Valor Econômico
Adriana Cotias, de São Paulo
Reajuste antecipado do salário mínimo, novos convênios de desconto em folha e uso recorrente da linha mais barata de empréstimo pessoal para aquisição de bens. Acrescente-se a isso o aumento do emprego formal, índices elevados de confiança do consumidor e a inclusão de 1,5 milhão de beneficiários do INSS ao sistema anualmente. O resultado da soma desses fatores é o crescimento do crédito consignado em ritmo acelerado. É o que mostram as estatísticas mais recentes do Banco Central.
No primeiro quadrimestre, as operações garantidas pelo desconto das parcelas direto no contracheque cresceram 38% em relação ao mesmo período do ano passado, atingindo um estoque de R$ 118,8 bilhões. Em volume, a modalidade só perde para o financiamento de veículos (crédito direto ao consumidor e leasing), com R$ 164 bilhões. No total do crédito pessoal, o consignado passou de uma fatia de 54,2% para 60% nos últimos 12 meses. No ano, só o crédito à habitação cresce em velocidade maior: 47,4% de janeiro a abril.
No passado recente, o que se imaginava era que, quando o consignado atingisse 40% do público aposentado, o potencial de expansão estaria esgotado. Mas não é isso o que se observa. “O número de beneficiários cresce mensalmente, além de a modalidade ter se popularizado entre outros segmentos do funcionalismo público”, explica o diretor da Bradesco Promotora, Fernando Perrelli. No primeiro trimestre, a carteira de consignado do banco cresceu 22% em relação ao saldo de dezembro, chegando a R$ 11,1 bilhões. A expectativa é encerrar o ano com aproximadamente R$ 13 bilhões.
Na opinião de Ricardo Gelbaum, diretor financeiro do banco BMG, um dos líderes do segmento entre os bancos de menor porte, o consignado continuará mostrando vigor porque dos cerca de 45 milhões de funcionários públicos e beneficiários do INSS, apenas metade tem alguma operação garantida pelo desconto em folha.
Para o superintendente de empréstimos à pessoa física do Santander, Rogério Estevão, à medida que as empresas se estruturarem tecnologicamente será possível avançar no consignado no setor privado, que hoje representa apenas 13,6% do total. “A indústria está contratando e isso traz mais gente para o jogo”.
A carteira de crédito consignado cresceu de R$ 10 bilhões para mais de R$ 118 bilhões em apenas seis anos. “Havia uma demanda reprimida no mercado brasileiro, especialmente entre o público aposentado, muitas vezes sem acesso à conta bancária”, diz o presidente da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), Renato Oliva.