Criado com a desculpa de democratizar o acesso ao sistema financeiro, o correspondente bancário virou símbolo do preconceito e discriminação dos bancos, que empurram os mais pobres para este tipo de atendimento. Segundo pesquisa feita pelo Instituto Fractal, 41% das pessoas que utilizam o correspondente bancário têm renda mensal entre R$ 251 e R$ 500. Outros 53% ganham salários de R$ 500 a R$ 800, enquanto os 6% restantes sobrevivem com R$ 250 a cada trinta dias.
Ao mesmo tempo em que empurram os mais pobres para fora das agências, os bancos têm investido pesado para melhorar o atendimento aos clientes mais ricos. Este mês, o HSBC anunciou que pretende concentrar sua expansão no Brasil no segmento de varejo de alta renda.
O banco inglês vai investir R$ 70 milhões na abertura de 30 das chamadas agências Premier, elevando o total desses pontos para cem até o fim do ano. As agências Premier são projetadas para atender clientes que ganham pelo menos R$ 5 mil por mês e que tenham R$ 50 mil disponíveis para investimentos.
A situação nos bancos públicos não é diferente. O Banco do Brasil também anunciou que quer crescer no segmento de alta renda. Hoje são 400 mil clientes com renda acima de R$ 6 mil mensais ou com aplicação superior a R$ 100 mil. O private responde por 11 mil clientes desse total, com mais de R$ 1 milhão para investir.
O banco pretende dobrar esse número e chegar a 800 mil clientes em três anos, diz o novo superintendente da área, Jânio Macedo. No ano passado, a área cresceu 30% em número de clientes.
De acordo com a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), os clientes de alta renda já respondem por até 30% dos lucros obtidos pelas agências bancárias.
Bancários prejudicados
O preconceito dos bancos com os mais pobres prejudica diretamente o emprego dos bancários. Na década passada, o crescimento do número de correspondentes foi um dos vilões da redução de postos de trabalho entre os bancários. Em 1990, o Brasil tinha mais de 750 mil trabalhadores na categoria. Hoje são cerca de 465 mil.
“Os bancários estão nitidamente sobrecarregados. O resultado disso são estresse e doenças ocupacionais para os trabalhadores e queda da qualidade do atendimento para os clientes. Para os correspondentes sobra a precarização do emprego, já que fazem o mesmo trabalho dos bancários, mas ganham menos e não têm os mesmos direitos previstos na nossa Convenção Coletiva”, afirma o presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Luiz Cláudio Marcolino.
Além do preconceito com os mais pobres e dos ataques aos direitos dos bancários, Marcolino destaca outro problema dos correspondentes: a total falta de segurança. “Os bancos não cuidam nem da segurança das agências direito, quanto mais dos correspondentes, que muitas vezes operam em locais precários. Há anos o Sindicato tem lutado para corrigir as distorções criadas pelos correspondentes bancários, que precisam de regulação no país, assim como todo o sistema financeiro nacional”, finaliza o presidente do Sindicato.