Presidente da Contraf-CUT, Carlos Cordeiro, fala no ato unificado
Bancários, petroleiros, trabalhadores dos Correios em greve, portuários, químicos e representantes de diversas outras categorias se reuniram na Candelária, no Rio de Janeiro, na manhã desta quarta-feira (21) para lutar por aumento real de salário, defesa da vida, fim do assédio moral, ratificação das Convenções 158 e 192 da OIT, fim dos correspondentes bancários, fim do fator previdenciário e redução da jornada de trabalho sem redução de salários, entre outras reivindicações. Por volta das 10h, cerca de 2 mil pessoas seguiram pelas ruas do centro até a Edise, edifício-sede da Petrobrás, onde realizaram um ato público.
O evento reuniu duas das maiores categorias do país, que negociam no segundo semestre: os bancários e petroleiros. Os trabalhadores dos Correios, que já estão em greve e enfrentam a intransigência da direção da empresa, também organizaram o ato e participaram ativamente. Havia também trabalhadores de várias categorias e até um representante dos petroleiros bolivianos.
Foi um grande ato unificado para mostrar a disposição de luta de várias categorias contra o aperto salarial que algumas empresas estão tentando impor a seus funcionários. O ato também teve como mote a luta por melhores condições de trabalho e respeito à vida, uma vez que os acidentes de trabalho continuam vitimando trabalhadores de várias categorias.
“É muito importante a unidade de todas as categorias para mostrar e chamar a atenção da sociedade que nós não vamos aceitar a visão de alguns economistas, inclusive do BACEN, de que salário causa inflação. A melhor forma de enfrentar a crise é aumentando os salários, a renda, fortalecendo o mercado interno e é por isso que estamos nas ruas para defender salário, emprego, saúde e condições de segurança”, esclareceu Artur Henrique, presidente da CUT.
Já o secretário de Administração e Finanças da CUT e ex-presidente da Contraf-CUT, Vagner Freitas, citou que a realização do ato era um exemplo da atuação da CUT ao lado dos trabalhadores. “Muitas pensaram que com a eleição do companheiro Lula e da Dilma nós iríamos arrefecer a luta do movimento sindical. Muito pelo contrário, estamos cada vez mais mobilizados e com unidade entre as categorias. O Brasil hoje registra uma boa taxa de crescimento econômico, mas queremos o retorno disso com distribuição de renda para a classe trabalhadora”, ressaltou.
Construir a mobilização
Os bancários, que estão numa semana decisiva das negociações da Campanha Nacional, levaram às ruas a proposta de índice rebaixado apresentada pelos bancos, que supera a inflação do período em menos de meio ponto percentual. Os sindicalistas também deixaram claro que o assédio moral, as metas abusivas e a sobrecarga de trabalho estão adoecendo os trabalhadores. Também foi denunciada à população a alta rotatividade no setor, que demite trabalhadores para contratar outros por um salário mais baixo.
A proposta apresentada pelos banqueiros na última negociação, no dia 20, nem se aproxima da reivindicação dos bancários. Ainda vai acontecer uma nova rodada nesta sexta-feira, dia 23, mas os bancários já estão se preparando para uma greve a partir do dia 27.
“Estamos vendo claramente que é insuficiente a proposta apresentada porque oferece apenas 0,37% de aumento real e isto está muito longe do lucro e da rentabilidade dos bancos”, afirma Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT e coordenador do Comando Nacional dos Bancários.
“Não houve proposta de valorização do piso e, como nossa campanha não é meramente econômica, estamos preocupados porque a questão do emprego, da rotatividade, da falta de funcionários foi um tema que debatemos muito na mesa. Queremos que essa campanha, essa convenção coletiva possa apontar alguma solução. O que os bancários hoje mais reclamam é das péssimas condições de trabalho, do assédio moral, da pressão pelo cumprimento de metas e nestes pontos também não avançou nada”, sustenta.
Para Fabiano Júnior, presidente da Federação dos Bancários do Rio e Espírito Santo, a sinalização foi positiva, porque a proposta apresentada pelos banqueiros zerou a inflação e deu 0,37% de aumento real. “Mas isso é insuficiente e, para mudarmos esta realidade, só com mobilização e assembleias cheias. É importante que todos os bancários e bancárias dos estados do Rio e Espírito Santo, a base da nossa Federação, junto com seus sindicatos, mobilizem toda a categoria para as assembleias do dia 22. E no dia 26 vamos ter novas assembleias para avaliar o resultado da reunião do dia 23”, anuncia.
A expectativa dos sindicalistas é de que a Fenaban faça uma proposta mais próxima do que foi reivindicado pelos bancários na rodada de sexta-feira, dia 23, mas eles sabem, pela experiência, que isso só acontece se houver muita pressão. “Já sabemos que, só com uma greve organizada da categoria, vamos conseguir que a Fenaban apresente uma proposta melhor”, pondera Fabiano.
Problemas comuns
Mobilizados estão também os ecetistas, que estão em greve desde o último dia 13 e lidam com a ameaça de desconto dos dias parados, já que a empresa já anunciou que só vai abrir negociação se a paralisação for suspensa. Além de reajuste, os trabalhadores dos Correios reivindicam aumento do piso.
