“Tiveram a cara de pau de ligar para minha mãe e dizer que se eu não fosse, não precisava ir mais”. As palavras são de um trabalhador ameaçado por seus chefes para furar a greve nos bancos.
O fato não é isolado. O Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região recebeu muitas denúncias desse tipo via e-mail e por telefone. “É fácil falar de responsabilidade social nas propagandas. O difícil é exercer. Essas horas, os banqueiros mostram o que realmente são: gananciosos”, diz Ivone Maria, diretora do Sindicato.
A dirigente destaca as centenas mensagens enviadas pelos bancários que superam o medo e se arriscam movidos pela indignação para ajudar o Sindicato no combate contra os banqueiros.
“Os gestores estão orientando os funcionários a chegar às 5 horas da manhã ou ir para o CTO como contingência! Um absurdo!”; “O Banco Safra está obrigando diversos funcionários a chegar as 5h30 da madrugada para ‘furar’ a greve. Sou um funcionário que estarei chegando este horário e não posso me identificar pois tenho medo de represálias”; “Tenho conhecimento de contingência no CAT. Funcionários estão sendo obrigados a entrar às 4h40 da manhã sem transporte seguro e correndo riscos”; “O Citibank montou contingência. Sei que no plano de despesas já foi acrescido um aumento de 11%”; “Funcionários da agência República do Santander estão sendo obrigados a entrar pelo estacionamento do sub-solo, onde há uma entrada. É uma vergonha”, protestam os bancários.
Pressão na rua – Está no artigo 6º inciso II, parágrafo 2º da Lei de Greve: “é vedado às empresas adotar meios para constranger o empregado ao comparecimento ao trabalho, bem como capazes de frustrar a divulgação do movimento”. Apesar disso, o Real infringe a Constituição Federal ao pressionar seus trabalhadores a “furar” a greve.
Um grupo de bancárias da região leste aderiu à paralisação na quarta, dia 8, parou a agência em que trabalhavam, “mas acabamos sendo pressionadas para ir a outra local para trabalhar. Queria participar do movimento, mas a pressão foi muito forte e fiquei sem escolha”, diz uma delas. “Não conseguimos suportar”, acrescentou outra.
Apesar de tanta pressão dos banqueiros que falam tanto em responsabilidade social, mais de 26 mil bancários pararam 682 locais de trabalho em São Paulo, Osasco e região no primeiro dia da greve que não tem data para terminar.
Greve pára mais concentrações nesta quinta-feira
No segundo dia de paralisação, os bancários permanecem firmes na greve, apesar de todos os esforços dos banqueiros para obrigar os funcionários ao trabalho. Balanço parcial aponta que 210 locais de trabalho, sendo nove centros administrativos e 201 agências ficaram fechados na manhã desta quinta-feira, 9 de outubro. Estima-se que até as 12h, 19 mil bancários de São Paulo, Osasco e Região participavam da greve. Houve aumento do número de prédios administrativos paralisados, onde funcionam setores estratégicos dos bancos.
Aderiram à greve os trabalhadores das centrais de atendimento telefônico e da área de sistema do Itaú (CAT), Bradesco (Telebanco), Real (Call Center), Unibanco (CAU), Banco do Brasil (Verbo Divino) e Caixa Econômica Federal (Paulista).
Logo mais, às 17h, haverá assembléia na Quadra dos Bancários (Rua Tabatingüera, 192, Sé) para avaliar o movimento e organizar a paralisação de amanhã.
“Ampliamos a greve em locais estratégicos onde funcionam os prédios administrativos dos bancos. Os banqueiros já sabem o que queremos. Enquanto eles não reabrirem as negociações e apresentarem uma proposta digna à categoria, vamos continuar em greve”, disse Luiz Cláudio Marcolino, presidente do Sindicato.
Reivindicação – A categoria quer aumento real de 5% (além da inflação de 7,15%), valorização dos pisos, auxílio-creche de R$ 415, vale-refeição de R$ 17,50 por dia, além de PLR composta de três salários mais valor fixo de R$ 3.500. Se os bancários aceitassem a proposta rebaixada da federação dos bancos (Fenaban), as perdas poderiam chegar a R$ 1.800 na PLR deste ano.
Os bancários rejeitaram, no dia 29 de setembro, proposta que já havia sido rechaçada pelo Comando Nacional dos Bancários na mesa de negociação com os banqueiros que previa reajuste de 7,5% e Participação nos Lucros e Resultados (PLR) menor do que a paga no ano passado. Até agora não há negociação marcada.
Gestores do Bradesco intimam trabalhadores a voltar ao trabalho
O clima começou tenso em algumas agências bancárias do centro velho na manhã desta quinta-feira, 9, segundo dia de greve da categoria em São Paulo. Os trabalhadores do Bradesco da Rua 15 de Novembro sofreram muita pressão na tarde de ontem para voltar ao trabalho.
“Os funcionários, muitos dispostos a parar, foram intimados por seus gestores a voltar ao trabalho”, disse Aline Molina, dirigente da Fetec CUT/SP. Antes da entrada dos bancários, pela Rua Álvares Penteado, diretores do Sindicato reuniram um grupo de trabalhadores para uma reunião ali mesmo, na porta da agência. Muitos deles, com pouco tempo de casa, passam pela primeira campanha salarial.
Os dirigentes informaram sobre os números de agências e concentrações paradas no primeiro dia de greve, sobre o direito que o cidadão tem de fazer greve, a proposta rebaixada feita pelos banqueiros e orientaram os funcionários sobre como proceder em casos de assédio moral e contigências. “Entrem em contato com um dirigente, liguem para a Central de Atendimento (3188-5200) ou enviem e-mail pelo site do Sindicato. Não deixem de denunciar porque é um absurdo bancário ter que dormir na agência, como vem acontecendo em vários locais, para furar greve. Estamos à disposição para defender o direito dos trabalhadores”, disse a diretora.