A resistência das empresas em conceder reajustes acima da inflação pode detonar uma forte onda de greves. O segundo semestre é marcado por pressões historicamente conhecidas e por negociações salariais tensas. Só nos últimos seis meses, são 253 negociações de 76 categorias, a maior parte delas do setor industrial.
Na análise do coordenador de relações sindicais do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), José Silvestre, a situação da economia brasileira pode dificultar os acordos e provocar recuo nos ganhos reais neste ano, em comparação a 2012.
Levantamento do Dieese aponta que, das 696 negociações do ano passado, 98% resultaram em algum aumento dos pisos salariais, a maioria acima do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). O ganho real médio registrado foi de 5,62%. “O atual cenário econômico dificulta, sobretudo por causa do aumento da inflação e dos juros e da piora na expectativa de crescimento do país”, disse.
Silvestre, no entanto, não acredita que vá haver queda significativa nos ganhos. “Na média dos resultados dos acordos no ano deverá haver recuo, mas nada muito abaixo do padrão”, afirmou. Enquanto as categorias querem ganhos reais mínimos de 5%, além de ampliação de direitos trabalhistas, até agora, em grande parte dos dissídios coletivos, a oferta máxima dos patrões não chega a 2% e, em alguns casos, os trabalhadores que se colocam à frente dos movimentos são punidos com demissão.
A insatisfação cresce
Petroleiros da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), no Paraná, farão greve de 24 horas, hoje. Eles vão protocolar denúncia no Ministério Público do Trabalho sobre o déficit de pessoal e os riscos que isso representa. Os empregados da Petrobras na Bacia de Campos – que concentra 80% da produção nacional – param por 24 horas nesta sexta-feira, data em que será divulgado o balanço da companhia. A categoria reivindica que a estatal retome o pagamento do descanso remunerado, com o mesmo valor de um dia trabalhado. O benefício foi cortado em julho.
Os funcionários da Eletrobras retornaram à greve, ontem, após discordarem da contraproposta da estatal, durante a audiência de conciliação no Tribunal Superior do Trabalho (TST), na quinta-feira. Eles não abrem mão de reposição inflacionária, de 6,49%, acrescida de ganho real de 1%. Os peritos federais agrários do Incra cruzam os braços por três dias (de hoje a sexta-feira), como forma de pressão sobre o governo federal, que não aceita conceder mais que os 15,8%, acordados em 2012. A categoria se reuniu com o Ministério do Planejamento por três vezes, mas não houve avanços. Já é a quarta paralisação desses profissionais neste ano, que querem isonomia com o salário de seus colegas do Ministério da Agricultura.
Retaliação na área da saúde
Algumas categorias, no entanto, enfrentaram retaliação. Sob a alegação de enxugar a máquina, a Unimed demitiu em Brasília, no fim de semana, cerca de 50% dos funcionários que estavam em greve desde o dia 1º. Segundo o SindiSaúde, que representa a categoria, mesmo assim, o movimento continua, já que nenhuma das reivindicações foi acatada. Os trabalhadores farão assembleia amanhã para decidir sobre “encaminhamentos jurídicos das demissões”. Também o frigorífico JBS, da Friboi, demitiu de uma só vez 60 pessoas, nove dias após a greve de dois dias contra a mudança de horário, condições de trabalho e reposição salarial. Indignados, os trabalhadores prometem nova paralisação.
Bancários
Os bancários também reclamam de várias instituições financeiras. Contraf-CUT, federações e sindicatos representantes da categoria repudiaram o corte de 3.216 empregos nos últimos 12 meses (no Santander), sendo 2.290 no primeiro semestre deste ano.
E a Federação dos Trabalhadores em Transportes Aéreos (Fentac) discute, hoje, com o ministro do Trabalho, Manoel Dias, um plano de licenças não remuneradas para cortar 811 pilotos e comissários.
Metalúrgicos de Minas
Reajuste salarial de 13%, piso de R$ 1.698, abono de um salário nominal e redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais, sem redução de salários, são as principais reivindicações dos metalúrgicos de Minas Gerais. A campanha da categoria foi aberta em 31 de julho pelas federações dos metalúrgicos FIT Metal, ligada à Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Estadual dos Metalúrgicos (FEM), da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a Femetal, ligada à Força Sindical. As três instituições representam cerca de 250 mil trabalhadores no estado, com data-base em 1º de outubro.