Felipe Marques
Valor Econômico | De São Paulo
O Banco do Brasil bateu recorde de desembolsos no crédito consignado em outubro, após o governo esticar o prazo limite dos contratos para funcionários públicos federais e aposentados. O banco federal liberou, no mês passado, R$ 5,86 bilhões em financiamento com desconto em folha, cifra 73,24% maior do que em igual período em 2013. O recorde anterior havia sido em junho de 2014, com R$ 4,6 bilhões desembolsados.
O desempenho do BB se repete, em diferente escala, entre os demais bancos da modalidade. O novo “boom” do consignado começou em outubro, quando o governo permitiu que os servidores públicos federais tomassem empréstimos consignados com até oito anos de duração. O prazo máximo anterior era de cinco anos. Já os aposentados e pensionistas do INSS passaram a pagar os empréstimos em até seis anos, ante limite anterior de cinco.
“Nas primeiras semanas de outubro, chegamos a desembolsar até dez vezes a média diária de concessões para aquele mês. Agora, esse ritmo caiu um pouco, mas estamos acima do patamar anterior de concessões”, afirma Edmar Casalatina, diretor de empréstimos e financiamentos do BB.
Com as novas concessões, o estoque de crédito consignado do banco – sem contar carteiras adquiridas – chegou a R$ 57,93 bilhões no fim de outubro, avanço de pouco mais de 2% na comparação com o mês imediatamente anterior. Apenas para fins de comparação, entre junho e setembro deste ano, o crescimento acumulado dessa carteira foi de 1,9%.
Não foi apenas o BB que se beneficiou com o bônus do consignado. Em uma instituição privada, a velocidade de crescimento da carteira de crédito INSS aumentou em quase 25% de outubro para cá. Nas contas do executivo responsável pela operação, o potencial de avanço do saldo de consignado INSS é de 20% após o aumento de prazo. “Quem tiver uma operação eficiente chega bem perto desse número.” Em setembro, o saldo de consignado INSS no sistema financeiro estava em R$ 73,8 bilhões.
Outro banco com forte presença em consignado afirma ter liberado R$ 800 milhões a mais de consignado em um só mês, após as medidas. Isso equivale a um crescimento de cerca de 60% nos desembolsos de setembro para outubro.
No Banco do Brasil, onde o consignado para servidores públicos representa 87% do estoque da modalidade, foi a mudança nos prazos do servidor federal que puxou o avanço. Chama a atenção, contudo, o fato de que apenas 30% da carteira do banco esteja hoje com empréstimos acima de 60 meses. “Não é todo mundo que vai tomar crédito acima desse prazo, mas acredito que ainda temos espaço para avançar”, afirma Casalatina.
O executivo lembra que, tradicionalmente, a demanda por crédito para pessoa física cai no fim do ano, graças ao recebimento do 13º salário. “Não vai bater recorde de novo, mas novembro deve ser um mês com desempenho forte.”
Até setembro, antes de o governo alongar os prazos dos empréstimos, o crédito consignado vinha em desaceleração, seja no BB, seja no mercado como um todo. Em setembro, o estoque de crédito consignado no sistema financeiro foi de R$ 244,57 bilhões, com crescimento de 12,8% no acumulado em 12 meses. No mesmo mês de 2013, o avanço era de 18,8%. A carteira própria do BB (sem contar as aquisições) crescia a um ritmo de 10,2% no acumulado de 12 meses até setembro, abaixo, portanto, da média do mercado.
Embora a ampliação de prazo no consignado tenha sido saudada pelos bancos, sobrou um ponto sensível no convênio INSS: os juros. Tabelada pelo órgão público desde maio de 2012, a taxa limite está em 2,14%. A questão é que, em maio de 2012, a Selic – uma das referências para o custo de captação dos bancos – estava em 8,5%. Hoje, está em 11,25%, sem que a taxa do consignado possa mudar. “O jeito foi apertar a comissão do ‘pastinha’ e compensar perda de margem com volume”, diz um executivo.
Outro banco que espera incrementar suas operações de consignado nos próximos meses é o Santander. Não apenas pela mudança nos prazos, mas principalmente pela aliança com o Bonsucesso, firmada em julho. “Antes do final do ano vamos ter a aprovação do BC e já estamos começando as operações”, diz o presidente do banco no Brasil, Jesús Zabalza, apostando que, juntos, Santander e Bonsucesso, serão “um dos jogadores fundamentais no país no crédito consignado”.