Os bancos, mesmo com lucros em 2009 acima de R$ 37,4 bilhões, desligaram 30.034 funcionários e admitiram 29.413, o que significa uma redução de 621 postos de trabalho. Esses números fazem parte do estudo elaborado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) sobre o emprego no setor bancário, com base no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
Apesar de o Caged não disponibilizar os dados por empresa, é possível perceber a responsabilidade do setor privado no fechamento de postos de trabalho. O cadastro revela um aumento de 3.360 ocupações no setor de Caixas Econômicas. Dessa forma, se fossem excluídos os números desse setor, o saldo negativo geral passaria para menos 3.981 postos de trabalho.
“Esse corte brutal mostra que o sistema financeiro privado está na contramão da economia brasileira, que criou 995.110 novos empregos formais em 2009”, afirma Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT. O estudo revela também que essas instituições estão usando a rotatividade para baixar a média salarial dos trabalhadores e que mantêm a discriminação em relação às mulheres, que estão sendo contratadas com salários inferiores aos dos homens.
O fechamento de vagas acontece num período em que os seis maiores bancos do país (Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco, Santander, Caixa Econômica Federal e HSBC) registraram, juntos, um lucro de R$ 37,404 bilhões, aumento de 5,41% em relação ao ano anterior, mesmo em um ano de crise financeira mundial em que o PIB do país apresentou uma queda de 0,2%. “Os bancos brasileiros não foram abalados pela turbulência dos mercados internacionais, garantiram os seus lucros astronômicos, mas cortaram empregos, o que é inaceitável”, protesta o dirigente sindical.
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No último trimestre de 2009, o saldo do Caged foi positivo, com 1.455 empregos criados, resultado de 8.686 admissões e 7.231 desligamentos. No entanto, essa recuperação não foi suficiente para reverter o quadro negativo que se acumulou desde o início do ano. No mesmo período de 2008, os dados do Caged mostram uma situação diferente com um saldo positivo de 15.229 ocupações, fruto de 54.627 admissões e 39.398 desligamentos.
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Há mais bancários que morrem do que se aposentam nos bancos privados
Em relação ao tipo de desligamento, os dados do Caged mostram que a maior concentração do tipo de desligamento é a demissão sem justa causa, responsável por 16.786 do total de trabalhadores desligados ou 55,89%. Além disso, cerca de 35,65% dos desligados pediram demissão de seus empregos, representando um total de 10.706 trabalhadores. “Esse dado é reflexo das más condições de trabalho a que são submetidos os bancários, com pressão constante pelo cumprimento de metas abusivas, assédio moral e outros problemas, levando a adoecimento e demissões. As demissões imotivadas comprovam a alta rotatividade do setor, o que expõe os trabalhadores a grande vulnerabilidade”, avalia Carlos Cordeiro.
Outro dado que chama atenção é o pequeno número de aposentadorias entre os motivos de desligamento de funcionários dos bancos. “Isso é um reflexo do alto número de demissões, que as empresas usam para diminuir a folha de pagamento. Considerando que os bancários que se aposentam são quase todos de bancos públicos, podemos concluir que há mais bancários que morrem do que se aposentam nos bancos privados”, denuncia o presidente da Contraf-CUT.
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Com demissões, bancos gastam menos com salários
Em 2009, segundo o Caged, a remuneração média dos admitidos foi de R$ 2.099,83 e a dos desligados R$ 3.509,59, o que significa uma redução de -40,17%. A diferença vinha caindo ao longo do ano, tendo alcançado índices abaixo de -30% nos meses de julho, agosto e outubro, mas voltou a crescer acentuadamente nos dois últimos meses de 2009, atingindo patamares de -40%. Em 2008, a remuneração média dos admitidos foi de R$ 1.959,84 e a dos desligados R$ 3.325,89, o que significa uma diferença de – 41,07%.
Os dados mostram ainda que o saldo positivo de emprego no setor bancário situa-se nas faixas até 3,0 salários mínimos, com destaque para a faixa de 2,01 a 3,0 salários mínimos, que teve um saldo de 10.578 ocupações. A partir daí, todas as faixas apresentam saldo negativo de ocupações, com destaque para a faixa de 5,01 a 7,0 salários mínimos (-3.179).
Bancos privados dispensam mais trabalhadores
O corte de empregos fica ainda claro também ao analisarmos os balanços de 2009 das principais instituições. Enquanto Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal tiveram saldo positivo de 972 e 3.131 novos funcionários, respectivamente, os quatro maiores bancos privados (Itaú Unibanco, Bradesco, Santander e HSBC) reduziram seus quadros em 11.582 trabalhadores. O banco que mais reduziu funcionários foi o Itaú Unibanco, que se encontra em processo de fusão.
Importante lembrar que os números do Caged são baseados somente em empregados com carteira assinada do banco, não sendo considerados terceirizados, estagiários e outros profissionais. Nos balanços, os bancos divulgam o número total de funcionários, sem transparência, uma vez que não especificam o tipo da relação de trabalho.
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“Todos esses indicadores reforçam a nossa luta pela geração de empregos e melhoria dos salários e das condições de trabalho no sistema financeiro”, avalia o presidente da Contraf-CUT. Na campanha salarial de 2009, os bancários conquistaram 10 mil contratações até o final de 2011 no BB e 5 mil até dezembro deste ano na Caixa. “Os bancos, com seus lucros abundantes, têm de fazer a sua parte para o crescimento da economia e oferecer contrapartidas sociais, sobretudo as instituições privadas, a fim de valorizar os trabalhadores e o povo brasileiro”, conclui Carlos Cordeiro.