Na sexta-feira 11 os responsáveis pela segurança dos maiores bancos do Brasil reuniram-se com a Polícia Militar em São Paulo. O encontro seria proveitoso se eles finalmente tratassem de esquemas de segurança para proteger clientes e bancários, frequentemente expostos a assaltos e sequestros.
Mas não. Os representantes dos banqueiros e da PM, faziam uma reunião secreta, a pedido dos bancos, para montar um esquema de repressão a uma “possível” greve dos bancários.
“Isso é um absurdo e mostra o verdadeiro caráter repressor dos banqueiros”, afirma o presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Luiz Cláudio Marcolino, que enviou carta à Secretaria de Segurança Pública solicitando esclarecimentos sobre o papel da PM nessa história. “O que os banqueiros estão fazendo é rasgar a Constituição do Brasil, que prevê o legítimo direito de greve dos trabalhadores”, destaca Marcolino, lembrando que a força dos empregados está na mobilização.
“Sem isso, o poder econômico dos patrões, que é muito maior, sempre venceria e não haveria direitos trabalhistas. Estaríamos, ainda, no tempo da escravidão”, diz. “Isso só vai piorar as coisas, os bancários não vão se amedrontar. Vamos continuar na luta e denunciar a toda a sociedade essa atitude criminosa dos banqueiros”, enfatiza o dirigente sindical.
> Leia a mensagem da Febraban sobre a reunião com a PM
> Leia a carta do Sindicato enviada para a Secretaria de Segurança Pública
Justiça
O ponto de vista do presidente do Sindicato é confirmado por magistrados e juristas. Em seminário sobre o tema realizado em agosto, representantes da Procuradoria Geral do Trabalho, da Associação Nacional dos Magistrados (Anamatra) e do Tribunal Superior do Trabalho (TST) foram unânimes em reafirmar que o direito de greve está protegido pela Constituição como forma de defesa da valorização do trabalho.
“É o principal mecanismo do trabalhador de enfrentamento da força empresarial. Exercício justo e legítimo”, disse Omar Afif, procurador-geral do Trabalho.
Para Flavio Landi, da Anamatra, “mesmo o piquete, enquanto for pacífico está protegido pela Constituição, que estabelece que a ordem econômica está adstrita à valorização do trabalho”.
O ministro do TST, Vantuil Abdala, abordou a importância da participação no fórum de decisão dos trabalhadores: a assembleia. “Apesar de a assembleia da maioria decidir, alguns vão trabalhar e ainda querem argumentar pela ilegalidade. Aquele que não deseje suspensão dos trabalhos deve participar da assembléia e votar contra o movimento.”
Negociação
O caminho escolhido pelos banqueiros – do confronto, conforme evidencia essa reunião com a PM e os interditos – abala a solução negociada para as campanhas salariais, o que sempre caracterizou a relação de trabalho dos bancários. “Temos uma rodada de negociação na quinta-feira, 17. Convocar essa reunião parece significar que os negociadores da federação dos bancos (Fenaban) não pretendem apresentar proposta séria, empurrando os bancários novamente para a greve e, diante dessas informações, para o risco”, avisa Marcolino.
“Esperamos que as autoridades competentes regulem a atuação da PM do estado de São Paulo, que não pode se voltar contra os trabalhadores. Tem de protegê-los. PM não é segurança de banqueiro”, completa Marcolino.
Denúncia
O Sindicato recebeu denúncia informando sobre a reunião convocada pelo setor de segurança bancária da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) com o Comando da Polícia Militar no dia 11 de setembro.
De acordo com a denúncia, a Febraban solicitou apoio da PM para o cumprimento dos interditos proibitórios, que visam coibir as manifestações do Sindicato nas agências e concentrações bancárias. A federação dos bancos teria informado à PM as localidades de maior ação do Sindicato – Centro Velho, Paulista, Santo Amaro, Osasco – e informado sobre uma “possível união entre o Sindicato dos Vigilantes e o Sindicato dos Bancários” .
A PM teria pedido então, à Febraban, a confirmação desses locais e as informações dos bancos deveriam ser repassadas à assessoria técnica da Febraban que as encaminharia aos policiais.
“Tudo isso vai na contramão da ação legítima do Sindicato e dos trabalhadores”, comenta o presidente do Sindicato, Luiz Cláudio Marcolino. “Solicitamos à Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo que apure o ocorrido e mantenha a PM a serviço da população, dos trabalhadores, e não na defesa de interesses privados.”