“Prevenção é o melhor remédio”, diz médico sobre LER/Dort em Brasília

Márcio Moreira Salles proferiu palestra aos bancários na sede do Sindicato

“Prevenção não faz parte da cultura do brasileiro. Ele se preocupa apenas com procedimentos curativos”. Esse foi o foco da palestra “LER/Dort: Prevenir é a melhor solução”, realizada pelo médico Márcio Moreira Salles, especializado em Medicina do Trabalho pela Fundacentro e mestre em Psicologia Social e do Trabalho pela Universidade de Brasília (UnB), na última quinta-feira (26), na sede do Sindicato dos Bancários de Brasília.

O evento teve como objetivo lembrar o Dia Internacional de Combate às LER/Dort (Lesões por Esforços Repetitivos e Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho), celebrado no sábado, 28 de fevereiro.

Segundo Salles, para que o quadro crescente de lesionados diminua, é necessário que empresas e sindicatos orientem os novos trabalhadores sobre como se prevenir contra os distúrbios do trabalho e sobre quais são seus direitos. “Esse trabalho deve ser iniciado logo que o bancário entra na empresa”, destacou.

“Nossa legislação é riquíssima. Discute detalhes sobre o uso dos equipamentos de trabalho, mas existe um abismo assustador entre o direito e a justiça”, completou.

Mas se não houve prevenção, o jeito é procurar um tratamento adequado que, segundo o médico, irá determinar a causa dos sintomas para que se escolha o tratamento mais adequado. Salles ressalta que na fase aguda o tratamento é feito por meio de anti-inflamatórios e repouso das regiões comprometidas. Na fase crônica, o tratamento a ser indicado vai depender de cada caso. Por isso, a necessidade de se procurar um médico especialista no assunto.

Sobre as recomendações para evitar adquirir as lesões, o médico orienta mudar os hábitos posturais. Entre as dicas, estão: procurar manter as costas eretas, apoiadas num encosto confortável; a cada hora, fazer pausas e alongamentos e zelar pela qualidade do sono, para que ele seja tranquilo e reparador. Além dos cuidados individuais, é necessário manter um ambiente de qualidade, primando pela luminosidade adequada, temperatura moderada, e ausência de ruídos.

O presidente do Sindicato, Eduardo Araújo, disse que a entidade vai procurar usar as informações trazidas na palestra para orientar a categoria a se prevenir melhor. “Temos vários colegas bancários que sofrem bastante com esse distúrbio, mas não procuram ajuda. O nosso desafio está lançado: fazer um trabalho de abordagem sistemática e contundente para sensibilizar as pessoas que elas não estão imunes a este processo no futuro”, afirmou Araújo. Uma das ações é lançar uma cartilha e criar um canal de comunicação para responder as dúvidas dos bancários com relação à prevenção e reabilitação.

“Aprendi muito com esta palestra, que foi muito didática e explicativa. Uma pena que esse auditório não esteja lotado de bancários, pois esse problema atinge os colegas há tempos”, destacou a secretária-geral do Sindicato, Cida Sousa. Ela disse que, devido à seriedade do tema, irá levar o assunto para as mesas de negociação do BRB. “Vamos nos empenhar para incluir o tema nas discussões do Acordo Coletivo da categoria e combater esse absurdo”, acrescentou.

Já o secretário de Saúde e Condições de Trabalho do Sindicato, Wadson Boaventura, afirmou que a Assessoria de Saúde vai se empenhar no trabalho de convencimento dos bancários com relação às ações preventivas no combate às LER/Dort. “Temos que massificar as informações de prevenção junto à categoria que tem adoecido por conta da intensificação do trabalho e da redução do quadro no seguimento bancário”.

Para o diretor eleito de Saúde e Rede de Atendimento da Cassi, William Mendes, que é secretário de Formação da Contraf-CUT, há uma subnotificação dos dados relativos à saúde do bancário. “Muitos comissionados, pelo medo de perderem parte do salário, não expõem claramente os problemas de saúde. Nosso desejo é que as pessoas usem o exame periódico de saúde para relatar seus casos. Isso nos ajudará a identificar o trabalhador adoecido e realizar um trabalho melhor de recuperação desse trabalhador”.

Mais sobre LER/Dort

As LER/Dort não são propriamente uma doença, mas uma síndrome constituída por um grupo de doenças, entre outras: tendinite, tenossinovite, miosite, bursite, epicondilite, síndrome do túnel do carpo, síndrome cervicobraquial, síndrome do desfiladeiro torácico. Em outros países tem outras denominações: CTD (Cumulative Trauma Disorders) e RSI (Repetitive Strain Injury).

O distúrbio afeta músculos, nervos e tendões, provocando dor e inflamação e sobrecarrega do sistema musculoesquelético. São quatro os fatores que ocasionam os processos inflamatórios: movimentos repetitivos continuadamente, posturas inadequadas, estresse e a ausência de pausas no tempo excessivo de trabalho.

Entre os profissionais expostos ao risco, estão os que trabalham com computadores, em linhas de montagem e de produção. Pela constituição física e pela jornada de trabalho dupla ou tripa, as mulheres são mais lesionadas que os homens, por isso a necessidade do descanso obrigatório para elas

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