Financial Times: Dubai revela a fragilidade do sistema financeiro

Financial Times

Só quando a maré alta cede é que se descobre quais ilhas artificias foram construídas sobre a areia. Dubai, o reluzente emirado turbinado por dívidas e conhecido por seus extravagantes arranha-céus e lagoas artificiais, anunciou na semana passada a suspensão do pagamento de parte da dívida contraída pela companhia estatal Dubai World.

O anúncio soou um tanto amador: a mensagem não foi clara e foi divulgada na véspera do feriado islâmico do Eid, quando o país para de funcionar por quatro dias.

Independentemente de quais sejam suas intenções, a realidade é que a mensagem evasiva do emirado acabou gerando e espalhando um temor sobre a solvência do próprio Estado de Dubai.

Durante sua fase de “boom”, o governo de Dubai e seus empresários contraíram pelo menos US$ 80 bilhões em dívida. A quantia pode até ser alta para um país, mas soa como algo de pequenas proporções quando comparado às obrigações financeiras do banco Lehman Brothers, que somaram US$ 613 bilhões. Dubai é um grande motor de desenvolvimento, com um governo fortemente endividado, mas também um agente financeiro pouco expressivo.

Ainda assim, essa pequena pedra localizada no Golfo tem gerado ondas enormes em todos os mercados. Ao final da semana, o índice FTSE 100 acumulava queda de 2,3% e o índice Nikkei, de 3,8%. Investidores assustados procuram posições seguras: rendimentos dos títulos de dez anos do Tesouro dos Estados Unidos e Reino Unido caíram 12 e 9 pontos, respectivamente.

Esse nervosismo é resultado da contínua fragilidade financeira. A crise econômica foi causada por um acúmulo de ações de alavancagem.

Assim que a crise estourou, políticas foram elaboradas para salvar quem havia contraído grandes dívidas, mostrando que a melhor rota de fuga encontrada foi cumprir as obrigações acordadas com os credores e, em seguida, contar com o crescimento econômico futuro para contrair dívidas administráveis.

Como resultado, o sistema financeiro continua superalavancado e subcapitalizado. O crescimento econômico vem dando sinais de que vai retomar a rota, mas na semana passada ficou confirmado que nem tudo está tão claro assim. O sistema financeiro continua frágil.

Perdas e nuvens de incerteza, como as que pairam hoje sobre o Golfo, podem ainda provocar movimentos bruscos e vendas nervosas em todo o mercado. Os mercados não vão retornar ao pânico de setembro de 2008: o setor financeiro tem agora seu recurso de “backstops”. Mas, por causa dessas garantias, os investidores temerosos começaram a se preocupar com o quão seguro são as dívidas soberana. Os investidores estão ficando nervosos sobre a Grécia e a Irlanda, em particular.

Dubai deve se livrar dessa bagunça. Mas o país não será capaz agora de restaurar a confiança em sua solvência sem o apoio de Abu Dhabi, o vizinho rico, investidor de petróleo e o parceiro mais conservador dos Emirados Árabes Unidos. De sua parte, Abu Dhabi deve dar a ajuda necessária para que este episódio de incompetência chegue ao fim. A reputação dos EAU todo depende disso.

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