A gestão dos bancos, com foco nas metas abusivas por vendas e lucro, prejudica tanto trabalhadores quanto a sociedade. Com essa constatação, a presidenta do Sindicato dos Bancários de são Paulo, Juvandia Moreira, abriu o seminário Venda Responsável de Produtos Financeiros, na manhã desta quinta 15, Dia Mundial do Consumidor.
O evento marcou também o lançamento da campanha pela venda responsável de produtos financeiros, realizada em parceria com o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).
Sindicato e Idec editaram uma cartilha sobre o assunto que, ressaltou Juvandia, pretende não apenas esclarecer os correntistas sobre seus direitos, como também informar a população sobre a realidade de trabalho dos bancários, categoria adoecida por conta das metas inalcançáveis e do assédio moral institucional no setor financeiro.
A cartilha será distribuída nas agências bancárias e estará disponível na sede do Sindicato.
A coordenadora executiva do Idec, Lisa Gunn, que também participou da mesa de abertura, concorda que consumidores e clientes são as “duas faces de uma mesma moeda”.
“Se por um lado os trabalhadores sofrem com a pressão por metas, por outro os consumidores são lesados ao adquirirem produtos inadequados ao seu perfil ou desnecessários”, disse. Daí a importância, acrescentou Lisa Gunn, da parceria entre Sindicato e Idec para combater o problema. “Hoje estamos comemorando o Dia Mundial do Consumidor com o lançamento de campanha que é fruto dessa parceria.”
Luta por venda responsável tem de ser mundial
“Nosso adversário é poderoso e temos que unir esforços. Estou convencido de que a luta pela regulamentação do sistema financeiro tem de ser travada mundialmente e em conjunto por trabalhadores e clientes.” A afirmação é do diretor regional da Consumers International para a América Latina, Juan Trimboli.
Trimboli elogiou a iniciativa do Sindicato e Idec que firmaram parceria em campanha pela venda responsável. O movimento em defesa dos consumidores nasceu como um desdobramento do movimento dos trabalhadores, disse ele.
“A primeira organização de consumidores do mundo, em 1973, surgiu para dizer: ‘não compre produtos que usam mão de obra infantil nas fábricas dos Estados Unidos. Ou seja, já mostrava uma grande ligação entre consumidores e trabalhadores. Portanto, a relação entre os dois é estratégica.”
Trimboli também apresentou a campanha que a Consumers International realizou pela venda responsável na América Latina, intitulada Nosso dinheiro, nossos direitos. E disse que a situação é similar em todo o continente, onde os bancos têm a mesma estratégia de gestão.
Ele também associou a corrida por lucro dos bancos com a crise financeira mundial. “Se os direitos dos trabalhadores e dos consumidores fossem respeitados, isso resolveria uma série de problemas que estamos enfrentando. A crise econômica está afetando duramente a qualidade de vida de consumidores e trabalhadores, e o caminho está no respeito aos direitos de ambos”, afirmou Trimboli.
Para o diretor regional da UNI Finanças, André Luis Rodrigues, o problema deve ser enfrentado com estudos e pesquisas, articulação ampla e o convencimento da sociedade. “É preciso chegar aos consumidores. Mas também precisamos dialogar com diversos setores: parlamentares, magistrados etc.”
André Luis, que já foi diretor executivo do Sindicato, destacou que é importante responder à pergunta: quem ganha e quem perde com a regulamentação do sistema financeiro? “O setor farmacêutico, que lucra com o adoecimento dos trabalhadores, é provavelmente um dos que perdem com a venda responsável de produtos”, exemplificou, acrescentando que devem ser articuladas alianças com os setores que, assim como clientes e trabalhadores, ganham com a venda responsável.
O dirigente da UNI também citou o caso do executivo do banco Goldman Sachs que pediu demissão por conflitos éticos.