Ana Tércia alertou para a preservação da saúde dos trabalhadores
As novas tecnologias devem beneficiar também os trabalhadores, os clientes e toda a sociedade – e não apenas os bancos. Devem contribuir para reduzir o ritmo e a quantidade de trabalho, preservando a saúde dos trabalhadores, ao contrário da forma como são usadas hoje para intensificar a produtividade e o lucro, às custas do aumento de adoecimentos na categoria bancária.
Essa foi, em síntese, a posição defendida por Ana Tércia Sanches, representante das entidades sindicais no seminário organizado pelo Comando Nacional dos Bancários, coordenado pela Contraf-CUT, e pela Febraban que debateu nesta quinta-feira 17 as novas tecnologias e o impacto no emprego e no atendimento bancário. O seminário, realizado no Hotel Intercontinental, em São Paulo, foi um dos compromissos assumidos pelos bancos durante as negociações da Campanha Nacional 2013.
Além de Ana Tércia, diretora do Sindicato dos Bancários de São Paulo e pesquisadora do Centro de Pesquisas 28 de Agosto, participou por indicação da Febraban Gustavo José Costa Roxo da Fonseca, sócio da McKinsey&Company, que fez um histórico sobre as mudanças tecnológicas no setor financeiro nas últimas décadas, especialmente a implantação dos meios eletrônicos de pagamento, que permitiram que as transações financeiras no Brasil saltassem de 23 bilhões em 2009 para 50 bilhões no ano passado, um crescimento de 270% em cinco anos.
Bancários e clientes perdem
“Mas os benefícios das inovações tecnológicas bancárias são apropriados de forma igual entre clientes, trabalhadores e bancos? Essa é a questão central”, questionou Ana Tércia, que é mestre em Ciências Sociais pela PUC SP, especialista em Economia do Trabalho e Sindicalismo pela Unicamp e doutoranda em Sociologia pela USP.
Com as novas tecnologias os bancos, segundo a pesquisadora, multiplicaram a produtividade, reduziram custos e ampliaram seus lucros.
Os clientes passaram a realizar as operações antes feitas pelos bancários; assumiram custos com internet, hardware, software, energia, impressão; continuam pagando tarifas e custos do crédito elevados; são expostos a novos riscos operacionais (fraudes eletrônicas, vírus etc.); e estão perdendo o direito de fazer a opção por atendimento presencial nas agências.
“Para os bancários, as inovações tecnológicas intensificaram ritmo de trabalho, que passou a ser determinado pela tecnologia, são utilizadas para impor maior controle e pressão no ambiente de trabalho, o que vem provocando um aumento dos problemas de saúde, inclusive psíquicos. Dados do Ministério do Trabalho mostram que pela primeira vez os transtornos mentais superaram os casos de LER/Dort na categoria”, disse Ana Tércia.
Reduzir os impactos negativos
A pesquisadora concluiu a palestra apresentando uma série de propostas para minimizar os impactos sociais das novas tecnologias para clientes e trabalhadores, entre as quais destacou:
> Diálogo com os representantes dos trabalhadores para garantir que os processos de automação não provoquem desemprego.
> Quando a tecnologia extinguir alguma função, os trabalhadores devem ser reaproveitados em outras áreas e receberem treinamento específico.
> Respeito à jornada de trabalho, horário de almoço e períodos de descanso.
> Criar programas de prevenção às doenças ocupacionais.
> Novos cargos e funções devem ser executados por bancários para manter qualidade de atendimento, sigilo de dados dos clientes e respeito aos trabalhadores.
> Manter atendimento presencial com qualidade para a parcela da população que fizer essa opção.
> Reduzir valor das tarifas e juros.
Ao final das palestras, houve um debate mediado pelo professor José Pastore, da USP.