Presidente do Bradesco diz que seguro é eixo de negócio

O Estado de São Paulo
Cleide Silva e Leandro Modé

No início da semana, Itaú Unibanco e Porto Seguro surpreenderam o mercado ao anunciar uma parceria nas áreas de seguros residenciais e de automóveis. Pelo acordo, o maior banco privado do País cedeu à Porto sua carteira nos dois segmentos. Em troca, ficou com 30% das ações da companhia. Com participação de 40%, a seguradora manteve o controle do negócio. A surpresa se explica pelo fato de que a Porto Seguro conversou durante meses com o Bradesco para tentar um acerto semelhante. Muitos interpretaram a operação como um golpe certeiro do Itaú no arquirrival. Jayme Garfinkel, presidente da Porto Seguro, chegou a dizer que o Itaú foi “mais democrático” do que o concorrente.

Até ontem, o Bradesco mantinha-se calado. Mas seu presidente, Luiz Carlos Trabuco Cappi, decidiu romper o silêncio. “Para nós, não bastaria ter uma participação societária. O seguro (no Bradesco) é eixo de negócio”, disse ao Estado. Mesmo com a parceria Itaú Unibanco-Porto Seguro, o Bradesco manteve a liderança do ranking geral de seguros. Em carros, continuou em segundo lugar, mas mais distante da Porto Seguro, que já liderava a área.

AUTORITÁRIO

“Os comentários são normais numa negociação como esta. Mas temos uma visão em relação ao negócio de seguros. Para nós, não bastaria ter uma participação societária. O seguro é core business, é eixo de negócio. Se colocou muito a questão de liderança, de fatia de mercado, outros até usaram a palavra autoritário, dizendo que, por isso, não fizemos o negócio. O modelo de negócios que se discutia, e que foi feito com o outro banco, não satisfazia nossa estratégia empresarial.”

NEGOCIAÇÃO

“Quando ele (Jayme Garfinkel) nos procurou, buscava um balcão bancário para aumentar a escala da sua empresa. Faz todo sentido, pois é um negócio muito bom. Só que esse negócio que se fez no concorrente não nos interessava. Eles abriram mão, transferiram para a Porto Seguro o patrimônio, as reservas técnicas, os ativos e os passivos e o banco vai ganhar dinheiro vendendo seguros e participando do equity (ações) de 30% da operação. Nosso interesse seria uma gestão compartilhada. Eles queriam o controle, tinham outros parâmetros. Esse negócio não tem ganhadores nem perdedores. Tem estratégias distintas.”

GUERRA DO INTANGÍVEL

“Só falei agora porque, no início, pensei: esse assunto não me pertence, é deles. Mas é evidente que é bom falar alguma coisa para não ficar parecendo que o Bradesco jogou a toalha, foi derrotado. Tem uma guerra também do intangível. O Bradesco vai deixar de ser competitivo? Não. Nossa referência é de um dos exemplos mais bem-sucedidos no mundo.”

FUTURO

“O seguro é uma das indústrias que mais vão crescer no século 21 porque é um século de riscos. A saúde virou um risco, a longevidade virou um risco. Há uma perspectiva muito interessante e, por isso, acreditamos no negócio. Se olharmos a classificação do PIB dos países do mundo, o Brasil tem o oitavo ou nono PIB. No PIB de seguros do mundo, o Brasil é 19º. Nossa visão é que, daqui a dez anos, o Brasil deve ter nos seguros o mesmo posicionamento que tem no PIB.”

ESTRATÉGIA

“O Bradesco é uma moeda de duas faces. Uma são os serviços financeiros e a outra é o mundo da seguridade (seguros, previdência e capitalização). Desde 1984, o grupo segurador sempre foi administrado como seguradora, embora seja uma subsidiária integral.

Nossa vocação para sermos seguradores é definitiva. Nossa vocação não é só ser um banco extremamente popular, com uma franquia presente em 93% dos municípios, uma grande logística de distribuição de produtos financeiros. Paralelamente, temos um modelo de negócios.

Não queremos fazer dinheiro, fazer lucro vendendo seguro. Queremos bancar o risco. É lógico que vendemos seguro também pelos corretores. Queremos vender seguros, arrecadar prêmios, mas também participar do negócio que é bancar riscos de vida, sobrevivência, de incêndio, de colisão, os riscos que o mecanismo oferece.”

MULTILINHA

“Nosso posicionamento é o de ser um grupo segurador multilinha, de cobertura nacional. Não optamos por especializações, queremos ser uma seguradora multilinha. Seguramos pessoas, em todos os aspectos, e patrimônio. Diferentemente de outros bancos, dentro do Bradesco, o mundo do seguro e previdência representa mais de 30% dos resultados. O total de ativos do grupo consolidado é de R$ 76 bilhões.

Arrecadamos em prêmios no ano passado R$ 23,149 bilhões. Pagamos em indenizações (sinistros) R$ 16 bilhões. Temos 29 milhões de apólices e por volta de um quarto do mercado nacional.”

OUTRAS NEGOCIAÇÕES

“O Bradesco sempre está atento, mas tem capacidade de crescimento orgânico grande, tem estrutura capacitada, especializada. Temos escala para competir e isso é bom. Já tínhamos quando era Itaú e Unibanco sozinhos. Continuamos tendo.”

LIDERANÇA

“Nosso objetivo é ser um banco e uma seguradora com escala. O tamanho é importante, porque significa escala, mas a liderança não é um objetivo em si.”

JAYME GARFINKEL

“Temos um respeito muito grande pelo Jayme, pela Porto Seguro. Ele fez uma companhia muito importante no mercado de automóveis.”

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