Bancário do HSBC com deficiência visual espera há 5 anos por oportunidade

Ser graduado em Marketing e reconhecido como o melhor consultor de atendimento de rede de São Paulo em abril de 2011 e nos meses de março, abril e maio de 2012, não foi suficiente para que o HSBC desse uma chance para que um bancário com deficiência visual tivesse oportunidade de ascender profissionalmente.

O funcionário Reinaldo Soares da Luz trabalha há cinco anos orientando os clientes a operar as máquinas do autoatendimento em uma agência na zona norte. Por ter apenas 20% da visão, teve de superar a barreira de não conseguir visualizar as opções dos serviços oferecidos nas telas dos terminais.

Assim, após muito esforço e graças à ajuda de colegas, conseguiu decorar as mais de 50 operações do sistema para auxiliar os usuários. “As pessoas só notam que tenho deficiência visual quando apresentam algum documento para eu ler. Para isso recorro a uma lupa e dou todas as informações sem problemas”, explica Reinaldo.

O trabalhador afirma que durante todo o tempo de banco reivindica uma chance para exercer outra função com remuneração maior, pois prossegue recebendo o piso de ingresso.

“Sei que tenho capacidade para desempenhar qualquer outra função na agência. A única coisa que peço é oportunidade e um terminal com um programa com dispositivo de ‘lupa’ como o Windows 7. Não entendo a dificuldade para me fornecerem isso. A única razão que encontro é que o banco quer as pessoas com deficiência apenas para cumprir uma cota. Quero ter chance para mostrar minha capacidade”, afirma, acrescentando que chegou a pedir para ser demitido por não suportar mais a situação. “Sou casado há sete anos e quero dar um padrão de vida melhor para minha família. Com o que ganho é muito difícil chegar ao fim do mês.”

Por ser reconhecido como o melhor consultor de rede por três meses consecutivos no ano passado, ele recebeu do HSBC uma antecipação a título de PPR (Programa Próprio de Remuneração): R$ 5. Esse valor irrisório, no entanto, foi descontado em holerite no início deste ano devido ao fato de o banco descontar o programa próprio da PLR da categoria.

“É uma vergonha. Nada justifica uma atitude como essa”, afirma o dirigente sindical Luciano Ramos. “Já encaminhamos formalmente a reivindicação do bancário ao HSBC, mas até agora a única resposta do banco foi a proposta de transferi-lo para um lugar bem distante da residência e sem qualquer alteração no salário. Assim não dá.”

Campanha 2013

De acordo com a diretora executiva do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Neiva Ribeiro, que participa dos debates sobre igualdade de oportunidade com a federação dos bancos (Fenaban), o caso de Reinaldo ilustra bem o que a situação das pessoas com deficiência dentro das instituições financeiras.

“Não basta a empresa cumprir uma quota, também tem de dar oportunidade a essas pessoas. Esses funcionários têm de ter mecanismos para poder evoluir na carreira. Precisam de equipamentos adequados e as chefias também devem ser capacitadas para poder avaliá-los”, afirma.

Segundo a dirigente sindical, uma das formas de resolver a questão é que os bancos negociem com os representantes dos trabalhadores um PCCS (Plano de Cargos, Carreira e Salários) para que todos tenham as mesmas chances a partir de critérios claros e objetivos. “Com isso, não só o PCD, mas as mulheres, os afrodescentendes, todos terão tratamento igual nos bancos”, defende.

Neiva afirma estar sendo reivindicado que a nova versão do Mapa da Diversidade traga, além das informações de gênero, raça e orientação sexual e da qualificação do cargo, a identificação de quantas pessoas com deficiência existem de fato nos bancos, em quais setores estão lotados e quais as suas necessidades em termos de equipamento e treinamento. “Com essas informações teremos condições de aprofundar mais o assunto.”

Na segunda rodada de negociação entre o Comando Nacional dos Bancários e a Fenaban, que ocorre nesta quinta e sexta-feira, dias 15 e 16, serão debatidos os temas emprego e igualdade de oportunidades. Entre as reivindicações, que os bancos contratem pelo menos 20% de negros e negras.

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