The Wall Street Journal
Jon Hilsenrath e S. Mitra Kalita
No fim de janeiro, quando as ações dos bancos americanos desabavam por causa do medo de nacionalização, o pequeno Hanover Community Bank, de Long Island, no Estado de Nova York, abriu as portas. O banco foi inundado de clientes, e a proposta de atrair US$ 20 milhões com a oferta de certificados de depósito acabou trazendo US$ 43 milhões.
Como os investidores fugiam do mercado acionário, alguns deles chegaram a transferir US$ 1 milhão para o Hanover de uma só vez, disseram executivos do banco.
Embora o sistema financeiro dos Estados Unidos enfrente a pior crise desde a Grande Depressão, na década de 30, esta é uma hora perfeita para começar um banco, dizem alguns observadores. O ex-presidente do Federal Reserve, o banco central americano, Alan Greenspan, disse recentemente que abriria um banco se fosse 50 anos mais jovem. O retorno sobre o patrimônio pode ser impressionante, disse Greenspan ao Wall Street Journal.
No ano passado, foram abertos 78 bancos nos Estados Unidos, de acordo com a Federal Deposit Insurance Corp., agência de seguro-depósito do governo. Em 2007 foram abertos 173, e 184 em 2006. A maior razão para a queda no número de novos bancos é a tradicional bateria de testes de capital, perspectiva de ganhos, diretoria e perfil de risco das novas instituições financeiras. A recessão dificultou o cumprimento dessas exigências pelos bancos nascentes, feitas para garantir a cobertura dos depósitos pela FDIC. Atrair investidores também ficou difícil.
“Temos vários pedidos de registro de novos bancos aprovados, mas os autores desses pedidos não conseguiram levantar o capital necessário”, diz David Barr, porta-voz da FDIC.
É significativo que novos bancos estejam abrindo as portas nos EUA apesar de todos os problemas que afligem o setor, inclusive as perdas de US$ 26,2 bilhões de bancos comerciais e de poupança no quarto trimestre. Quase um terço das instituições financeiras divulgou prejuízo no trimestre, segundo o FDIC.
Bancos recentemente abertos são carentes de reconhecimento do nome e de clientes. Nos dias atuais, porém, eles têm uma grande vantagem em relação aos rivais estabelecidos: ausência de créditos problemáticos.
“Temos ficha limpa”, diz Robert Long, um dos presidentes do conselho de administração e fundador do Hanover.
Ao mesmo tempo, as condições gerais de aperto de crédito estão ajudando os novos bancos a ser especialmente exigentes quanto à concessão de empréstimos. E a diferença entre o custo de captação e o ganho que pode ser obtido com os empréstimos está aumentando, num sinal de boas margens de lucro.
O aumento na abertura de novos bancos pode ajudar a economia, já que o capital inicial é convertido em empréstimos a empresas e pessoas físicas, disse Christopher Marinac, diretor-gerente e de análise da FIG Partners, LLC, uma firma de análise de bancos de Atlanta. Embora bancos de todos os tamanhos aleguem estar concedendo o maior número de empréstimos possível, alguns deles foram prejudicados pelos créditos feitos nos bons tempos e que se tornaram de recebimento duvidoso.
Mesmo sem uma marca forte, os bancos principiantes parecem atraentes a correntistas que procuram um lugar seguro para seu dinheiro ou simplesmente estão cansados de ver seus bancos gerar manchetes sombrias nos jornais. Uma pesquisa com 743 pequenos bancos divulgada na semana passada pela Comunidade de Banqueiros Independentes dos EUA mostrou que mais da metade dos bancos viu os depósitos crescer graças a novos clientes, mesmo depois que a crise financeira se agravou, em setembro.
Os executivos do Hanover, que planejam alcançar a comunidade indiana na região de Long Island, começaram a levantar capital em 2007. “Queríamos meio que voltar aos velhos tempos” dos bancos pequenos com relações próximas com seus clientes, diz Long.
Long e Geevarghese Mathai, outro banqueiro de hipotecas que ajudou a fundar o Hanover, achavam que a aprovação da FDIC poderia ser conseguida em apenas 30 dias. O processo levou quase um ano, e os organizadores do Hanover tiveram de mudar os planos algumas vezes.
“As pessoas nos diziam: ‘Por que eu deveria investir em seu banco se posso investir no Citibank?”, recorda Long.
Depois de captar US$ 12,3 milhões até agora, o Hanover alinhavou investidores suficientes para levar aquele valor a US$ 15 milhões. Apesar do clima de incerteza generalizado no levantamento de capital, os executivos do banco têm planos de captar entre US$ 7 milhões e US$ 10 milhões adicionais até o fim de 2009.
O Nuvo Bank & Trust Co., que abriu em novembro, no Estado de Massachusetts, está decidindo como aumentar seu capital inicial de US$ 13,6 milhões. Isso não é fácil, diz o diretor-presidente James E. Gardner, mas há uma enorme necessidade de crédito por parte dos pequenos empresários, o que coloca o Nuvo numa posição forte.
O Nuvo foi inaugurado com balões e fotografias. Uma campanha de anúncios foi lançada para encorajar os clientes a “entrar no barco”, ressaltando o fato de que o Nuvo está “fora das hipotecas de risco” e não carrega o peso do passado “nem créditos podres”.
“Parece tolo estar animado quando o país atravessa tempos duros, mas podemos nos beneficiar dessa situação”, diz Gardner. “Podemos surfar no topo da onda do que esperamos ser a recuperação” da economia.