O Comando Nacional dos Bancários se prepara para a segunda rodada de negociação com a Fenaban, marcada para a semana que vem, nos dias 2 e 3 de setembro, sobre saúde e condições de trabalho. Na primeira reunião, no dia 19 de agosto, em São Paulo, os banqueiros não assumiram compromisso com a manutenção dos empregos da categoria. Uma demonstração da falta de responsabilidade social do setor com o desenvolvimento do País. Para o presidente da Contraf-CUT, Roberto von der Osten, unidade e mobilização serão, mais uma vez, determinantes para ampliar as conquistas da categoria, homenageada, nacionalmente, com seu dia, em 28 de agosto.
“Neste dia comemoramos a nossa história e a nossa tradição de luta em defesa de nossos direitos, pela democracia e liberdade, de ousadia para buscar novas conquistas. Inventamos a nossa unidade nacional, que nos fez fortes, e com ela mobilizamos a nossa base para as campanhas mais abrangentes que os trabalhadores do Brasil viram até hoje. Temos muito a comemorar nesta data”, avalia Roberto von der Osten.
Desde 2004, com grandes mobilizações e greves todos os anos, os bancários acumularam 20,7% de ganho real e 42,1% no piso, além de outras conquistas econômicas e sociais. Neste ano, reivindicam reajuste de 16% (reposição da inflação mais aumento real de 5,7%, acima da inflação), piso salarial no valor de R$ 3.299,66 e a PLR (três salários base mais parcela adicional fixa de mais R$ 7.246,82), melhores condições de trabalho, com o fim das metas abusivas e do assédio moral.
” Não vamos aceitar o retrocesso no País, nem na nossa Campanha Nacional. É com este recado, que milhares de bancários, unidos a outras categorias, saíram às ruas no Ato Nacional do último dia 20 em defesa da democracia e dos direitos ameaçados. Nossas federações e sindicatos já estão em diálogo com os trabalhadores e também com a população sobre as nossas reivindicações”, afirma.
O presidente da Contraf-CUT critica a postura da Fenaban neste momento em que a economia precisa de apoio para voltar a crescer com geração de emprego e renda. “Os bancos insistem, nas negociações, em dizer que são o setor da economia que menos demite, comparando-se indevidamente com setores que atravessam crises pontuais. Mas o que estamos verificando é diferente. Existe uma tendência de redução de postos de trabalho justamente no setor que não vive nenhuma crise e que vem obtendo altos lucros. Isto é inadmissível”, reforça.
Neste primeiro semestre, os cinco maiores bancos (Itaú, Bradesco, Santander Banco do Brasil e Caixa) somaram R$ 33,6 bilhões de lucro, crescimento de 17,98% em relação ao mesmo período do ano passado. Para os empregos, no entanto, a curva é descendente. Entre janeiro e julho de 2015 as instituições financeiras fecharam 5.864 postos de trabalho, de acordo a Pesquisa do Emprego Bancário (PEB), feita pela Contraf-CUT, em parceria com o Dieese.
Perfil da categoria
A categoria bancária é uma das poucas no País que possui Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) com validade nacional. Os direitos conquistados têm legitimidade em todo o País.
” São 23 anos de Convenção Coletiva, que garante pisos e direitos iguais para todos os bancários de todo o País. Conquistamos credibilidade e conseguimos manter firme os instrumentos de luta para conquistar melhores salários, condições de trabalho e dignidade”, destaca o presidente da Contraf-CUT.
Os bancários estão entre os profissionais com mais anos de estudo: 68,5% têm formação acadêmica, segundo estudo do Dieese sobre o perfil da categoria bancária.
O diploma, porém, não tem relação direta com a sindicalização, explica a economista do Dieese, Regina Camargos. “Este é um desafio para a Contraf-CUT e seus sindicatos estimularem a sindicalização dos universitários, que estão sendo formados por instituições cada vez mais conservadoras”, afirma Regina.
Atualmente, 51% são do sexo masculino e 49% do feminino. As mulheres continuam ganhando salários mais baixos, 23% menor que a remuneração dos homens. “Em 11 anos, essa diferença só caiu 3%. Esta discussão é cada vez mais importante na convenção coletiva, sobre a igualdade de oportunidades entre sexos”, ressalta a economista.
No início dos anos 1990, o Brasil tinha 732 mil bancários. Em 2013, esse número caiu para 511 mil, segundo a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), do Ministério do Trabalho e Emprego.
Dia 28 e sua história
Em março de 1946, depois de uma greve nacional dos bancários, o governo Dutra baixou o decreto 9.070, que criava todas as restrições imagináveis para a realização de uma greve, vetando sua realização em “serviços essenciais”, cuja definição abrangia várias atividades econômicas, principalmente a atividade bancária.
No dia 28 de agosto de 1951, uma assembleia histórica no Sindicato dos Bancários de São Paulo, contando com a presença de 28% da categoria, decidiu ir à greve para conseguir seus direitos, mesmo o setor estando impedido por lei de fazer greve. A greve foi deflagrada e logo duramente reprimida. O Dops prendia e espancava os grevistas. Somente após 69 dias de paralisação, a categoria arrancou 31% de reajuste. Após o término da paralisação a repressão foi ainda mais acentuada. Mas, como resultado mais positivo, a mobilização colocou em xeque a lei de greve do governo Dutra.
Como em 1951, a categoria repetiu manifestações semelhantes, que garantiram conquistas importantes. É o caso da jornada de 6 horas, do fim do trabalho aos sábados, da convenção coletiva nacional, do vale-refeição, alimentação, PLR, licença maternidade de 180 dias, além de outros direitos.
“A Conjuntura política e econômica tem um cenário que nunca se viu, com um Congresso Nacional mais conservador desde 1964, que, entre outras coisas, nos apresenta como ameaça, concreta, a terceirização. Mas continuaremos avançando, sem dúvida. O bancário é, antes de tudo, um lutador social. Nossa união tem sido decisiva para a batalha por um mundo melhor, mais justo e para construir uma sociedade com igualdade de oportunidades para todos,” conclui Roberto von der Osten.