O Sindicato dos Bancários de São Paulo fez um ato de protesto em frente à Bolsa de Valores de São Paulo na manhã de quarta-feira 7, enquanto o presidente do Grupo Santander Brasil participava do lançamento oficial de R$ 14,1 bilhões em ações, a segunda maior operação já realizada no mercado de capitais brasileiro em todos os tempos e a maior oferta de ações do mundo em 2009.
“Na prática isso quer dizer que o Santander colocou R$ 14 bilhões nos seus cofres”, explica o diretor do Sindicato e funcionário do banco Paulo Salvador. O banco anunciou que vai usar este dinheiro para abrir 600 agências no país nos próximos quatro anos e fortalecer o crédito imobiliário. “Seria interessante saber como o Santander pretende competir com a Caixa Federal no crédito imobiliário. A Caixa é líder com folga nesse segmento e acaba de lançar um programa que vai financiar 1 milhão de residências”, disse, fazendo referência ao programa Minha Casa Minha Vida, que prevê o financiamento para construção de moradias direcionado para praticamente toda a população, em todas as faixas de renda.
“Também estranhamos esse número espalhafatoso de 600 agências a serem abertas, considerando que nunca tinha se falado nisso e que o Santander é o banco brasileiro que mais demite. E os antecedentes de promessas não cumpridas pelos dirigentes desse banco somam-se às razões para ficarmos com um pé atrás”, afirma.
Rita Berlofa, também diretora do Sindicato e bancária do Santander, concorda com Salvador e lembra também do perigo de boa parte dos R$ 14 bilhões acabarem indo para a Espanha. “A gente viu no ano passado o banco prever um lucro de R$ 4 bilhões em setembro e depois anunciar um lucro de R$ 2 bilhões em 2008, sem explicar onde tinha ido parar o restante. Depois mandou para a Espanha R$ 3 bilhões, sangrando do país todo o lucro anunciado e mais um tanto”, disse.
Para ela, a situação complicada da economia espanhola pode ser um incentivo a mais para o envio do dinheiro para a Europa. “A crise ainda está forte por lá e o Santander tem problemas sérios para resolver, como por exemplo o fundo fraudulento gerido pelo ex-presidente da Nasdaq Bernard L. Madoff, que deixou um buraco de US$ 3,1 bilhões. Vamos ficar em cima e fiscalizar os desdobramentos”.
William Mendes, secretário de Formação da Contraf-CUT, que participou da atividade, criticou o descaso demonstrado pelo presidente do Santander, Fábio Barbosa, que também preside a Fenaban, com as reivindicações da categoria. “Os bancários estão em plena campanha salarial, esperando uma nova proposta dos bancos desde a sexta-feira, dia 2, e o presidente da entidade patronal foi viajar pela Europa. Quando retorna ao Brasil, entra pela porta dos fundos da Bovespa para não ter contato com os bancários”, afirma William.
O dirigente lembra que os bancários têm recebido muito apoio da população, que considera irresponsabilidade dos bancos não apresentar proposta que atenda às reivindicações da categria. “A população entende que os bancários, além de reivindicar aumento real de salário e melhor PLR de forma justa, lutam pelo aumento na oferta e barateamento do crédito e melhoria das condiões de atendimento e segurança para os clientes. Vamos continuar nessa batalha até arrancar uma proposta justa para nós e para toda a sociedade”, sustenta.