O recente processo eleitoral trouxe novidades para os bancários da base do Sindicato de Pernambuco na questão da igualdade de gênero. A nova presidenta Jaqueline Mello é a primeira mulher a ocupar o cargo, e assume encabeçando uma chapa cuja diretoria executiva é formada por quase 50% de mulheres. Eles somam sete num total de 15 integrantes.
“Não foi a Jaqueline que chegou à presidência do Sindicato, foram todas as mulheres bancarias que chegaram”, comemora a presidenta. “A forte presença de mulheres na chapa não é por acaso, mas se deve à luta de várias mulheres que criaram condições para que isso acontecesse”, afirma.
Ela ressalta que foram os bancários pernambucanos que trouxeram para a antiga Confederação Nacional dos Bancários (CNB-CUT) a preocupação com a igualdade de gênero. Foi o primeiro sindicato a criar uma Secretaria da Mulher entre os bancários em todo o país e o primeiro de todo o movimento sindical de Pernambuco. A secretaria foi criada na segunda gestão cutista à frente da entidade, iniciada em 1991. Suzineide Medeiros, que hoje ocupa a secretaria de Finanças do sindicato, foi uma das pioneiras no debate, tendo inclusive defendido tese de mestrado em sociologia sobre gênero e sindicalismo.
“Tem muita participação das mulheres no Sindicato, especialmente na Caixa Econômica Federal”, diz Daniella Almeida, a nova secretária de Bancos Federais do Sindicato e empregada da Caixa – que também é o banco de Jaqueline. “Certa vez, durante a definição da delegação para um Conecef (Congresso Nacional dos Empregados da Caixa), tivemos que cortar o número de mulheres para cumprir cota de gênero”, relembra.
Assunto de Mulher
A presença feminina se tornou um dos diferenciais da chapa durante a acirrada eleição, em que quatro chapas se confrontaram no primeiro turno. “Não foi determinante, mas foi importante o fato de ter uma candidata à presidência, bem como a executiva ter representação feminina grande, o que foi muito bem recebido na base da categoria. Chamavam de ‘chapa das meninas'”, lembra Daniella.
“Tivemos o cuidado de não folclorizar o tema e nem tivemos isso como prioridade, mas acabou sendo um diferencial. Nossa prioridade foi trazer uma discussão nova, uma renovação não só de pessoas, mas de métodos, idéias. O que prevaleceu foi a confiança da categoria de que a iremos implementar mudanças que os bancários entendem como prioritárias”, diz Jaqueline.
As dirigentes consideram essa presença feminina fruto de políticas específicas adotadas pela entidade, lideradas pela Secretaria da Mulher. São comuns atividades e materiais específicos em datas como o Dia Internacional da Mulher e o Dia das Mães. Jaqueline se lembra que temas diversos, dos mais diretamente políticos, como “Feministas, por que não?”, até temas diferentes como “Astrologia e Universo Feminino”, já foram abordados em encontros no 8 de março. “Procuramos tratar temas mais próximos das mulheres, fazer materiais com cores mais femininas”, conta Daniella. O jornal da entidade também mantém uma coluna chamada “Assunto de Mulher”.
Campanhas específicas de sindicalização também são feitas, mostrando que a mulher sofre mais com problemas como assédio moral e sexual. “É um trabalho que vem sendo feito e que tem dado resultado. A renovação no sindicato tem sido muita feminina. Muitas vezes as vítimas de assédio que aparecem no Sindicato querem colocar a boca no trombone”, conta Daniella.
Ocupar espaço político
A gestão de Jaqueline pretende intensificar o trabalho do Sindicato na questão de gênero. “Temos que levar o debate mais até a base, envolver um maior número de mulheres nessa discussão, criar condições para que as mulheres assumam cada vez mais cargos de decisão, e valorizar a importância da cota nas diretorias”, diz a presidenta.
Nesse sentido, ações na área de formação serão importantes. “É preciso que homens e mulheres façam essa discussão. O debate começa com as mulheres, mas não pode ser feito só por elas”, diz. “Vamos sistematizar a ação da Secretaria da Mulher e envolver as demais pastas”, completa.
Uma das ações que serão retomadas é a criação de creches nos eventos do movimento sindical. “É uma questão que faz com que muitas mulheres deixem de ocupar espaço político. Eu deixei minha bebê de nove meses em casa e estou de coração partido”, conta Daniella, que esteve em São Paulo na semana passada participando de eventos, como o encontro nacional dos dirigentes sindicais da Caixa. “Isso é da cultura. A mulher se sente meio culpada de deixar esse papel que foi atribuído a ela de mãe, de esposa, e assumir um espaço que era até há pouco tempo atrás visto como masculino”, relata.
Jaqueline, mãe de quatro filhos, concorda e se lembra que antes havia creche nos eventos. “Precisamos retomar. Não sei por que paramos”, disse. Daniella responde: “É porque os filhos de vocês cresceram. Mas com achegada do pessoal mais jovem, precisa fazer de novo”, brinca.
A Contraf-CUT deseja um excelente mandato para Jaqueline, Daniella e as demais mulheres que integram a nova direção do Sindicato e espera que esse exemplo inspire outras mulheres a também assumirem o seu espaço no movimento sindical. Com a luta, a garra e a sensibilidade feminina, as entidades ganharão e certamente novas conquistas virão para a classe trabalhadora e a sociedade.