“Os bancos atuam cada vez mais em escala internacional. O movimento sindical bancário também precisa se organizar para ampliar a luta em escala global, porque nossos patrões são os mesmos, aqui dentro e lá fora.” O apelo foi feito pelo presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro, Carlos Cordeiro, na abertura da segunda e última parte da 5ª Reunião Conjunta das Redes Sindicais de Bancos Internacionais, que começou na manhã desta terça-feira 1º, na sede da Contraf-CUT, em São Paulo, com a participação de mais de 150 dirigentes sindicais do Brasil, Chile, Uruguai, Espanha, Paraguai, Costa Rica e Panamá, representantes dos bancários do Itaú Unibanco, Santander, HSBC, BBVA, Banco do Brasil e outros bancos públicos latino-americanos.
A primeira etapa da reunião, que tem o propósito de trocar experiências e definir uma estratégia de ação sindical conjunta dos trabalhadores das instituições financeiras com atuação na América Latina, foi realizada em Santiago do Chile nos dias 26 e 27 de novembro. O encontro é apoiado pela UNI Sindicato Global e pela Coordenadora das Centrais Sindicais do Cone Sul (CCSCS).
Em busca de novas conquistas
“Estamos saindo de uma crise econômica em que os bancos saem ainda mais fortalecidos na América Latina. O movimento sindical precisa avançar mais e romper as barreiras que dificultam a nossa organização internacional em busca de novas conquistas e garantias de direitos dos trabalhadores”, afirmou Carlos Cordeiro ao dar as boas-vindas aos delegados presentes à reunião.
O presidente da Contraf-CUT defendeu, como primeiro passo, a elaboração de estudos sobre emprego e remuneração nos bancos internacionais que atuam na América Latina, para que o movimento sindical tenha subsídios para uma ação mais eficaz.
Participaram também da abertura da reunião o secretário de Organização da CUT Nacional, Jacy Afonso; o diretor regional da UNI Américas Finanças, Marcio Monzane; Ricardo Jacques, membro do Comitê de Finanças da CCSCS e secretário de Relações Internacionais da Contraf-CUT; Juvândia Moreira, secretária-geral do Sindicato dos Bancários de São Paulo; Edson Santos, diretor da Contec e da UGT; e a presidente da UNI Américas Jovens, Adriana Magalhães.
Coincidindo com o Dia Mundial da Luta contra a Aids, Adriana Magalhães e mais duas representantes do Coletivo da Juventude da Fetec São Paulo e Sindicato de São Paulo, respectivamente Anatiana Alves do Nascimento e Karina Carla Prenholato, apresentaram programa de combate ao vírus do HIV que estão desenvolvendo com os jovens bancários
Regulação do sistema financeiro
Após a abertura da reunião, o economista Carlos Eduardo de Carvalho, professor da PUC São Paulo, fez palestra sobre a Regulamentação do Sistema Financeiro Internacional – Alternativas para a Crise, na qual abordou as consequências da crise econômica mundial e o papel que o movimento sindical pode desempenhar nos países latino-americanos para pressionar os governos a fixarem regras mais rígidas que controlem os bancos centrais e as empresas bancárias, de forma a impedir a volta do livre fluxo do capital financeiro – que provocou a crise de 2008.
O economista Carlos Eduardo de Carvalho, que está coordenando um ciclo de seminários organizado pela Contraf-CUT com o objetivo final de elaborar um projeto de regulamentação do sistema financeiro nacional, disse na palestra que há hoje quase um consenso entre os especialistas de que fracassou o modelo neoliberal de auto-regulação dos bancos.
“Há um entendimento de que não é possível mais permitir que os bancos sejam árbitros de si mesmos. Ganha força a idéia de que é preciso colocar travas, rever a regulação e aumentar a fiscalização sobre o sistema financeiro, para diminuir os riscos que isso representa para a sociedade”, disse o professor da PUC-SP.
Carlos Eduardo alertou, no entanto, que os bancos que operam no Brasil foram os que mais ganharam com a crise econômica e estão fazendo pressão para que haja uma desregulação ainda maior do sistema financeiro. É aqui, em sua opinião, que o movimento sindical bancário pode desempenhar um papel importante: pressionar o governo e colocar na agenda da sociedade a discussão sobre a importância de impor mais transparência e regulamentar o sistema financeiro; discutir o papel do Banco Central e cobrar a responsabilização pelos equívocos que levaram à crise e pelas medidas que favoreceram os bancos. “E aqui entra um outro problema: os paraísos fiscais. É preciso proibir definitivamente com isso.”