Luta das mulheres por igualdade de direitos e salários ajuda a superar a crise e a desenvolver o Brasil, diz Rosane Silva
CUT Nacional
Isaías Dalle
No Fórum Social Mundial recentemente realizado em Belém, a luta das mulheres por igualdade e autonomia, tanto econômica quanto sobre o destino de seus corpos, marcou presença em todos os espaços. Este foi um dos destaques do encontro, na opinião da secretária nacional sobre a Mulher Trabalhadora da CUT, Rosane da Silva.
Nesta entrevista, Rosane antecipa também as atividades do Dia Internacional da Mulher, 8 de Março, e afirma que as mulheres cutistas vão fazer a diferença no próximo 11 de fevereiro, Dia Nacional de Luta pelo Emprego e pelo Salário.
PMT: E o Fórum Social Mundial, como foi?
Rosane: Com todas as dificuldades que prevíamos que a cidade de Belém teria, com 100 mil pessoas a mais do que seu número de habitantes, a estrutura e a capacidade de receber gente do mundo todo foi surpreendente. Além disso, e acho uma das características mais importantes desse Fórum, é que foi o que mais repercutiu na mídia. Em 2001, o primeiro Fórum, pela novidade, ofuscou o Fórum Econômico de Davos. Neste ano, pela discussão da crise e pelos debates ambientais, em plena Amazônia, chamou a atenção da opinião pública. Para nós, mulheres cutistas, foi também uma oportunidade de manter a temática feminista muito forte e presente, durante todas as atividades.
Fale um pouco mais sobre a agenda das mulheres.
Estreitamos relações com entidades internacionais que já são nossas parceiras. E abrimos novos contatos, ampliamos nosso diálogo. O tema da legalização do aborto esteve presente em todas as nossas atividades. Realizamos várias, sempre cobrando a igualdade de direitos e a igualdade econômica, como princípios da autonomia da mulher. Queremos também autonomia sobre nossos corpos. Precedendo a Assembléia das Assembléias, em que a CUT era uma das organizadoras, realizamos uma atividade emocionante e muito esclarecedora, que foi uma Oficina de Testemunhos de Mulheres. Companheiras do mundo inteiro contaram suas experiências com a questão do aborto.
Você falou em igualdade. Qual foi o principal debate sobre esse tema?
Houve um debate muito rico, realizado pela CUT, pelas Comissões Obreiras da Espanha, pela Marcha Mundial de Mulheres e pela Comissão dos Sindicatos Nacionais, de Quebéc, para discutir propostas e trocar experiências sobre a necessidade de igualdade no mercado de trabalho e também no movimento sindical. Pudemos então expor nossa luta pelo respeito às cotas e as recentes vitórias no interior da CUT sobre isso. Outra atividade muito importante foi realizada pela ISP (Internacional de Serviços Públicos) e pelo conjunto das centrais, para elaborar estratégias que garantam a igualdade de remuneração entre homens e mulheres que exercem trabalhos iguais. Nessa oficina, foi relatada a experiência da cidade de Quixadá, no Ceará, onde existe uma lei municipal que garante igualdade salarial no serviço público.
Durante o Fórum, como foi recebida a notícia de que o presidente dos EUA, Barack Obama, promulgou uma lei que garante igualdade salarial?
Pegou muito bem. Olha, só o fato de haver uma ação política que aponte claramente nessa direção já municia o movimento sindical e o movimento social, no caso nos Estados Unidos, a incluir a exigência do cumprimento da lei em suas campanhas. É como a licença-maternidade ampliada aqui no Brasil. A pressão do movimento sindical vai fazendo a lei se tornar uma prática. Os petroquímicos da Bahia já fecharam acordo coletivo com essa cláusula, assim como as químicas do ABC, em duas empresas. A iniciativa política nos empodera.
Do Fórum para o 8 de Março, que está se aproximando.
O Dia Internacional da Mulher, este ano, terá sua principal agenda numa atividade organizada pela Coordenadora das Centrais Sindicais do Cone Sul na fronteira das cidades de Santana do Livramento, no Rio Grande do Sul, e Rivera, no Uruguai. Os temas principais das atividades serão igualdade salarial e combate à violência contra a mulher. Lá as duas cidades, e portanto os dois países, são separadas apenas por um poste de luz. Por isso, é comum naquela localidade os homens matarem, espancarem ou estuprarem mulheres e se refugiaram na cidade vizinha. Como as leis são diferentes, brasileiros e uruguaios usam a frágil fronteira para escapar de seus crimes contra as mulheres. Inclusive a nossa luta lá é pelo estabelecimento de uma lei e de um protocolo de extradição comuns. Além da atividade lá na fronteira, a CUT está orientando suas entidades a realizarem outras atividades regionais.
Rosane, o próximo dia 11 de fevereiro é Dia Nacional de Luta pelo Emprego e pelo Salário. O que podemos esperar das mulheres nesse dia?
Vamos organizar, junto com os demais companheiros, atividades temáticas, que exponham a situação da mulher frente à crise. Há dados históricos que mostram que as mulheres, junto com os negros e os jovens, são os primeiros atingidos em momentos de retração econômica. Para as mulheres, em particular, a tentativa de reduzir seus salários são muito mais escancaradas e, também, a informalidade tende a crescer. Mas a CUT está lutando bravamente para impedir as demissões e a retirada de direitos. E nós mulheres estamos nessa briga e vamos marcar nossa presença.