sem melhora nas condições de trabalho
“No momento em que vários setores da economia estão fechando acordos com aumento real de salário, é inaceitável que os bancos, os que mais lucraram no primeiro semestre, ofereçam apenas a reposição da inflação e uma PLR que é menor do que os bancários receberam no ano passado”, afirma Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT e coordenador do Comando Nacional.
“Além disso, os bancários deixaram claro à Fenaban que um acordo este ano passa por garantias de emprego, valorização dos pisos salariais e implementação de políticas que melhorem as condições de trabalho e de saúde, o que inclui o combate ao assédio moral e o fim das metas abusivas.”
Greve a partir do dia 24
O Comando Nacional dos Bancários já recusou na mesa de negociação a proposta insuficiente da Fenaban e enviará documento à Fenaban fundamentando todos os problemas contidos na proposta apresentada aos trabalhadores.
Os dirigentes sindicais solicitarão ainda que seja marcada nova negociação até quarta-feira, dia 23, para que os representantes das instituições financeiras apresentem nova proposta contemplando as reivindicações da categoria.
Também no dia 23 os sindicatos de todo o país realizarão assembléias para deflagrar greve por tempo indeterminado em todos os bancos, a partir do dia 24, caso as reivindicações não sejam atendidas.