Bancos da Europa têm capital para suportar perdas, mostram testes

The Wall Street Journal
Stephen Fidler, Alessandra Galloni, Adam Cohen,

Os tão esperados testes de estresse mostraram, ontem, que os 22 maiores bancos da União Europeia poderão ter até ? 400 bilhões, ou US$ 585 bilhões, em perdas com créditos este ano e no próximo, se a economia da região se deteriorar mais do que o esperado. Em uma interpretação otimista desse exercício, ministros da fazenda desse bloco de 27 países disseram que os testes mostram que os grandes bancos têm capital suficiente para enfrentar uma severa deterioração macroeconômica.

Esse relatório aparentemente tranquilizador vai alimentar a tensão entre autoridades da União Europeia e dos Estados Unidos, que debatem se os bancos europeus estão suficientemente capitalizados para dar suporte a uma recuperação econômica. Os EUA creem que os bancos europeus precisam de mais capital, mas os resultados do teste do estresse parecem indicar outra coisa.

Contudo, os supervisores do setor bancário que realizaram os testes não apresentaram resultados subdivididos por países, nem outros detalhes, levantando dúvidas sobre o rigor desse exercício e sua utilidade. Vários analistas do setor bancário europeu disseram que não tinham acompanhado o exercício. Um observador oficial, não autorizado para se pronunciar em público, disse que o teste “foi concebido para tranquilizar”.

Em contraste, os testes de estresse dos bancos americanos, completados em maio, embora vistos por alguns analistas como cuidadosamente coreografados, concluíram que 10 bancos americanos precisavam levantar mais US$ 74,6 bilhões em capital, e indicaram qual o capital necessário para cada banco.

Índices americanos de ações, assim como o setor bancário, subiram bastante depois que os resultados saíram. As perdas para os bancos europeus foram calculadas assumindo uma contração econômica na UE de 5,2% este ano e 2,7% no ano que vem, em contraste com as atuais previsões de crescimento negativo de 4% neste ano e crescimento positivo de 0,4% em 2010.

Em seu comunicado, os ministros disseram: “Essa capacidade de recuperação do sistema bancário reflete o recente aumento nas previsões de lucros e, em alto grau, o importante apoio atualmente prestado pelo setor público às instituições bancárias”.

Disseram ainda que, com base nas previsões econômicas atuais, uma importante medida da adequação do capital – o chamado nível 1 – ficaria bem acima de 9% para os 22 bancos, frente ao requisito mínimo de 4%. Segundo o cenário econômico mais pessimista do teste do estresse, nenhum banco veria sua capitalização nível 1 cair abaixo de 6%.

Os resultados não se comparam diretamente com um estudo mais extenso do sistema bancário europeu feito pelo Fundo Monetário Internacional, publicado esta semana. O FMI informou que bancos dos 16 países da zona do euro não precisariam levantar capital para garantir um nível 1 de pelo menos 6%, mas precisariam levantar US$ 150 bilhões para aumentar essa proporção para 8%, e US$ 380 bilhões para chegar aos 10%.

A adequação da reserva de capital dos bancos europeus tem sido uma contínua fonte de atritos entre os governos europeus e os EUA, chegando também às reuniões do Grupo das 20 principais economias, cujos líderes se encontraram em Pittsburgh na semana passada.

Os EUA temem que bancos mal capitalizados possam comprometer a recuperação econômica – como ocorreu no Japão nos anos 90. Antes do encontro do G-20, os EUA propuseram que todos os bancos aumentem seus níveis de capitalização para chegar a uma proporção de alavancagem, ou total de ativos como múltiplo do patrimônio, que implicaria a necessidade de grandes captações de recursos por parte de alguns grandes bancos europeus.

Os governos europeus, liderados pela França e Alemanha, conseguiram diluir a iniciativa americana. As medidas de capitalização usadas na Europa incorporam valores outros além do patrimônio líquido e o cálculo é feito como proporção de ativos ponderados pelo risco. Por exemplo, títulos de dívida emitidos pelo governo do país do banco recebem valor zero.

O FMI calculou que insistir em um múltiplo de alavancagem de 25 – o possível futuro alvo dos bancos globais – obrigaria os bancos americanos a levantar US$ 130 bilhões em novo capital. Mas os bancos na zona do euro teriam que levantar muito mais: US$ 310 bilhões.

Os bancos do Reino Unido também precisariam de um reforço de capital de US$ 120 bilhões. Esses requisitos extra também recairiam com mais peso sobre os grandes bancos envolvidos nos mercados de capital e atividades com derivativos, segundo analistas do setor.

Mesmo sem novas regras firmemente estabelecidas, alguns bancos estão aproveitando a alta nas bolsas para levantar capital, ainda que modestamente. Três bancos europeus anunciaram esta semana que pretendem aproveitar os mercados financeiros para reforçar seu capital.

O BNP Paribas SA maior banco da França em valor de mercado, anunciou na terça-feira que vai lançar uma emissão de direitos no valor de ? 4,3 bilhões, que pretende utilizar, juntamente com outros fundos, para pagar ao governo francês os ? 5,1 bilhões que este comprou em ações do BNP sem direito a voto.

Dois bancos italianos, UniCredit SpA e Intesa Sanpaolo SpA, também revelaram planos de levantar capital, dando as costas aos títulos de renda fixa lançados pelo governo italiano, que foram oferecidos aos bancos do país em meio à crise financeira. Os dois bancos informaram que vão preferir os mercados financeiros.

Como os pacotes de ajuda do governo italiano vieram com várias condições – inclusive restrições sobre dividendos e bônus -, a maioria dos bancos italianos decidiram não aceitar a oferta.

O UniCredit anunciou um aumento de capital de ? 4 bilhões, enquanto que o Intesa Sanpaolo SpA informou que vai emitir um título de renda fixa híbrido, de nível 1, no valor de até ? 1,5 bilhão, para reforçar suas finanças.

Como o BNP está comprando uma participação do governo, seu nível 1 de capital sobe só ligeiramente, de 9,1% para 9,3%. O do Unicredit aumenta de 7,66% para 8,46%, ao passo que o do Intesa sobe de 7,7% para 8,1%, segundo analistas bancários.

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