Valor Econômico
Adriana Cotias e Carolina Mandl
Os grandes bancos de varejo estão avançando no mercado de crédito consignado, aquele com desconto das parcelas em folha de pagamento, e tomando mercado que antes era ocupado por instituições menores. O espaço foi aberto com a retração dos bancos de pequeno e médio porte a partir de medida do Banco Central, em dezembro, que exigiu mais capital das instituições que operam no segmento. As operações com desconto em folha de Itaú, Bradesco e Santander no primeiro trimestre cresceram acima da média do mercado.
Enquanto os dados do BC apontaram crescimento das operações de consignado de 3,3% no primeiro trimestre e de 23,6% em 12 meses, a fotografia dos grandes bancos mostra ritmo mais intenso. O Bradesco avançou 7,4% em relação a dezembro e 40,3% na comparação com março do ano passado, levando seu estoque a R$ 16,1 bilhões, em boa medida por conta da compra de carteiras. O Santander teve expansão de 6,3% no trimestre e de 25% em 12 meses, a R$ 10,2 bilhões. Já o Itaú avançou 8,2% de dezembro até março e 28,2% em 12 meses, indo a R$ 6,9 bilhões, só contando operações próprias.
“Estamos aproveitando algumas lacunas de mercado que se abriram no ambiente competitivo. Temos espaço no balanço para isso”, diz Marcelo Linardi, superintendente de crédito consignado do Santander. A instituição tem um índice de Basileia, que mede a capacidade de emprestar (alavancagem), de 22,7%, enquanto o mínimo exigido pelo BC é de 11%.
Dentro do chamado pacote de medidas macroprudenciais, o BC duplicou o capital mínimo necessário para os bancos emprestarem recursos às pessoas físicas em prazos superiores a 24 meses. No consignado, isso passou a valer para operações acima de 36 meses. “Podemos oferecer aos clientes prazos mais longos, algo que nem todos podem”, diz Linardi.
A capacidade dos bancos de menor porte de gerar operações de crédito consignado vinha da venda de carteiras para as grandes instituições. Com isso, renovavam o fôlego para continuar emprestando às pessoas com desconto direto na folha de pagamento. Porém, depois dos problemas com o PanAmericano, as instituições maiores reduziram as compras de carteira e passaram a focar mais na originação própria de empréstimos. Essa não é uma das modalidades prediletas de crédito para os grandes bancos, já que constantemente sofre alguma forma de interferência governamental.
“Estamos recuperando nossa posição nesse mercado”, comenta o diretor corporativo de controladoria do Itaú Unibanco, Rogério Calderon. Ele explica que, por conta da participação relativamente menor do banco nesse segmento, nem a originação foi afetada pelas medidas de aperto ao crédito. Já na carteira de veículos, área em que a instituição é líder, os desembolsos no trimestre caíram 30% quando comparados ao período entre outubro e dezembro, e, 15% sobre o primeiro trimestre de 2010, somando R$ 6,2 bilhões.
“Enquanto os bancos de pequeno e médio portes perderam fôlego com as medidas do BC, as grandes instituições estão com folga no balanço para emprestar”, diz João Augusto Salles, economista da Lopes Filho.
O Itaú botou o pé no freio na compra de carteiras de consignado de outros bancos – recuo de 12,4% no trimestre – e, segundo Calderon, aguarda o início dos registros desses contratos na Central de Cessão de Crédito (C3) para voltar a adquirir ativos gerados por terceiros mais intensamente.
Já o Bradesco manteve a política de comprar créditos de outros bancos, estratégia que tem lhe proporcionado atalhos para crescer num segmento que contribui para manter a inadimplência do portfólio de pessoa física sob controle. Em 12 meses, os créditos de consignado adquiridos aumentaram 82,7%, indo a R$ 6,5 bilhões (avanço de 8,8% no trimestre). “Reduzimos o prazo das operações adquiridas, mas seguimos bastante efetivos”, disse o vice-presidente, Domingos de Abreu, na teleconferência de resultados.
Os bancos de grande porte não negam que o crescimento da carteira de consignado também tem um objetivo claro, principalmente em tempos de alta da taxa de juros: conter a inadimplência. “Estamos buscando crescimento nas carteiras de menor inadimplência. É uma estratégia.
Para isso, estamos atrás dos funcionários das empresas que são nossas clientes”, diz Linardi, do Santander. “Esse é um produto importante para um banco que quer ganhar espaço no mercado. Hoje, a população já está mais consciente sobre os tipos de crédito e quando devem ser usados. Pelos custos mais baixos, o consignado tem sido bastante buscado.”
Outro terreno que os bancos de grande porte têm invadido é o de crédito para pequenas e médias empresas, acrescenta Salles. A carteira do Santander, por exemplo, cresceu 27,7% em relação a março do ano passado. Ante o saldo de dezembro, a alta foi de 2,6%, indo a R$ 39,2 bilhões. O crescimento não deve parar por aí. Durante a teleconferência com analistas, o presidente do banco, Marcial Portela, informou que está finalizando uma plataforma (tecnológica) para facilitar a concessão de crédito a esse tipo de companhia.
O Itaú também tem mostrado apetite nessa área e a carteira de pessoa jurídica cresce em ritmo maior do que a de pessoa física: o estoque avançou 28,8% na comparação anual e 3,5% no trimestre, chegando a R$ 86 bilhões. Já o Bradesco tem imposto, neste ano, velocidade maior na faixa de grandes empresas (avanço de 5,3% no trimestre), embora, em 12 meses, micro, pequenas e médias apresentem expansão mais consistente (19%), com ativos de R$ 87,7 bilhões.