EDUARDO CUCOLO
FOLHA DE S.PAULO
O fortalecimento dos bancos públicos, fusões e o fechamento de instituições de médio porte levaram a um aumento da concentração do sistema bancário nos últimos oito anos no Brasil.
Isso pode ser visto em relação aos três principais indicadores utilizados por entidades brasileiras e internacionais de defesa da concorrência: operações de crédito, depósitos e ativos totais.
Segundo o BC, em junho de 2006, os indicadores estavam próximos à linha que separa a baixa concentração e o nível considerado moderado.
Em junho de 2014, depósitos e crédito se encontravam próximos ao limite que separa a concentração moderada da elevada. O índice internacional IHH (os “H” representam as iniciais dos criadores do indicador), nesses casos, está pouco acima de 0,16, em escala em que a concentração moderada vai de 0,10 a 0,18.
Outro levantamento do BC mostra que, antes da crise de 2008, a participação dos quatro maiores bancos (de um total de 129) nesses três indicadores estava pouco acima de 50% do mercado. Em 2013, estava em torno de 70% (eram 133 bancos), sem alteração em 2014 (eram 132 instituições).
No período se destacaram eventos como o avanço dos bancos públicos pelo aumento de operações de crédito e via compra de parcelas de instituições privadas (como Pan-Americano e Votorantim).
Outro fator foi a fusão entre Itaú e Unibanco, o que permitiu à Caixa entrar no grupo dos quatro maiores.
Também houve a saída do mercado de várias instituições de médio porte, por problemas financeiros ou por desistência de atuar no país.
MAIS DISPUTA
Na avaliação do BC, o aumento de concentração não afetou a competição no setor bancário. Ao contrário. A instituição considera que o crescimento da fatia de mercado dos grandes bancos reflete justamente o aumento da disputa entre essas instituições.
Para o governo, o sistema financeiro nacional é descrito como um ambiente de “competição monopolística”.
O BC diz, porém, que o grau de competição era maior no período 2004-2007, quando o avanço no crédito se dava via bancos privados.
A partir de 2008, houve ligeira redução na concorrência, mas que se mantém acima do que era visto até meados da década passada.
“Tal concentração se deu num ambiente de inédita expansão do crédito bancário, redução dos custos dos serviços financeiros e ampliação do prazo médio da carteira de crédito”, afirma o BC.
Luis Miguel Santacreu, analista do setor financeiro da Austin Rating, afirma que a concentração no sistema financeiro vai além dos serviços bancários, pois a maior parte desses grupos oferece ainda produtos como seguros e cartões de crédito.
Ele afirma que os bancos que estão entrando hoje no país, como alguns asiáticos, vão atuar em áreas específicas, como crédito para exportação ou investimentos. Para o grande público, o segmento de varejo, a oferta continuará limitada a seis grupos: Itaú Unibanco, BB, Caixa, Bradesco, Santander e HSBC.
“O governo tem tentado incentivar a concorrência, com medidas como portabilidade de crédito e redução de spreads dos bancos públicos, mas existe uma concentração que limita esse efeito de queda de juros”, diz Santacreu.
O economista afirma ainda que as novas exigências de capital para aumentar a solidez do sistema bancário estão levando muitas instituições estrangeiras a reduzir sua atuação ou sair de alguns países, inclusive do Brasil.