CUT inicia mobilização nacional em defesa do emprego e renda

A Central Única dos Trabalhadores reafirma sua posição diante da crise financeira que assola a economia internacional e que começa a se refletir sobre as economias de países de quase todo o mundo. Além de recusar o convite feito pela Federação das Indústrias de São Paulo (FIESP) para uma reunião com as centrais sindicais para negociar propostas de flexibilização, realizada nesta terça-feira (13), a CUT organiza uma grande mobilização nacional intitulada “Os trabalhadores e trabalhadoras não pagarão pela crise!”

Para dar início à campanha, a CUT realiza na próxima segunda-feira (19) uma reunião com suas entidades para discutir ações de enfrentamento e traçar um cronograma de mobilizações a serem realizadas em todo o país. Participarão da reunião as CUTs estaduais, entidades nacionais por ramo de atividade econômica e principais sindicatos que representam trabalhadores que vem sendo mais prejudicados pela crise, como metalúrgicos, bancários e construção civil.

Essa mobilização nacional incluirá manifestações de rua, passeatas, protestos diante de empresas – como as que já vêm sendo feitas no início deste ano, a exemplo das mobilizações na GM São José dos Campos, TRW em Diadema e Vale do Rio Doce em Itabira – e também greves em diferentes setores. Serão feitos também materiais de divulgação que explicitem as propostas da CUT e desmascarem o caráter natural e inevitável com que o empresariado e parte da mídia querem confundir a opinião pública.

“A CUT não medirá esforços para impedir que a crise incida sobre a classe trabalhadora e cobrará do Governo ações rápidas e efetivas para que o momento deixe de ser de insegurança e passe a ser de reaquecimento econômico, com retomada da produtividade e do consumo, o que significa manutenção e ampliação de vagas no mercado de trabalho”, afirma Artur Henrique, presidente nacional da CUT.

Para a CUT a solução para o enfretamento à crise e aos efeitos que ela tem causado sobre importantes setores da economia brasileira é a geração de emprego e renda, diferente do cenário de demissões, redução de salários e flexibilização de direitos que alguns empresários e políticos neoliberais tentam construir, camuflando como ‘medidas de combate à crise’ o que na verdade são formas de aumentar lucros, além de ser mais uma tentativa de golpe para impedir o crescimento e desenvolvimento de nosso país. “Propostas como a de redução da jornada de trabalho com redução de salários são inaceitáveis. Isso não quer dizer que somos contra negociação, mas sim, que somos contra a negociação sem luta”, ressalta Artur.

“É inadmissível que os trabalhadores e trabalhadoras paguem pela crise, destaca Quintino Severo, secretário-geral nacional da CUT. “Portanto, medidas urgentes devem ser tomadas pelo Estado para que a crise não recaia sobre a classe trabalhadora e o processo de crescimento e desenvolvimento do país não seja interrompido”, reitera.

Conheça abaixo o conjunto de propostas da CUT para o enfrentamento da crise:

a) DEFESA E GARANTIA DO EMPREGO

1) Nenhuma demissão. Estabilidade no emprego.

2) Ratificação da Convenção nº 158 da OIT.

3) Redução constitucional da jornada máxima de trabalho para 40 horas semanais sem redução dos salários e limitação das horas extras conforme proposta da CUT.

4) Ampliação das Políticas de geração de emprego no setor privado e no setor público, especialmente para os segmentos mais vulneráveis, a exemplo das mulheres e da população negra.

5) Programa especial de geração de emprego e renda na agricultura a partir do fortalecimento da Agricultura familiar e garantia de preços mínimos.

6) Reforma Agrária: Estabelecimento de limite de propriedade da terra; atualização dos índices de produtividade; garantia de instrumentos legais de controle de compra de terras por estrangeiros; combate ao trabalho escravo.

b) INVESTIMENTOS

7) Fortalecimento da política de valorização do salário mínimo e das aposentadorias e as políticas públicas de saúde e educação, garantindo-se a ampliação de recursos do orçamento público para as áreas sociais (EC29, FUNDEB etc) e os programas de transferência de renda.

8) Fim do superávit primário e ampliação dos investimentos em obras de infra-estrutura, a valorização do serviço público e das políticas sociais, a exemplo dos Territórios da Cidadania.

9) Ampliação da capitalização do BNDES e dos recursos para o orçamento corrente da instituição, visando o financiamento dos investimentos e, desta forma, reduzir a taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP).

