Bancos iniciam corrida atrás de capital por causa de Basileia 3

Carolina Mandl
Valor Econômico – São Paulo

Os bancos brasileiros começam uma corrida atrás de capital para reforçar seus balanços até 2019, quando as regras de Basileia 3 estarão 100% em vigor.

Simulações preliminares apresentadas a investidores pelos maiores bancos do país mostram que Banco do Brasil (BB), Bradesco, Itaú Unibanco e, principalmente, a Caixa Econômica Federal terão de adotar ações para reforçar seus níveis de capitalização.

Se a totalidade das normas de Basileia 3 já estivesse vigente hoje, só o Santander se encontraria em um patamar bastante confortável, com 16,4% de capital de nível 1, aquele de melhor qualidade. Os demais bancos não alcançariam o teto do mínimo de capital que pode vir a ser demandado.

Em 2019, o Banco Central (BC) exigirá que os bancos tenham um mínimo entre 8,5% e 11% de seus ativos em capital de nível 1, aquele composto por recursos dos acionistas, lucros retidos e alguns tipos de dívida que não oferecem muitos privilégios aos credores.

Para suportar eventuais turbulências ou plano de expansão, dois bancos de grande porte relataram ao Valor que querem alcançar um patamar de capital de nível 1 entre 1 e 1,5 ponto percentual acima do mínimo requerido. Hoje, mais branda, a regra demanda 5,5% dos ativos em capital de nível 1.

Diante do tempo de adequação que os bancos têm, a situação está longe de ser catastrófica. Mas estratégias já são elaboradas e postas em prática. Vendas de negócios, redução de dividendos e captação de dívidas são opções.

Além disso, recursos que já estão dentro de casa também podem fortalecer o capital. Os bancos contam com um bilionário colchão extra de provisão para créditos de má qualidade. Como esse dinheiro ultrapassa o volume mínimo exigido pelo BC, as instituições podem reverter essas provisões. Transformados em lucro, esses recursos voltam para o patrimônio. O maior colchão pertence ao Itaú, cujas provisões adicionais somam R$ 5,2 bilhões, enquanto a Caixa não conta com esse tipo de ativo.

Os bancos chegaram a discutir com o BC a contabilização desses recursos no índice de Basileia sem a necessidade de desfazer as provisões, mas a autoridade não permitiu, para evitar que as normas brasileiras tivessem “jabuticabas”.

Bastante comum no exterior, a venda de carteiras de crédito para investidores deve ser outro recurso. A chamada securitização de ativos bancários ainda é incipiente no Brasil, principalmente, porque antes de Basileia 3, os bancos tinham folga nos balanços para reter os empréstimos. Dois bancos afirmaram ao Valor que devem vender suas operações como forma de abrir folga de capital para gerar novas transações.

O BB já informou que estuda uma redução do percentual do lucro distribuído. Ao reter mais lucro, o banco reforça o capital. Hoje o BB paga aos acionistas 40% do resultado. É um patamar acima dos 35% de Bradesco e Itaú, que não pretendem mexer nos dividendos.

Medida semelhante à do BB será tomada pela Caixa, que reduzirá o dividendo entregue ao Tesouro, para algo entre 40% e 50% do lucro. No ano passado, destinou 70%.

“Não tem nenhum problema de necessidade de capital para este ano. Para 2015, vai depender de como vai ser nosso planejamento”, diz Márcio Percival, vice-presidente da Caixa. Questionado sobre um novo aporte do Tesouro no banco em 2015, o executivo afirmou que a Caixa ainda está em fase de avaliação das medidas que tomará.

Vendas de ativos começam a surgir. O Itaú quer vender sua seguradora de grandes riscos.

Para fortalecer o nível 1, os bancos também emitirão mais dívidas conversíveis em capital, os chamados “CoCo bonds” (“Contingent Convertible bonds”). Esses novos títulos permitem aos bancos levantar recursos elegíveis a compor seu capital dentro de Basileia 3. Por enquanto, apenas BB e Santander testaram o instrumento, mas todos os grandes bancos devem acessar esse mercado em breve.

Um empurrão fundamental para o reforço de capital virá do próprio negócio. Quanto mais rentáveis os bancos forem, menor será a necessidade de encontrar outras alternativas para se capitalizar. O lucro retornará naturalmente para o capital.

“A rentabilidade de Itaú e Bradesco neste ano e em 2015 deve ser alta. Isso mais do que compensa o consumo de capital vindo da expansão do crédito”, diz Carlos Macedo, analista do Goldman Sachs. No primeiro trimestre, o retorno sobre o patrimônio do Itaú ficou em 22,6%, e o do Bradesco, em 20,5%.

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