Com impacto do ágio da compra do Real, Santander lucra R$ 417 milhões

O Santander divulgou nesta quarta-feira, dia 29, os números do primeiro trimestre de 2009, com lucro líquido de R$ 419 milhões no Brasil. Houve nova amortização do ágio da compra do Real e do ABN Amro Brasil Dois Participações, desta vez de R$ 447 milhões, maior que o resultado no período. No balanço do exercício de 2008, o banco já havia descontado R$ 571 milhões.

O surpreendente ágio é de R$ 26,3 bilhões e poderá ser abatido em até dez anos, o que significa uma média anual de R$ 2,6 bilhões. Quem perde com o impacto do ágio são os bancários, pois diminui a PLR. Entretanto, os acionistas não tiveram prejuízos em seus dividendos, assim como os executivos ganharam bônus milionários. Um deles ganhou prêmios acima de R$ 1,6 milhão. “Os bancários cobram igualdade de tratamento, uma vez que são os principais responsáveis pelos resultados do banco”, afirma o funcionário do Santander e secretário de imprensa da Contraf-CUT, Ademir Wiederkehr.

O balanço do primeiro trimestre revela que o lucro “pró-forma” foi de R$ 533 milhões, ficando abaixo dos R$ 902 milhões apurados no mesmo período do ano passado. O resultado também foi impactado pelo aumento da provisão para créditos de liquidação duvidosa, pelo aumento da inadimplência e pela redução das receitas de prestação de serviços e rendas de tarifas, em função da regulamentação do Banco Central. O lucro no Brasil respondeu por 17% do resultado global do grupo no primeiro trimestre.

Demissões injustificáveis

Apesar de todo processo de negociação com o Sindicato para construir alternativas às demissões, que durou mais de sete meses, o Santander e o Real demitiram mais de 3.300 trabalhadores em 12 meses, encerrados em março de 2009. De acordo com o balanço no primeiro trimestre de 2008, o banco que empregava 55.395 bancários, termina o primeiro trimestre deste ano com 52.088 trabalhadores. Só nos primeiros três meses de 2009, foram fechados cerca de mil postos de trabalho.

Em março deste ano, já estava em pleno vigor o plano de incentivo à aposentadoria e de licença remunerada, o “pijama”, que tem como objetivo estimular a criação de vagas com a saída dos aposentados e evitar demissões. Além disso, desde o ano passado está em funcionamento o centro de recolocação profissional.

Dia Nacional de Luta

Ás vésperas do 1º de maio, dia do trabalhador, os bancários protestam em todo o país nesta quinta-feira, dia 30 de abril, realizando um Dia Nacional de Luta para denunciar à sociedade a postura do banco espanhol. “Todos estão fazendo sua parte, menos o banco espanhol que demitiu os trabalhadores sem motivo, visto o lucro que tem contabilizado. Queremos respeito ao Brasil e aos trabalhadores brasileiros. Não é possível seguir essa política de ficar com o lucro gerado pelos brasileiros e demiti-los”, afirma Luiz Cláudio Marcolino, presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo.

Melhoria da PLR

Além de defender os empregos, os bancários cobram mais PLR. Em 31 de outubro de 2008, o presidente mundial do banco, Emílio Botin, afirmou que o lucro para o ano no Brasil seria de R$ 4,8 bilhões. Porém, o resultado oficial foi de R$ 2,759 bilhões, uma brusca redução em torno de R$ 2 bilhões no último bimestre, apesar da junção dos bancos. Na prática, a soma de um banco mais um banco, ficou igual a um.

“Nessa conta, só os bancários perderam, já que os executivos do banco, apesar do sumiço de R$ 2 bilhões do lucro, não tiveram prejuízo. Há casos de superintendentes e diretores do Santander que chegaram a receber R$ 1,4 milhão em bônus. Queremos igualdade de direitos”, protesta Rita Berlofa, diretora do Sindicato dos Bancários de São Paulo e coordenadora da mesa de negociações.

Extinção do Real

O Dia Nacional de Luta coincide com duas assembléias de acionistas do Santander. De acordo com os editais publicados, a primeira será realizada para, entre outras coisas, “deliberar sobre a destinação do lucro líquido do exercício de 2008 e a distribuição de dividendos” e “fixar a remuneração global anual dos administradores da companhia”.

Na segunda, os acionistas vão “aprovar a incorporação do Banco Real pelo Banco Santander (…), com a conseqüente extinção do Banco Real, assim como autorizar a administração do Banco Santander a praticar todos os atos complementares à referida incorporação”.

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