FOLHA DE SÃO PAULO
FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK
O número total de bancos considerados “problemáticos” pelas autoridades financeiras nos EUA aumentou de 305 para 416 entre o primeiro e o segundo trimestre do ano.
Juntos, esses bancos têm ativos equivalentes a US$ 300 bilhões, ou uma vez e meia as reservas em dólares do Brasil.
Entre abril e junho, o setor bancário no país perdeu US$ 3,7 bilhões em calotes relacionados principalmente ao setor de construção e a pequenos e médios negócios. No mesmo período, mais 111 bancos entraram na lista de “problemáticos”.
Muitos dos rombos tiveram de ser cobertos pela FDIC (Federal Deposit Insurance Corporation), agência federal que supervisiona e garante o sistema. Com o aumento da inadimplência, o volume de dinheiro no fundo garantidor de depósitos da FDIC caiu 20% no segundo trimestre. Ele agora soma só US$ 10,4 bilhões, menor patamar em 16 anos. No ano, a queda dessas reservas é de 40%.
Paradoxalmente, o conjunto das ações de bancos negociadas na Bolsa de Valores de Nova York acumula alta de 60% desde o fim de março.
Muitos analistas veem nessa valorização a formação de uma nova “bolha”, já que o principal problema dos bancos norte-americanos continua intocado na crise.
Desde a quebra do banco de investimentos Lehman Brothers, em 15 de setembro de 2008, o governo dos EUA ainda não encontrou uma solução viável para livrar o sistema financeiro dos chamados “ativos tóxicos”.
Resultado do excesso de crédito ofertado pelos bancos sem garantias suficientes, esses ativos continuam “entupindo” as carteiras de crédito dos bancos. Em resumo, é a inadimplência elevada relativa a esses empréstimos que continua a afetar os resultados dos bancos.
Os prejuízos ainda se sobrepõem aos lucros que os bancos vêm obtendo em outras operações. Daí as perdas durante o segundo trimestre, que tiveram de ser cobertas com dinheiro do fundo federal.
Durante a apresentação desses resultados, a chefe da FDIC, Sheila Bair, tentou minimizar os problemas afirmando que o setor financeiro nos EUA vai, aos poucos, “retornando à normalidade”.
“Mas limpar os balanços dos bancos [dos “ativos tóxicos’] é um processo doloroso, que vai levar tempo. Mas ele é absolutamente necessário para a lucratividade desse setor”, afirmou Bair.
Embora um pequeno número de bancos nos EUA tenha fechado o trimestre entre abril e julho com lucros relacionados a outras áreas, a maioria das 8.195 instituições perdeu dinheiro no negócio principal: empréstimos a pessoas físicas e empresas, já que a inadimplência continua elevada.
Dificilmente esses bancos voltarão a ter lucros nessa área enquanto a economia não voltar a crescer.
Ontem, o Departamento do Comércio dos EUA confirmou que a economia americana encolheu 1% no segundo trimestre do ano, depois de registrar um colapso de 6,4% no primeiro trimestre.
Além de engrossar a lista de instituições consideradas “problemáticas”, o governo dos EUA estatizou 81 bancos no ano. Eles foram efetivamente fechados e suas contas, transferidas a concorrentes.
Além disso, a FDIC obrigou o sistema a recolher mais US$ 5,6 bilhões adicionais para garantir os depósitos de instituições que ainda continuam em operação.