A Fenaban escondeu a proposta de piso da categoria na nota enviada à imprensa na terça-feira (20) após a quarta rodada de negociação com o Comando Nacional dos Bancários, coordenado pela Contraf-CUT. Em vez de divulgar o valor de R$ 1.347,50 que é o salário de ingresso apresentado para funcionários após 90 dias, os bancos divulgaram a proposta de piso para os caixas, no valor de R$ 1.842,36, que inclui a gratificação de função e outras verbas de caixa. Uma diferença de R$ 494,86!
“Os banqueiros demonstraram que eles mesmos têm vergonha da proposta de piso que fizeram, na medida em que representa apenas o reajuste de 7,8%, sem nenhuma valorização, ao contrário do ano passado quando o salário inicial subiu 16,33%”, afirma Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT e coordenador do Comando Nacional. “Com os lucros acima de R$ 27,4 bilhões somente no primeiro semestre deste ano, os bancos têm condições de atender a reivindicação dos bancários, que é pagar o salário mínimo calculado pelo Dieese (R$ R$ 2.297,51 em junho), e assim parar de esconder o verdadeiro piso da categoria”, aponta.
Segundo dados da Subseção do Dieese da Contraf-CUT, cerca de 140 mil bancários recebem o piso, o que significa aproximadamente 30% ou quase um terço da categoria. “Esses trabalhadores, na sua maioria cursando ensino superior, passam muitas dificuldades e merecem uma remuneração digna, como ponto de partida para um emprego decente”, salienta Carlos Cordeiro.
A nota da Fenaban revela também que a proposta de reajuste corresponde à “reposição da inflação e aumento real”. Na realidade, o reajuste oferecido significa um ganho de apenas 0,37% acima da inflação, muito pouco diante do crescimento econômico do país e dos lucros bilionários dos principais bancos. “Sem valorização do piso, não haverá distribuição de renda e os altos executivos seguirão ganhando até 400 vezes mais do que o valor do salário inicial do bancário, o que é socialmente indecente”, denuncia o presidente da Contraf-CUT.
“Além de mascarar o piso, a nota da Fenaban ainda tenta vender a ideia de que os bancários vivem num paraíso em seus locais de trabalho, o que está distante da realidade. Não há uma palavra sobre a pressão pelo cumprimento de metas abusivas e o assédio moral, que têm levado muitos trabalhadores ao adoecimento. Como se não bastasse, nada consta sobre o risco de morte em assaltos e sequestros, e acerca das discriminações por raça, gênero, orientação sexual e contra pessoas com deficiência”, critica o dirigente sindical.
“Se hoje temos a melhor convenção coletiva do país, como afirma a Fenaban, não é por benevolência dos bancos. Foi tudo fruto de intensas lutas travadas pelos bancários e bancárias ao longo dos anos para conquistar mais direitos, melhores salários e condições de trabalho”, explica o presidente da Contraf-CUT, que lembra o ditado popular “banco não tem coração, tem cofre”.
“Este ano estamos fazendo outra vez um processo de intensa mobilização nacional, a fim de avançarmos ainda mais e obtermos novas e importantes vitórias para a categoria”, conclui Carlos Cordeiro.