Que ironia dos fatos. O recente e deplorável episódio envolvendo o Banco Santander jogou um pouco de luz nos subterrâneos do mercado financeiro, que já há um bom tempo vem chantageando a sociedade, os trabalhadores e o governo com suas análises e previsões catastróficas.
Num primeiro momento, quando o Copom começou a baixar a taxa Selic, em meados de 2011, o propósito era emparedar as autoridades monetárias para seguirem a agenda do dito mercado. Conseguiu parcialmente, forçando, por exemplo, a subida da taxa básica de juros de 7,25%, naquele momento, para os 11% atuais. Mais recentemente, o “mercado” acrescentou a esse objetivo o terrorismo explícito para influenciar os resultados das urnas em outubro.
Mas como acreditar que estamos a um passo do precipício, quando olhamos para os balanços dos próprios bancos, recém-saídos do forno? Somente as três maiores instituições financeiras privadas que operam no Brasil (Itaú, Bradesco e Santander) apresentaram lucro líquido de R$ 19,7 bilhões no primeiro semestre deste ano, um incremento de 30,9% em relação ao mesmo período de 2013.
Só para se ter uma ideia da dimensão disso, em 2001 o lucro líquido de todo o sistema financeiro foi de R$ 9,8 bilhões (valor deflacionado pelo INPC/IBGE). De lá até dezembro passado o lucro do segmento cresceu 476,76%. O Banco Itaú se transformou na terceira maior empresa de capital aberto da América Latina, segundo estudo recente da Economática, e o Bradesco a sétima.
A rentabilidade do sistema financeiro na Europa e nos EUA gira em torno de 9 a 10%. No Brasil, a rentabilidade do Bradesco foi de 20,7% no primeiro semestre deste ano. A do Itaú, 23,1%.
E como os bancos obtêm aqui esses lucros fantásticos? Cobrando as mais altas tarifas, taxas de juros e spreads do mundo. A expansão do crédito no Brasil fica praticamente a cargo dos bancos públicos.
Outra fonte de receita importante das instituições financeiras vem do Tesouro Nacional. Metade do orçamento da União hoje é gasta com pagamento dos juros e amortizações da dívida pública, da qual os bancos são detentores de 30%. Estima-se que a cada 1 ponto percentual de aumento na taxa Selic R$ 6 bilhões saem do Tesouro para os cofres desses rentistas a cada ano. Desde março de 2013, a Selic subiu 3,75 pontos percentuais. São R$ 22,5 bilhões – o equivalente a um Bolsa Família ao ano.
Apesar desses lucros estratosféricos, os bancos fecharam mais de 35 mil postos de trabalho desde 2011, na contramão do restante da economia brasileira, além de demitirem milhares de bancários fazendo rotatividade para baixar custos e ganhar ainda mais.
Então, todo esse terrorismo econômico para interferir no processo eleitoral feito pelos bancos, como o Santander, não apenas afronta a democracia, como também leva a sociedade a fazer o debate sobre o papel dos bancos e a se questionar: o que é bom para o sistema financeiro é bom para o Brasil?
Carlos Cordeiro
Presidente da Contraf-CUT