O Estado de São Paulo
Leandro Modé
O balanço do Bradesco, o segundo maior banco privado do País, mostrou que a concessão de crédito estagnou no primeiro semestre. A carteira, que era de R$ 213,6 bilhões ao fim de 2008, encerrou junho em R$ 212,8 bilhões. Outro dado que chamou a atenção dos analistas nos resultados do segundo trimestre divulgados ontem foi a provisão para devedores duvidosos além do que determina o Banco Central (BC): R$ 1,3 bilhão, valor que consumiu grande parte das receitas obtidas pela instituição na abertura de capital (IPO) da Visanet.
Ainda assim, o lucro líquido entre abril e junho alcançou R$ 2,297 bilhões, o que representou uma alta de 14,7% em relação a igual período do ano passado. Se forem excluídos os fatores extraordinários (como a própria operação da Visanet), o ganho no intervalo caiu 8,3%, segundo cálculo da analista de instituições financeiras da Spinelli Corretora, Mariana Taddeo.
“Os números ficaram dentro das expectativas, com exceção do provisionamento adicional, que surpreendeu”, disse ela. A equipe de analistas do Banco Fator considerou o balanço “regular”, ainda que tenha vindo conforme as estimativas.
O presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, e o vice-presidente executivo, Domingos Abreu, anunciaram uma queda nas previsões do banco para a expansão da carteira de crédito em 2009. Até o fim do primeiro trimestre, projetava-se um crescimento total entre 13% e 17%. Agora, a expectativa é de uma alta de 8% a 12%.
Para as pessoas físicas, a previsão saiu de um intervalo entre 11% e 15% para 9% a 12%. Para as empresas, a variação foi mais acentuada: em vez de um intervalo de 14% a 18%, espera-se agora um avanço entre 7% e 11%.
“No primeiro semestre, houve dois efeitos negativos: a valorização do real, que provocou uma redução contábil dos empréstimos às grandes empresas, e a diminuição das carteiras de crédito adquiridas de outras instituições”, explicou Abreu. No auge da crise, no segundo semestre do ano passado, os bancos grandes foram estimulados pelo BC a adquirir carteiras de empréstimos de instituições menores, que, à época, enfrentavam problemas de liquidez.
Segundo Abreu, a perspectiva do crédito para o segundo semestre é melhor, com destaque para os empréstimos consignados, única categoria em que o Bradesco elevou a projeção de crescimento no ano -o banco espera, agora, uma expansão de 20% a 30% nessa carteira, ante 18% a 27% antes. Segundo ele, essa mudança se explica pelo aumento do limite de endividamento de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), de 20% para 30% da renda.
O Bradesco elevou as provisões em resposta ao avanço da inadimplência. Os atrasos acima de 90 dias representavam, no fim de junho, 4,6% das operações (ante 4,2% no encerramento do primeiro trimestre). Entre as pessoas físicas, o índice chegava a 7,5% (ante 7,1%). Entre as micro, pequenas e médias empresas, o indicador estava em 4,5% (ante 3,6%).
Segundo Trabuco, a expectativa é de que o pico da inadimplência seja alcançado no terceiro trimestre. A partir daí, deve-se estabilizar, para voltar a cair em 2010. “Estamos confiantes de que o pior já passou.”
Apesar da inadimplência mais alta, um experiente analista do setor bancário considerou “excesso de conservadorismo” a provisão adicional de R$ 1,3 bilhão no trimestre. “Essa reserva adicional não se justifica se olharmos para as próprias perspectivas do banco para a inadimplência”, observou.
Mariana, da Spinelli, discorda. “Esse aumento da inadimplência do primeiro para o segundo trimestre vai se traduzir em perdas apenas daqui para a frente”, explicou.