Negra, mulher e deficiente visual relata preconceito que sofreu no banco

Não precisou mais do que três meses de trabalho para que a bancária B. sentisse todo preconceito que existe dentro do banco. Negra, mulher e deficiente visual, ela reúne todos os perfis que sofrem discriminação nas instituições financeiras, de acordo com o Mapa da Diversidade, divulgado pelos bancos na semana passada.

B. foi contratada por uma instituição financeira dentro da cota para deficientes exigida pela lei. Logo nos primeiros dias de trabalho, ela sentia os olhares atravessados e a cara fechada das pessoas, principalmente no elevador. Uma gestora que trabalha no seu departamento nem a cumprimentava, mesmo após os insistentes “olás” de B. Daí para as piadinhas racistas foi um passo.

“Até o dia que me irritei e cobrei o fim das piadinhas de negro. Exigi respeito e, a partir do momento em que as pessoas me viram andando com o pessoal do Sindicato, as piadinhas pararam”, conta.

B. é a única negra no seu departamento. Segundo o Mapa da Diversidade, o número de bancários negros representa menos que 3% da categoria. “O número de negros é extremamente baixo e talvez isso reforce o preconceito.

Entre ser mulher, negra e deficiente, sinto que sou mais discriminada nos bancos pela cor da minha pele”, diz B., ressaltando que o apoio que recebe do seu gestor é fundamental para minimizar a discriminação na empresa. “Meu gestor luta muito por mim. Se fosse outra pessoa, não sei como seria minha situação. Se a outra gestora do meu departamento que nem me cumprimenta, por exemplo, coordenasse a minha equipe, o preconceito poderia ser pior”, comenta.

Pesquisa incompleta

Divulgado com um ano e três meses de atraso, o Mapa da Diversidade é uma pesquisa incompleta porque os bancos se recusaram a abordar a situação dos gays no questionário. Apesar da negativa, ser homo ou bissexual e bancário não é fácil. O preconceito e a dificuldade de fazer carreira é tão grande ou maior que as vividas pelas mulheres e pelos negros.

O bancário Maikon Nunes Azzi, do Unibanco, diz que o homossexual assumido tem dificuldades para crescer na carreira e fica limitado. Discreto, ele conta que ainda conseguiu algumas promoções, mas que essa não é a realidade. “Eu nunca vi um homossexual mais afetado ser gestor. O banco também não coloca esse bancário para trabalhar numa agência ou atender o público”, explica Maikon, ressaltando que o preconceito é do banco e não dos colegas.

Para ele, o fato de a Fenaban não ter incluído a questão dos gays no Mapa da Diversidade já é uma forma de preconceito. “Se os bancos não têm problemas com isso, por que não abordar a situação dos gays na pesquisa?”, questiona.

Protesto

Os bancários realizam, nesta terça-feira, 14 de julho, Dia Nacional de Luta pela igualdade de oportunidades nos bancos. O objetivo é denunciar toda essa discriminação e esquentar a mobilização para o tema que deverá ser uma das principais reivindicações da Campanha Nacional 2009.

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