Enquanto a Selic subiu um ponto percentual desde abril, alcançando 12,25% ao ano, a taxa do crédito bancário já avançou 4% desde o início do ano. A justificativa para o aumento nos já elevados juros é a alta dos juros futuros e das expectativas com a inflação.
A informação está em matéria publicada pelo jornal Valor Econômico desta segunda-feira, dia 7. Segundo o texto, os banco aumentaram o spread nos empréstimos por conta dos riscos da crise internacional. O texto afirma ainda que os maiores atingidos foram os pequenos empresários, uma vez que “nas operações com empresas de um porte menor, as taxas em geral são prefixadas e os juros subiram 4,7 pontos”, sendo que os spreads em algumas linhas subiram mais de 7 pontos.
“Esses aumentos demonstram a falta de compromisso dos bancos com a sociedade brasileira. A única coisa que visam é o próprio lucro”, avalia Carlos Cordeiro, secretário geral da Contraf/CUT. “Nós temos o maior spread bancário do mundo e isso precisa mudar. Por isso defendemos a participação dos trabalhadores no Conselho Monetário Nacional, para que possamos cobrar das autoridades uma maior fiscalização sobre a atividade bancária”, sustenta.
Leia abaixo a íntegra da matéria do Valor Econômico:
Juro bancário sobe mais que a Selic
De São Paulo
Um dos freios para aceleração do crédito deverá ser a alta dos juros. A Selic já foi elevada em um ponto percentual desde abril, para 12,25% ao ano, e o Banco Central deverá continuar o processo de aperto nas próximas reuniões. A taxa do crédito bancário, no entanto, já avançou 4 pontos percentuais desde o início do ano, até maio, puxada pelos juros futuros e pelas expectativas com a inflação.
Isso acontece pela referência usada pelos bancos no mercado futuro. O piso do crédito privado é a taxa do swap de 360 dias (que troca a rentabilidade do DI por um juro prefixado). Esses contratos tiveram alta de 2,67 pontos percentuais no ano (até sexta-feira), para 14,72% ao ano. Nas linhas mais longas são usam taxas do contrato de DI futuro negociado na BM&F. O contrato para 2010 fechou a sexta-feira em 15,47% ao ano.
Além disso, as instituições elevaram os spreads (diferença entre o custo de captação e a taxa cobrada dos clientes), por conta da crise americana e do compulsório criado este ano para os depósitos das empresas de leasing.
As grandes e médias empresas sofrem menos. Até maio, o CDI (referência da maior parte dos contratos desse nicho) avançou 0,4 ponto percentual e os spreads subiram 1,7 ponto, puxando os juros para 20,2% ao ano. Nas operações com empresas de um porte menor, as taxas em geral são prefixadas e os juros subiram 4,7 pontos. Os spreads em algumas linhas subiu mais de 7 pontos.
Segundo Henrique Vianna, diretor do HSBC, o lado negativo, principalmente na questão dos juros, é a inflação. “O governo passa a mensagem de que vai controlar a inflação e por isso os juros estão subindo. Isso obviamente é um desincentivo a tomada de recursos”.
A tendência de alta se mantém, tanto pela expectativa de manutenção do aperto monetário por parte do BC, quanto de novos repasses de aumento de custos por parte dos bancos. “A alta dos juros ainda não é visível na ponta do credito porque não foi repassado”, afirma Altair Assumpção, diretor do Banco Real.
Há também uma incerteza com relação às novas altas da Selic. Alguns analistas já apontam mudança do ritmo de elevação para 0,75 ponto por reunião. “O spread ainda não mudou. A tesouraria fica monitorando. Por enquanto está dentro de uma normalidade. Mas se a alta for de 0,75 ponto, aí muda mesmo alguma coisa”. (FT)