Em vez de negociar, bancos armam esquema para reprimir a greve

Nos últimos dias, os bancos iniciaram um violento esquema de contingenciamento na tentativa de atrapalhar a greve dos bancários. Na estratégia das empresas vale tudo: de pressão e ameaças até obrigar os funcionários a entrar de madrugada no trabalho. A situação é pior ainda nos bancos que estão em processo de fusão e aquisição, onde a demissão é palavra chave da chefia para tentar desmotivar o engajamento dos empregados.

“Mas não vai adiantar, os bancários são uma categoria de luta e não vão se intimidar, sabem dos seus direitos”, destaca o presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Luiz Cláudio Marcolino.

As denúncias que chegam ao Sindicato todos os dias, comprovam o que diz Marcolino. “Estou me sentindo em plena década de 60 e 70, quando não podíamos reivindicar porque estávamos sujeito a ‘desaparecer’ de repente! Só que naquela época a repressão era explícita, ou seja, você sabia o que iria acontecer. Agora o ‘inimigo’ é muito mais traiçoeiro, age por debaixo dos panos e na frente se faz de vítima! Vamos à luta, afinal de contas vivemos em um país democrático de direito e a greve é uma manifestação legítima, sendo esta a única forma de nos fazermos ouvir”, disse um bancário em e-mail enviado ao Sindicato.

“O que essas empresas estão fazendo é criminoso, pois a greve é um legítimo direito dos trabalhadores previsto na Constituição Federal. Temos recebido essas denúncias de repressão muito antes das negociações chegarem a um impasse, o que demonstra a falta de vontade dos bancos com o diálogo. Mas se eles pensam que isso vai diminuir a nossa greve estão enganados. O efeito será justamente o contrário, porque ao fazer a denúncia o bancário está se aproximando ainda mais do Sindicato. E pela quantidade de trabalhadores que entraram em contato conosco, essa greve vai ser forte porque a disposição de luta demonstrada pelos trabalhadores é grande”, acrescenta Luiz Cláudio Marcolino.

Itaú Unibanco – A maior parte das denúncias que chegaram ao Sindicato envolve bancos em processo de fusão ou aquisição. E o Itaú Unibanco tem liderado esta lista, com atitudes que deveriam envergonhar qualquer instituição séria. Alguns setores do banco estão obrigando seus funcionários, há mais de uma semana, a entrar às 4h no serviço, como forma de fugir das manifestações. No dia 17, data da última rodada de negociações entre bancários e bancos, alguns setores amanheceram com um número de seguranças nas portas muito acima da média.

“Isso é uma pouca vergonha, os bancos estavam negociando algo hoje que já sabiam que não iríamos aceitar”, reclamou um bancário.

No mesmo dia, os departamentos do Unibanco obrigaram os funcionários a deixarem o computador ligado para garantir o acesso remoto.

O Sindicato já está tomando providências também sobre informações de que o Itaú Unibanco marcou um “ponto de encontro” para os trabalhadores com o objetivo de furar a greve. “Fazer greve é lutar pelos seus direitos e isso deveria ser respeitado pelo banco. Essas atitudes são um crime contra a organização do trabalho, que vamos denunciar”, ressalta o presidente do Sindicato..

Santander Real – O banco Santander foi o primeiro a procurar a Justiça para tentar impedir o direito constitucional de greve dos trabalhadores, atropelando o diálogo e o processo negocial numa prática antissindical e antidemocrática. O banco conseguiu interditos proibitórios, em São Paulo, Pelotas e Rio Grande.

Na capital paulista, a decisão judicial impede qualquer manifestação na porta das agências. O despacho é da juíza Mylene Pereira Ramos, da 63ª Vara do Trabalho de São Paulo, a mesma que cassou a liminar que suspendia as decisões da conturbada assembléia dos participantes do Banesprev. O Sindicato terá de pagar multa de R$ 90 mil para cada unidade do Santander em que houver manifestação. O banco também está autorizado a usar a polícia para conter os bancários.

Banco do Brasil – O BB também tem se movimentado para montar o que chama de equipes de contingenciamento, recrutando funcionários de gerência média e de setores estratégicos para trabalhar mesmo com a greve e cobrir os espaços deixados por colegas que aderirem ao movimento. Segundo denúncias enviadas ao Sindicato, o número de funcionários em São Paulo que foi convocado a trabalhar na greve chega à metade do quadro das agências.

“Isso amedronta esses bancários, mas temos de alertá-los que esse regime não impede ninguém de usar seu direito de greve”, ressalta um funcionário do BB.

A situação não é diferente na Nossa Caixa. Os gestores estão obrigando os funcionários da administração a chegar bem antes do horário em casos de greve.

“Estão coagindo-nos com a incorporação ao BB. Greve é direito nosso!!!”, escreveu outro empregado.

Terceirizados – Se os bancários estão sofrendo uma grande pressão dos bancos, a situação dos terceirizados é pior. Eles também estão sendo obrigados a entrar no local de trabalho de madrugada.

Os gestores da Tivit, por exemplo, têm uma lista de telefone de terceirizados que prestam serviços para o Santander e dizem que podem ligar a qualquer momento para convocá-los ao trabalho. Ameaças de demissão também estão entre as estratégias das terceirizadas para tentar diminuir a força da greve.

“Se os bancários sofrem este tipo de pressão, imaginem nós que não temos um sindicato forte e de respeito como o Sindicato dos Bancários”, ressalta um funcionário da Tivit, em e-mail enviado ao Sindicato.

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