O Globo anuncia que Lula demitirá presidente do BB por causa de juros altos

O Globo

RIO – O governo federal vem aumentando sua pressão para os bancos cortarem as taxas de juros, como forma de estimular a economia brasileira em meio à crise global. Desde o agravamento da turbulência financeira, em setembro do ano passado, o governo está centrando fogo na redução dos spreads bancários – a diferença entre o custo de captação dos bancos e o que eles cobram nos empréstimos a seus clientes. Insatisfeito com as altas taxas de juros cobradas pelo Banco do Brasil, o presidente Lula decidiu trocar o presidente da instituição, Antônio Francisco de Lima Neto, como informa Ancelmo Gois em sua coluna na edição desta quarta-feira do jornal O Globo.

Na edição de março último, a revista O Espelho Nacional, publicada pela Contraf-CUT, já havia denunciado a relutância da direção do Banco do Brasil em cumprir as diretrizes do governo. Leia a matéria Neoliberais do BB desobedecem governo e resistem em baixar spread

Em janeiro, irritado com as altas taxas de juros cobradas pelos bancos no país, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ordenou que a equipe econômica fizesse um estudo explicando o motivo de os spreads estarem tão elevados. Em reunião realizada naquele mesmo mês com os presidentes de Banco do Brasil (BB), Caixa Econômica Federal, BNDES, Banco do Nordeste (BNB) e Banco da Amazônia, Lula exigiu também que os bancos públicos assumissem a liderança no processo de redução dos spreads.

O presidente também quer que o setor privado reduza suas margens. O Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking mundial das taxas de juros reais (acima da inflação projetada para os próximos 12 meses): 6,5% ao ano. Em segundo lugar, está a Hungria, com 6,2%.

Vamos entrar numa nova fase. O presidente Lula está extremamente preocupado com os juros na ponta e determinou ao Banco do Brasil e à Caixa uma revisão das taxas que estão cobrando acima da Selic – afirmou a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, em dezembro.

Em evento realizado também em dezembro, em Brasília, Lula disse que não entendia o motivo de os juros se manterem elevados mesmo com ações de ajuda do governo.

Segundo dados do Banco Central, a taxa de juros média de empréstimos a pessoas físicas no país está hoje em 52,7% ao ano. Para empresas, a taxa média é de 30,8% ao ano. O spread médio no crédito para pessoa física fica em torno de 45% ao ano. E, de acordo com estudo feito pela Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), o spread mais adequado seria de cerca de 16% ao ano, em média, cinco pontos percentuais acima da taxa básica de juros (a Selic), hoje em 11,25% anuais.

Uma ideia em estudo no governo seria dar publicidade a um ranking mostrando quais bancos têm os maiores spreads. Segundo técnicos do Ministério da Fazenda, embora os consumidores já contem com a tabela do Procon para saber quem cobra mais, a divulgação do ranking seria uma pressão adicional. No Palácio do Planalto, a expectativa é que haja um constrangimento das instituições.

Outra proposta do governo é a criação de um cadastro de bons pagadores e a redução de tributos incidentes nas operações de crédito. Segundo o Banco Central (BC), o spread é composto por custo administrativo (13,5%), inadimplência (37,35%), compulsório (3,59%), tributos (8,09%), outros impostos (10,53%) e margem líquida dos bancos (26,93%). Nos dois últimos meses do ano passado, apesar da manutenção da taxa básica de juros, houve forte alta no spread devido à crise global.

Para estimular a economia, o BC começou a reduzir a taxa básica de juros em janeiro, de 13,75% ao ano para 12,75%, sob fortes críticas de que já deveria ter iniciado esse movimento antes. Em março, mais um corte significativo, para 11,25% . No mesmo dia, BB, Caixa e os bancos privados acompanharam e reduziram suas taxas. O BB baixou em 0,12 ponto percentual o juro mensal na linha empresarial de capital de giro – apenas acompanhando o ritmo de corte da Selic -, que, em março, passou a variar entre 5,11% e 7,69% . No cheque especial (pessoa física), o juro máximo caiu de 7,91% para 7,85% ao mês.

A Caixa Econômica Federal reduziu os juros em mais de dez modalidades de crédito. O cheque especial, por exemplo, passou de 6,89% para 6,83%. Na linha de capital de giro, a taxa mínima para pequenas e médias empresas caiu de 2,15% para 2,04%.

No setor privado, o Bradesco, por exemplo, baixou o juro mínimo do cheque especial de 4,78% para 4,70%, e o máximo, de 8,56% para 8,44%. As modalidades CDC e leasing de veículos também tiveram redução de juros. Para as empresas, a linha de capital de giro só recuou 0,02 ponto (1,98% a mínima e 5,02% a máxima). Itaú e Unibanco, que anunciaram fusão em novembro mas ainda operam em separado suas carteiras de crédito, anunciaram cortes de 0,12 ponto em cheque especial, crédito pessoal e capital de giro. O grupo Santander, que inclui o Real ABN Amro, só repassou o corte da Selic para o crédito à pessoa física. O cheque especial caiu de 9,70% para 9,57%, na taxa máxima, e o crédito consignado passou de 1,65% para 1,52%, na mínima.

Lima Neto

Antonio Francisco Lima Neto é funcionário de carreira do Banco do Brasil. Ele ingressou no BB como menor aprendiz, ocupou cargos em todas as esferas do Banco e assumiu a presidência, em caráter interino, por indicação de Rossano Maranhão, que deixou o cargo em novembro. A promessa de manter administrações técnicas no Banco do Brasil e Caixa durante o segundo mandato foi feita pelo próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ainda durante a campanha, em visita que fez ao BB.

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