Jornal Correio de Mato Grosso publica entrevista com presidente da Contraf-CUT

O jornal Correio do Mato Grosso publicou nesta terça-feira, 22, entrevista com Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT. O dirigente lamentou a falta de mecanismos de proteção ao emprego no Brasil, que facilita as demissões, cobrou a ratificação da Convenção 158 da OIT e falou a respeito da Campanha Nacional dos Bancários 2009. Veja a íntegra da entrevista:

Entrevista: É fácil demitir no Brasil

Presidente da Contraf-CUT questiona condições de trabalho no Brasil em lançamento de campanha salarial

Laís Costa Marques/Correio de Mato Grosso

O presidente da Confederação Nacional dos trabalhadores do ramo financeiro, Contraf, Carlos Alberto Cordeiro, esteve em Cuiabá para uma conversa com os trabalhadores no Sindicato dos Bancários de Mato Grosso. A palestra teve como pauta principal a Campanha Salarial de 2009 cujo tema é “Bancos Abusam. Cadê a responsabilidade social?” No cerne da questão está a cobranças de juros abusivos, a pressão em cima dos trabalhadores, a PRL (participação nos lucros e resultados) e o reajuste salarial.

Mas além de temas específicos da categoria, Carlos Alberto também aborda a crise e seu contexto no Brasil e no mundo, a super proteção aos bancários e o assédio moral, que atormenta a vida de muitos funcionários que são pressionados a alcançar metas conflitantes com a atual configuração econômica do país. Confira a seguir a opinião de quem está do outro lado da mesa, juntos aos trabalhadores.

Correinho – Qual a atual situação dos trabalhadores do sistema financeiro no Brasil?
Carlos Alberto Cordeiro – Este ano a campanha dos trabalhadores está dividida em três blocos. Nós estamos conversando com a Fenabran (Federação Brasileiras de Bancos) , em três rodadas de negociação. Na primeira semana faremos uma discussão sobre emprego. No Brasil, possuímos 160 bancos e desses 160 bancos, os seis maiores representam aproximadamente 80% a 90% de qualquer indicador do sistema financeiro. De cada dez agencias no país, nove pertencem à grandes banco. O volume de depósito gira em torno de 80%, é um sistema muito concentrado. Como estamos em processo de fusão, o Banco do Brasil comprou a Nossa Caixa, o Santander comprou o Real, o Itaú se juntou ao Unibanco e nós queremos a garantia do emprego. Porque, quando ocorrem estes processos de fusão, quem paga a conta são os trabalhadores.

Correinho – O que isso quer dizer?
Carlos Cordeiro – Nós fizemos uma pesquisa que aponta sobre o emprego bancário, a segunda realizada. O que chamou atenção em relação aos primeiros meses foi que, no ano passado, os bancos contrataram aproximadamente 13 mil bancários e demitiram dez mil. Então, ano passado tivemos um saldo positivo nos primeiros meses do ano. Neste ano isto se inverte. Os bancos demitem aproximadamente oito mil trabalhadores e contratam seis mil e setecentos, mil e trezentos postos de trabalhos foram perdidos. Não é algo sazonal, porque as pesquisas foram realizadas no mesmo período. Há outro detalhe, os bancário contratados ano passado tinham salários 34% menores que os que haviam sido demitidos. Este ano, eles possuem salários 54% menores. Isso poderia ser normal, porque o demitido tem mais tempo de trabalho, acumulou mais gratificações. Mas não é isso que ocorre, senão haveria uma média de 25% a 35%, mais menos, e não uma diferença de 20% de um ano para outro. Por isso a questão do emprego é tão importante. No Brasil tem uma facilidade muito grande de demissão. Em um encontro em Genebra, onde participam governos, trabalhadores e banqueiros e que o mais impressionou foi ver que os bancos brasileiros não estão em crise, o Brasil não está mais em crise. Foi o último a entrar e o primeiro a sair. As demissões no Brasil não foram por conta da crise.

