Valor Econômico
Aline Lima
A manutenção da parceria com os Correios no Banco Postal , que terá sua concessão licitada em meados do ano, é considerada estratégica para o Bradesco, o concessionário do serviço desde 2002. Atualmente com 6.203 agências espalhadas por 5.271 municípios, o Banco Postal não só reforça a tal “presença” do Bradesco – slogan de sua campanha institucional -, dada a abrangência da rede, como também ajuda a posicioná-lo entre os consumidores das classes mais baixas, de forma que o banco capture o movimento de ascensão social em curso. Diante da real possibilidade de perder o Banco Postal, o banco vem se armando.
A nova licitação para contratar o operador de serviços financeiros deve ocorrer até junho e Luiz Carlos Trabuco Cappi, presidente do Bradesco, mostrou-se confiante quanto à disputa em uma reunião realizada com investidores, na quarta-feira. Ele ressaltou que, de todos os bancos que vão participar, o Bradesco é o que tem melhor condições de definir um preço para a franquia.
Mas o Bradesco não está parado, confiando apenas na possibilidade de renovação do contrato com os Correios. No mesmo evento, Trabuco lembrou que o banco abriu postos avançados de atendimento nos locais onde existe o Banco Postal – sem especificar, no entanto, se isso ocorreu em todas as 6.203 agências.
De fato, o Bradesco vem acelerando a abertura de seu Bradesco Expresso – bandeira utilizada nas parcerias firmadas com supermercados, farmácias, varejistas, entre outros estabelecimentos comerciais, exceto os Correios. Somente em 2010, o banco acrescentou 5.904 correspondentes, totalizando 26.104 unidades do Bradesco Expresso (ver gráfico). Desde o fim de 2007, quando o Bradesco renovou o contrato do Banco Postal com os Correios após uma ameaça de rompimento por parte da estatal, até dezembro de 2010, a expansão dos postos do Bradesco Expresso foi de 126,2%.
O Bradesco não revela a distribuição geográfica de seus correspondentes bancários, seja do Bradesco Expresso, seja do Banco Postal. O Valor apurou que, atualmente, dos 5.564 municípios brasileiros onde o Bradesco está presente, em menos de 500 deles essa presença se dá exclusivamente por meio do Banco Postal. Essa diferença, no passado, já foi bem maior, de 1,8 mil municípios.
Ainda que o Bradesco esteja avançando nas regiões mais remotas do país para tentar reduzir a dependência do Banco Postal em termos de capilaridade, perder a licitação que será aberta pelos Correios para um concorrente não deixaria de ser um golpe para o banco da Cidade de Deus. Sem contar que a tão alardeada presença em 100% dos municípios brasileiros poderia perder-se.
No relatório de administração das demonstrações contábeis de 2010 do banco, o Banco Postal é avaliado como “uma bem-sucedida parceria com os Correios, que além de importante ponto de apoio aos clientes Bradesco que transacionam em todo o Brasil é também valioso e dinâmico indutor da expansão de mercado, pela capacidade de oferta de produtos e serviços financeiros”.
A intenção do Bradesco em manter a parceria é clara. A disposição, no entanto, vai depender do preço que será pedido. Wagner Pinheiro, presidente dos Correios, já deu declarações avisando que o valor será, no mínimo, cinco vezes maior que o atual – de R$ 350 milhões por ano. O contrato será válido por cinco anos.
O Bradesco leva vantagem perante a concorrência porque tem condições de analisar melhor quanto vale a operação. Nesses dez anos de parceria, avaliou qual região é mais rentável, qual tem potencial e qual não tem. Essas informações também são valiosas para montar uma rede paralela.
Aldemir Bendine, presidente do Banco do Brasil (BB), adiantou que não tem tanto interesse no Banco Postal. Segundo ele, o BB está bem servido pela própria rede de correspondentes e já tem um plano traçado para estar presente em todos os municípios brasileiros em quatro anos, por meio de um modelo compacto de agências.
Questionado se teria interesse em participar da licitação para o Banco Postal, Roberto Setubal, presidente do Itaú Unibanco, disse, durante coletiva de imprensa para apresentação dos resultados de 2010, que o negócio parecia interessante. “Certamente vamos olhar com interesse.”
Se a distribuição da rede de correspondentes do Bradesco é desconhecida, tampouco é sabido o impacto das operações do Banco Postal nos resultados do banco. Uma pesquisa sobre correspondentes bancários feita pelo Centro de Estudos em Microfinanças da FGV e pelo World Bank revela que o Banco Postal ganha US$ 15 por cada nova conta aberta. Os ganhos com essas novas contas correspondem a 12% do faturamento total, embora elas representem 0,7% das transações.
Mas a importância da parceria com o Correios vai além da receita – é uma questão de posicionamento de mercado. “A relação é de proximidade, o correspondente bancário é o private banking dos pobres”, diz Lauro Emilio Gonzalez Farias, professor da FGV. Ele conta que quando fez a pesquisa (com 295 agentes localizados nas regiões Norte e Nordeste), notou que a população chamava de Banco Postal qualquer estabelecimento comercial que fizesse as vezes de banco, fosse ou não do Correios.
Fernando Salazar, analista da Fator Corretora, chama atenção para a capacidade de a parceria atrair um público não-bancarizado. Mario Pierry, do Deutsche Bank, lembra que o poder aquisitivo dessa população vem aumentando e que 34 milhões de pessoas entraram na classe C nos últimos cinco anos.
Desde 2002, quando o Banco Postal deu início às atividades, foram abertas dez milhões de contas correntes – boa parte delas, provavelmente, de pessoas que estavam à margem do sistema bancário. “A clientela é nossa, de responsabilidade do Bradesco, já que o Correios não são banco, simplesmente operam [serviços financeiros]”, salientou Trabuco durante a divulgação dos resultados do banco em 2010, mas sem se estender sobre o tema “licitação”. “Estamos aguardando a modelagem.”