“Estamos pedindo a incorporação de R$ 400 e piso salarial de três salários mínimos para retomarmos o rumo da recomposição salarial”, informa Ronaldo Martins, presidente do SintECT-RJ. Também entrou na pauta de reivindicações o aumento do número de trabalhadores da empresa, já que nos últimos três anos não houve contratações. Um PDV recente também ajudou a piorar a situação e os Correios têm atualmente um déficit de 11 mil trabalhadores no país.
Em comum com os trabalhadores do sistema financeiro, os ecetistas têm o problema dos correspondentes bancários. Depois de terminado um contrato de dez anos com o Bradesco para operar o Banco Postal, o governo acaba de fechar contrato com o BB para explorar o serviço. Mas o banco só entra no processamento de documentos, já que todo o serviço de caixa é feito pelos atendentes dos correios.
“Hoje o Banco Postal dos Correios é um serviço bancário, mas os atendentes não recebem a quebra de caixa. Temos também a luta pela jornada de seis horas para esses trabalhadores. Hoje pagam-se todas as contas, paga-se aposentadoria, mas não há segurança nas agências, não se paga a quebra de caixa aos atendentes. Nossa luta também vai na direção dos Correios terem seu próprio banco nesse novo modelo, para que tenha mais recursos para a empresa”, defende Ronaldo Martins.
A segurança também é um problema para os trabalhadores dos Correios. Carteiros, motoristas e atendentes são vítimas de assaltos com muita frequência. “Nas agências não há câmeras de monitoramento, falta o profissional de segurança, falta a porta giratória. Os trabalhadores ficam expostos e há muitos trabalhadores afastados por problemas psicológicos. Isso acontece muito também com carteiros. A empresa, aqui no Rio, só tem 12 carros de escolta. Dá para cobrir, muito mal, o município de São Gonçalo. Temos áreas onde fazemos entrega de valores, em que os trabalhadores são assaltados quase diariamente”, denuncia o dirigente ecetista.
Defesa da vida
Para os petroleiros, a manifestação também teve um mote específico: os acidentes do trabalho, que já vitimaram 15 trabalhadores – sendo a maioria terceirizados – em 2011, sendo 8 só no mês de agosto.
Os manifestantes levaram cruzes simbolizando os 309 petroleiros e prestadores de serviço mortos no exercício de suas atividades profissionais desde 1995. Quando a passeata chegou à sede da Petrobras, as cruzes foram fincadas no gramado ou colocadas na calçada em frente ao edifício.
“Há dois pilares que são as causas das mortes na Petrobras: primeiro, a terceirização. Depois, a redução dos efetivos, tanto próprio, quanto de terceirizados. E nós temos grandes propostas que já apresentamos à empresa, e vamos continuar insistindo para que haja uma mudança”, informa João Moraes, presidente da Federação Única dos Petroleiros – FUP.
Além dos acidentes, os petroleiros lutam para derrubar a determinação do governo de não conceder aumento real aos empregados das estatais. “Vamos mostrar que o caminho é o da recomposição salarial, de melhoria de condições de trabalho para o povo. Se o Brasil entrar nessa lógica de que salário causa inflação, vamos acabar como a Europa, como os EUA, sem mercado consumidor e em derrocada total”, avalia Moraes.
O sindicalista também lembra que a situação da Petrobras é excelente, já que atua num mercado em expansão, e que a empresa tem planos de investir US$ 170 bilhões nos próximos anos. “Os resultados disso vão ser estrondosos; os lucros, imensos e crescentes. Nada justifica que a Petrobras não apresente ganho real para a categoria. E, se ela insistir em seguir esta orientação do governo – e a gente espera que o governo a reveja – a nossa resposta vai ser a mobilização e, se for necessário, a greve, a parada de produção”, anuncia o dirigente.
Em comum com os bancários, os petroleiros têm a luta contra as terceirizações, sobretudo o combate ao PL 4.330/04, do deputado federal Sandro Mabel (PR-GO), que amplia a legislação permitindo o trabalho terceirizado até mesmo nas atividades-fim. “O projeto do deputado Mabel vai na contramão da história, piora e precariza ainda mais as condições de trabalho. É um desserviço o que esse deputado presta ao nosso país”, avalia Moraes.
Representatividade
Sindicalistas de várias bases estiveram presentes. Pelos bancários, compareceram diretores da Federação e representantes dos Sindicatos da Baixada Fluminense, Petrópolis, Rio de Janeiro e Sul Fluminense, na base da Federação. A presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Juvandia Leite, e o presidente da Contraf-CUT, Carlos Cordeiro, também participaram, ressaltando o caráter nacional do ato.
Pelos petroleiros, além de dirigentes da FUP, compareceram representantes de vários sindicatos do Dstado e do Sindipetro-BA, além do secretário-geral da Federação Nacional dos Petroleiros da Bolívia, David Ruella.
Pelos ecetistas, participaram o Sindicato do Rio de Janeiro e a federação nacional da categoria, a FentECT. Representantes da Confederação Nacional dos Químicos – CNQ e da Federação Nacional dos Portuários (FNPortuarios) também compareceram.
O ato teve ainda a presença de representantes dos metalúrgicos, eletricitários, radialistas e trabalhadores das telecomunicações do estado, além de integrantes da direção da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas – UBES.
O vereador Reimont Otoni (PT) e o deputado estadual Gilberto Palmares (PT) levaram seu apoio ao ato dos trabalhadores.