10) Revogação da Lei de Responsabilidade Fiscal.

c) CRÉDITO

11) Nenhum recurso financeiro deve ser concedido à especulação.

12) Qualquer instituição financeira que apresente estado de falência deve ser estatizada.

13) Criação de mecanismos como multas, taxas, punições administrativas, entre outras, que assegurem a concessão de crédito à economia e que os recursos liberados pelo governo federal cheguem à economia real, não sendo utilizados pelos bancos para outros fins.

14) Qualquer “socorro” que o governo resolva conceder às instituições financeiras e não-financeiras que apresentem problemas em função da atual crise internacional deve ter contrapartidas, a partir dos seguintes critérios:

14.1 Garantia da manutenção do nível de emprego nas instituições financeiras e não-financeiras.

14.2 Garantia de estabilidade de emprego nos processos de fusões e incorporações.

14.3 Que os volumes de recursos dos programas de apoio serão devolvidos ao Estado, em parcelas e prazos previamente determinados.

14.4 Limitação dos rendimentos dos executivos das instituições financeiras e não-financeiras.

15) Ampliação das ações para garantir crédito e seguro para a agricultura familiar, como também o crédito imobiliário, visando combater o déficit habitacional.

d) MEDIDAS EMERGENCIAIS

16) Estruturação pelo Governo Federal de Plano de Renegociação de Dívidas para pequenas empresas, assalariados e trabalhadores em geral.

17) Redução do impacto da desvalorização do real nos preços dos alimentos e produtos de primeira necessidade, por meio, entre outros, da redução dos impostos internos, com a contrapartida da manutenção de preços.

18) Construção do Contrato Coletivo Nacional de Trabalho.

19) Constituição, em caráter emergencial, de Câmaras Setoriais e especialmente nos setores mais atingidos pela crise do crédito e retração da atividade econômica (construção civil, têxtil e calçados, alimentação etc), de forma que as iniciativas de apoio do Estado representem contrapartidas na área da garantia do emprego, melhoria das relações de trabalho em cada setor.

20) Valorização do salário mínimo, com a incorporação da variação dos preços da alimentação já no reajuste de 2009.

21) Interromper os processos de privatização do patrimônio público (Embrapa e Infraero), o leilão das reservas petrolíferas, bem como revogar o marco regulatório herdado do Governo FHC, de modo que a riqueza do pré-sal seja explorada em benefício da Nação.

22) Retirada do Projeto de Lei que propõe a implantação das Fundações Estatais de Direito Privado.

e) GARANTIAS DOS DIREITOS DOS TRABALHADORES

23) Ampliação dos direitos dos trabalhadores e retirada dos projetos de flexibilização hoje existentes no Congresso Nacional, como o PL nº 4302/1998, que trata do trabalho temporário e da terceirização.

24) Garantia de cumprimento pleno dos acordos coletivos firmados com os servidores públicos em todas as esferas de governo (federal, estadual e municipal) e ratificação da Convenção nº 151, que prevê a negociação coletiva para os servidores públicos.

25) Garantia do cumprimento da Lei que estabelece o Piso Nacional do Magistério.

f) POLÍTICAS ECONÔMICAS

26) Sistema de Metas de Inflação mais flexível, com a efetiva utilização do intervalo de taxas de inflação admissíveis, sem determinar qual a meta-centro.

g) SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL E INTERNACIONAL

27) Regulamentação do artigo nº 192 da Constituição Federal, que trata da regulação e do papel social do Sistema Financeiro.

28) Fortalecimento do papel social dos bancos públicos.

29) Por meio de uma ampla articulação desenvolvida no âmbito da CSI e da CSA, promover uma agenda de debates e ações visando a estruturação de nova ordem financeira internacional, que, entre outros, estabeleça maior controle das operações das instituições financeiras e do fluxo de capitais entre os países, de modo a minimizar os impactos gerados nas economias nacionais.

30) Fortalecimento do Mercosul como forma de reduzir os impactos dos fluxos de saída de capitais externos. Este fortalecimento deve enfatizar os aspectos de complementaridade dos projetos e o desenvolvimento da dimensão social, com o estabelecimento de contrapartidas e aplicação da Declaração Sócio-Laboral.

Os trabalhadores e as trabalhadoras não querem e não vão pagar pagar a conta da crise financeira!

São Paulo, 05 e 06 de novembro de 2008

Direção Executiva Nacional da CUT
Atualizado em ( 13/01/2009 )

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