CUT Nacional
Leonardo Wexell Severo
Veterano de Fóruns Sociais Mundiais, o professor João Antonio Felício, secretário de Relações Internacionais da Central Única dos Trabalhadores, faz um balanço da participação cutista no FSM, que reuniu 150 mil pessoas, em Belém do Pará, e da agenda unificadora aprovada pelo Comitê Mundial na última segunda-feira (2). Na avaliação de João Felício, o crescimento do número de centrais sindicais e a determinação da militância em debater temas que dizem respeito à soberania e à democracia, ao emprego, ao salário e aos direitos, foram essenciais para a aprovação da jornada mundial de luta – proposta pela Confederação Sindical Internacional (CSI) -, de 28 de março a 4 de abril, em defesa de uma Nova Ordem Econômica Mundial, com controle do sistema financeiro e profundas mudanças do modelo econômico, contra a guerra e pela paz.
Qual a sua avaliação sobre o Fórum Social Mundial de Belém?
O Fórum de Belém manteve a característica dos anteriores de ser um espaço de diálogo e debate entre os movimentos sindical e social, ONGs, setores progressistas e de esquerda, com questionamentos e denúncias contra a arrogância dos que se crêem donos do mundo. Mas, devido ao agravamento da crise, à postura dos governos progressistas e ao crescimento do número de centrais e da militância sindical, conseguimos colocar com ênfase, no centro da pauta, o combate à globalização neoliberal, a crítica do sistema financeiro e das instituições multilaterais, como o FMI e o Banco Mundial, cujos modelos afundaram completamente, caindo no descrédito. O Fórum de Davos que o diga, pois fracassou junto com a empáfia de ideólogos do mercado, economistas e grandes executivos de corporações que faliram, literalmente. Com 150 mil pessoas, e expressiva participação de jovens, mulheres, trabalhadores rurais e indígenas da Amazônia, o Fórum Social Mundial demonstrou ter muito mais competência e razão nas suas críticas a esse modelo excludente, pronunciando-se também de forma solidária ao povo palestino, contra o criminoso bloqueio a Cuba e em favor das grandes causas da humanidade.
Belém ganhou destaque e realce com o naufrágio de Davos.
Desde os seus primórdios, o Fórum Social Mundial se afirmou como espaço de críticas, sugestões e análises que denunciavam com contundência e riqueza de dados a perversão deste modelo concentrador de renda e multiplicador de injustiças. Um sistema financeiro sem qualquer controle, que se aproveitou da desregulamentação, privatização e ausência do Estado para expandir a sua dominação sobre o conjunto da economia, asfixiando o setor produtivo e trazendo graves conseqüências para a vida dos nossos países e povos, para o emprego, o salário e dos direitos. Tudo o que estamos vendo hoje é decorrência da aplicação da cartilha neoliberal, entoada em prosa e verso pela mídia brasileira, que sempre serviu de caixa de ressonância contra os interesses nacionais. Esta postura desinformativa, acrítica e submissa dos grandes meios de comunicação fez com que entrasse na ordem do dia a necessidade da sua democratização, para que não fiquemos mais reféns de verdades produzidas em estúdio para satisfazer, mercadologicamente, patrocinadores. Para além dos impactos negativos da crise, estamos vivendo um momento de ofensiva, pois nossa crítica vai à raiz deste modelo, que se esgotou. A construção de alternativas está na ordem do dia.
De que forma a presença dos cinco presidentes contribuiu para o êxito do evento?
A participação dos presidentes Lula, Evo Morales, Hugo Chávez, Rafael Correa e Fernando Lugo ajudou o conjunto dos participantes do Fórum a ter uma dimensão mais real, palpável, do processo de integração, e as iniciativas que vêm sendo tomadas para a superação do atraso, resgatando o papel dos Estados nacionais, dos serviços públicos, dos programas sociais. Todos esses presidentes, é bom que se diga, foram eleitos com o apoio dos movimentos sociais, de lideranças e militantes que participam do Fórum e comungam com seus ideais. Cada um desses presidente, do seu jeito, com as suas características e peculiaridades, está criando alternativas que são o embrião do novo mundo possível e necessário. Que bom seria se todos os presidentes estivessem dispostos a se pronunciar e se comprometer com público tão expressivo.
A reunião do Comitê Mundial do Fórum, na última segunda-feira, apontou para mobilizações. De que forma os sindicalistas vão atuar?
Para começar, a CUT realiza no próximo dia 11 de fevereiro, um Dia Nacional de Luta pelo emprego e pelo salário, onde nossa orientação é que devemos ir às ruas ao lado dos movimentos sociais, numa grande frente pelo desenvolvimento e contra a retirada de direitos e redução de salários. O fato do Comitê Mundial ter aprovado uma jornada mundial de mobilização – proposta pela Confederação Sindical Internacional – de 28 de março a 4 de abril, já é um reflexo deste novo momento do Fórum Social Mundial, mais articulado com os movimentos sindical e social, que passaram a ter maior proeminência. Vamos às ruas do planeta em defesa de uma Nova Ordem Econômica Internacional, pelo controle do sistema financeiro e profundas mudanças no modelo econômico, contra a guerra e pela paz. O sindicalismo cutista atuará de forma coordenada com a CSI e a CSA (Confederação Sindical dos Trabalhadores das Américas), que tiveram uma atuação destacada no Espaço do Mundo do Trabalho, durante o Fórum. Em defesa do trabalho decente e contra a precarização, a CSI comanda nova jornada de mobilizações no dia 7 de outubro.
Há uma nova correlação de forças pró-movimentos sociais em relação ao chamado “onguismo”?
Diria que está havendo maior pressão para que os movimentos sociais tenham uma influência no Comitê Mundial do Fórum à altura da sua representatividade e poder de mobilização. Isso não é uma contraposição às ONGs, mas uma afirmação de que os movimentos sociais não podem continuar sendo secundarizados, servindo apenas para levar gente ao evento. Felizmente, os tempos são outros.
A realização do Fórum Sindical Mundial ajudou neste passo?
É inegável que a realização do VIII Fórum Sindical em Belém contribuiu e fez com que o Fórum Social registrasse uma visível ampliação do número de sindicatos e centrais, cujo comportamento unitário repercutiu muito positivamente. Além disso, a escolha dos temas eminentemente conjunturais, assim como a qualidade dos debatedores e as propostas aprovadas, jogaram a nosso favor. A CSI, que teve atuação destacada no evento, com a companheira Mamunata Cissé inclusive tendo uma intervenção privilegiada no encontro com os presidentes, reflete este avanço.
O Fórum volta agora ao continente negro?
Em março acontecerá uma reunião do Comitê Mundial no Marrocos, onde se decidirá entre a África do Sul e o Senegal, a Líbano ou os Estados Unidos. Da nossa parte, vamos ampliar a mobilização para que até lá tenhamos um mundo melhor, com paz, soberania, justiça e desenvolvimento social.