Às vésperas da VI Cúpula dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), que inicia na próxima terça-feira (15) em Fortaleza, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) lança um importante estudo para subsidiar o debate do ponto de vista da organização dos trabalhadores.
Com 56 páginas, “Os Brics e a ação sindical” apresenta análises econômicas e sociais que contribuem para que o bloco surgido em 2001 conte com uma participação ativa e qualificada, fortalecendo a luta por “um modelo de desenvolvimento sustentável, socialmente justo e uma alternativa contra hegemônica à problemática ordem internacional vigente”.
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O secretário de Relações Internacionais da CUT e presidente da Confederação Sindical Internacional (CSI), João Antonio Felício, destaca que “com relevante diversificação produtiva, considerável influência regional e relevância internacional”, nossos países potencializam seu peso com a “atuação em bloco”.
“Com exceção da África do Sul, os valores em dólares do Produto Interno Bruto (PIB) dos países do Brics em 2012 os colocavam como as maiores economias do mundo: entre as 11 primeiras, quatro eram países do Brics”, destaca.
Na apresentação da publicação, que conta com o apoio da Fundação Friedrich Ebert, João Felício sublinha algumas das potencialidades a serem exploradas: “A Rússia se destaca principalmente pela produção de energia, petróleo e gás; o Brasil pela força de sua agricultura e recursos naturais; a China pela potência de seu parque industrial e vasta mão de obra; a Índia pelo alto nível dos serviços de informática e telecomunicações; e a África do Sul pelas suas grandes reservas minerais. Tamanha diversidade vem sendo apontada por muitos analistas como uma fraqueza, mas, contra estes prognósticos a crescente cooperação intra-Brics se mostra um dos aspectos mais surpreendentes deste bloco”.
Principalmente no caso do Brasil e da África do Sul, lembra o sindicalista, se comparados com os outros membros do bloco, “existe ainda uma questão fundamental: o grande poder das corporações transnacionais dos países desenvolvidos dentro dessas economias nacionais, significando que muitas decisões estratégicas relativas a investimentos, tecnologia, estratégia comercial e sobre como organizar as cadeias produtivas, entre outras, são tomadas fora do país obedecendo a interesses político-econômicos sem compromisso algum com a classe trabalhadora local”.
Defendendo “mais transparência e participação social”, João Felício lembra que “a abertura já consolidada para a participação de setores acadêmicos e empresariais precisa a partir de agora ser aprofundada com a criação de um espaço oficial para a inserção dos trabalhadores dos BRICS, avançando na democracia interna do bloco”. O trabalho conjunto a partir de agora, avalia, é central para que “o bloco não seja apenas mais uma articulação internacional que não dá ouvidos aos trabalhadores”.
“Nossas centrais têm ao menos quatro desafios nesse processo: aprofundar o conhecimento mútuo de nossas realidades nacionais em especial sobre os desafios do movimento sindical de cada país, de modo a poder difundir experiências de solidariedade e levar adiante lutas comuns; trabalhar em conjunto no sentido de identificar critérios mínimos de relações de trabalho para os cinco países BRICS (e para países que recebam investimentos financiados pelo futuro Banco dos BRICS, por exemplo); trabalhar no sentido de difundir as melhores práticas de políticas laborais e sociais que vem sendo executadas em cada um dos países e apreender como os demais podem se beneficiar neste intercâmbio; e desenvolver análises consistentes sobre a presença e atuação das multinacionais dos respectivos países do BRICS e verificar se as mesmas estão de acordo com as normas fundamentais do trabalho da OIT”, ressalta João Felício.