Bancários e financiários da Aymoré deram uma lição de mobilização e luta em São Paulo. Mesmo com a forte pressão do Santander e a repressão da polícia, eles se mantiveram na greve nesta terça-feira 29. Só no período da manhã, o banco chamou a polícia por seis vezes e em todas elas os trabalhadores se recusaram a entrar no prédio da Rua 15 de Novembro para trabalhar.
“Os empregados da financeira estão de parabéns, mesmo com toda coação do Santander os trabalhadores resistiram e mantiveram a greve. Nem a polícia conseguiu reabrir o prédio e, no final, quem ficou constrangido foram os policiais e os gestores do banco”, comenta o diretor do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Marcelo Gonçalves.
O assédio moral do Santander contra os grevistas começou logo no início da manhã, quando os gestores do banco ligaram para os funcionários convocando-os para voltar ao trabalho. Em seguida, os advogados da empresa passaram a chamar insistentemente a polícia. Até as 11h40 a PM foi para a porta da Aymoré por seis vezes com o objetivo de colocar os bancários e financiários para dentro da empresa.
Em pelo menos duas ocasiões, os policiais perguntaram para cada um dos cerca de 50 grevistas da Aymoré se eles queriam voltar ao trabalho. Depois da recusa dos trabalhadores, os policiais ficaram revoltados com a postura do Santander e chamaram a atenção dos advogados do banco: “Cadê os bancários que queriam entrar para trabalhar? A gente tem mais o que fazer, só chame a polícia se o Sindicato estiver impedindo a entrada”, disparou um tenente. Na sexta vez que a polícia foi acionada, os bancários e financiários se revoltaram e foram embora, deixando os advogados do Santander falando sozinhos.
Para a diretora do Sindicato, Rita Berlofa, a postura do banco é um retrocesso nas relações com os empregados. “O que o Santander está fazendo é um absurdo. Essa é a primeira greve que o banco usa a força policial contra seus trabalhadores. Nunca o Santander tinha feito isso, começou na gestão do Fábio Barbosa”, afirmou Rita, que ameaçou abrir um boletim de ocorrência contra os advogados do Santander por assédio moral, aos constranger os funcionários a encerrar a greve.
Mais assédio
A coação do Santander contra os funcionários da Aymoré começou bem antes. De madrugada, o RH do banco ligou para cada um dos superintendentes e ordenou que metade das equipes fosse direcionada para sites de contingência (filiais Aymoré e Contax). Outra parte foi remanejada para o prédio da XV de Novembro com um único objetivo: criar “quorum” para utilização de interdito proibitório. “A estratégia do banco era solicitar escolta da PM e utilizar o interdito. Para isso, usou parte dos funcionários como ‘cobaias'”, conta uma bancária.
Para Marcelo Gonçalves, a estratégia do banco não deu certo porque a empresa não contou que esses funcionários fossem se recusar a entrar no prédio da 15 de Novembro. “Enquanto isso a direção da Aymoré se escondeu na sede da Webmotors para fugir do Sindicato, numa atitude covarde”, disse.
Segundo um financiário, a Aymoré também tem pressionado os trabalhadores a realizar contingenciamento nos horários da madrugada. “Os gestores ainda alegaram que iriam verificar se há e-mails corporativos sendo enviados do Sindicato. Falaram que irão desmascarar os funcionários agora, pois sem acesso ao webmail fica mais fácil descobrir quem vaza as informações”, contou.
Unidade
Marcelo Gonçalves destaca que a unidade entre os bancários e financiários é fundamental para o sucesso das campanhas salariais das duas categorias. “Precisamos de uma proposta decente tanto para os bancários como para os financiários. Por isso é fundamental lutarmos juntos nesta greve, até porque, geralmente, o acordo coletivo dos bancários serve de referência para os financiários”, ressalta.