Correinho – Quer dizer que por mais intervenções que o governo tenha feito, diminuindo as taxas de juros, injetando dinheiro. Isso não assegurou o trabalhador?
Carlos Cordeiro – Não, porque aqui não temos uma convenção 158 da OIT (Organização Internacional do Trabalho) que é contra a dispensa desmotivada. Na maioria dos países não se pode demitir sem motivos que justifiquem. Não tem essa: Você não produziu e por isso esta fora. Isso não pode ser feito, os trabalhadores têm garantia de empregos. É aí que se dá a discussão do emprego.

Correinho – Quais serão os temas dos demais blocos de discussão?
Carlos Cordeiro – O segundo bloco é sobre a questão da remuneração, que não estamos chamando de salário, porque remuneração para nós vai além. Tem uma prioridade nesta discussão que é Índice e PLR (participação nos lucros e resultados). Só para exemplificar, um funcionário que ganha X de salário e mais tickets, vales, participação nos lucros, quando é feita a média anual, ele teve uma média de 2X mensais, mas quando ele se aposenta ou é demitido, o calculo é feito em cima do salário, ou seja, X. Então vamos reivindicar a questão da remuneração, até porque não tem justificativa para não dar aumento. Os bancos estão tendo muito lucro para um contexto de crise e comparado aos outros setores. Inclusive, os lucros estão maiores que nos anos anteriores por utilizarem a Provisão de Devedores Duvidosos que aumenta as taxas devido às altas nos índices de inadimplência. Outro ponto deste bloco é pela valorização do piso da categoria hoje, que é R$ 1.013. é muito pouco para sistema como nosso e vamos exigir que seja o piso do Dieese, de R$2.047, que é um piso calculado para que uma família viva com dignidade básica. E o terceiro bloco, que é o bloco da saúde. Os trabalhadores estão adoecendo, é uma das categorias que mais adoece segundo dados do INSS. São trabalhadores que vivem sob pressão, são metas que precisam ser atingidas, tem que vender produtos, horários fora do trabalho tem que ser utilizados para vender e assim atingir o esperado para o mês. Nós queremos ter qualidade de trabalho. Não teremos este ano uma campanha meramente economicista.

Correinho – O setor bancário é um com mais reclamações de assédio moral. Como a campanha e a Confederação pretendem reverter isso?
Carlos Cordeiro – Incentivando a denúncia. É preciso que haja canais de denúncia entre a Contraf e a Fenabran, para quando a Contraf fizer a denúncia tenha uma apuração conjunta dos fatos. Não pode ficar simplesmente nas mãos dos bancos. Os Sindicatos também precisam destes canais e de fazer o acompanhamento da denúncia, doa andamento e das soluções dadas. Os bancos até criam seus locais para denúncia, mas não convocam sindicatos para acompanharem. O fator principal é criar estes canais de denúncia e cobrar agilidade dos bancos na apuração.

Correinho – Em Cuiabá, recentemente a ex-funcionária de um banco acusou a instituição de incentivar e até exigir que elas se insinuassem para os clientes, com roupas vulgares e saindo para ‘happy hours’. A Contraf tem conhecimento se isso é comum?
Carlos Cordeiro – Estes são os absurdos que acontecem. É preciso conscientizar os funcionários que não precisam agüentar este tipo de pressão, que podem recorrer ao Sindicato que está preparado para amparar. Infelizmente, alguns tipos de assédio as mulheres sofrem mais. Mas em São Paulo, a Taí (antiga financeira do Itaí) reuniu os funcionários em frente ao Teatro Municipal, gritando: Nós vamos vender! Vamos ficar em primeiro! O bancário passa a ter vários constrangimentos. Queremos acabar com essas práticas de assédio moral ou como também chamamos, violência organizacional, que faz parte da estrutura de gestão da empresa.

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