Em palestra realizada no último sábado (29), em Guarapari (ES), durante a 15ª Conferência Interestadual dos Bancários do Rio de Janeiro e Espírito Santo, o secretário de Organização do Ramo Financeiro da Contraf-CUT, Miguel Pereira, fez um alerta à categoria: os bancos, em parceria com as empresas de telefonia, começam a lançar uma nova modalidade de serviços e operações financeiras via celular, em uma nova fase tecnológica que ameaça ainda mais o emprego.
A medida está prevista na Medida Provisória (MP) 615, que foi assinada sem qualquer diálogo com o movimento sindical e que cria uma espécie de “moeda virtual”, ou seja, o indivíduo poderá realizar praticamente todo o tipo de operação financeira em seu próprio celular: pagamentos, transferências e aplicações. A Contraf-CUT já solicitou uma audiência com o governo para discutir o assunto.
Segundo Miguel, a proposta, que virá acompanhada de uma pesada campanha publicitária, é “sedutora” para os clientes dos bancos. “Imagina a população saber que não precisa ir mais a uma agência, mas poderá fazer tudo em sua casa sem o risco de ser assaltado, sem enfrentar filas”, disse.
Para o diretor da Contraf-CUT, as agências estarão cada vez mais voltadas para o atendimento aos grandes correntistas. Para o presidente do Sindicato dos Bancários do Rio, Almir Aguiar, o emprego dos bancários sofrerá mais um ataque com esta nova tecnologia.
“Estas mudanças, somadas à ampliação das terceirizações previstas no PL 4330, colocam em risco a qualidade do emprego e a própria existência da categoria. Somente com a mobilização dos trabalhadores poderemos enfrentar mais esta ação perversa do capital contra os direitos trabalhistas e a vida de quem, de fato, garante os lucros das empresas”, salienta Almir.
Para ricos e pobres
Os bancos brasileiros utilizarão duas tecnologias para oferecer serviços bancários via celular: uma, que já está sendo aplicada no Quênia e na Nigéria, para os clientes mais pobres.
O outro modelo, utilizado no Japão, será para os grandes correntistas. As parcerias entre bancos e operadoras de telefonia celular já estão firmadas e o novo modelo de atendimento já está pronto para funcionar, inclusive nos bancos públicos.
“Essas formas de atendimento com o uso das novas tecnologias me levam a crer que a piora no atendimento nas agências, causadas pelas demissões, faz parte de uma estratégia dos banqueiros para a população aprovar as operações feitas de seu próprio celular”, ressalta o diretor do Sindicato do Rio, Geraldo Ferraz.