Eletrônicos, casa própria, carro novo e viagens são alguns dos principais desejos de consumo da nova classe média brasileira que, nos últimos anos, contribuiu para movimentar o mercado interno e manter a produção aquecida em tempos de crise internacional.
Segundo o professor da Universidade de Brasília (UnB) Roberto Piscitelli, o aumento da renda, do emprego formal e a expansão do acesso ao crédito no país possibilitaram que muitos consumidores elevassem seu padrão de consumo e melhorassem de vida.
Só na última década, 37 milhões de pessoas ingressaram na classe média, que hoje tem mais de 100 milhões de brasileiros. A classe média brasileira é responsável por 42% de tudo o que é comprado pelas famílias e movimenta cerca de R$ 1 trilhão por ano, segundo dados da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.
De acordo com Piscitelli, o aumento da renda permitiu a compra de bens e serviços de maior valor. “O aumento da renda real média do trabalhador e a expansão do crédito nos últimos anos dá uma ideia de como essas camadas da população passaram a usufruir das vantagens que o mercado, principalmente de bens de consumo durável, oferece e também de serviços.”
Com mais dinheiro no bolso, muitos brasileiros aproveitaram para ir às compras. Paulo Ultra, 26 anos, por exemplo, mudou de emprego há pouco tempo e passou a ganhar o dobro do salário anterior, o que permitiu que comprasse o primeiro carro. “Pesquisei muito antes de fazer a compra. Fui a seis concessionárias em busca das melhores condições. Não me decidi só por causa dos juros, mas também pelos acessórios que me ofereceram.”, disse.
Mas nem todo mundo é organizado como ele. Por isso, os especialistas alertam que é preciso ter cuidado com o endividamento. Antes de gastar, é bom colocar tudo na ponta do lápis e ver o que cabe no orçamento. Segundo o economista Roberto Piscitelli, é fundamental que as pessoas aprendam a fazer planejamento financeiro.
“Isso vale para todos nós, mais particularmente para essas categorias de pessoas que [ingressaram recentemente] no mercado de consumo e que não estavam tão acostumadas com esse dia a dia dos negócios, do comércio, das compras e do crédito. É preciso que a gente seja mais responsável quanto aos níveis de endividamento que podemos suportar sem grandes sacrifícios.”
O analista Clairton Costa, 42 anos, diz que gosta muito de tecnologia e por isso compra com frequência equipamentos eletrônicos, mas se preocupa em não gastar demais. “Sempre pechincho e procuro o melhor preço. Por isso, prefiro pedir desconto e pagar à vista.”
Já a teleoperadora Natane Silva, 23 anos, confessa: não consegue resistir às tentações do consumo. Quando quer alguma coisa, ela compra, mesmo que tenha que pagar em várias prestações. “Eu gosto de comprar roupas e sapatos e na hora de pagar ultimamente eu uso cartão de crédito.”
Na hora de usar o cartão de crédito, os especialistas alertam que os consumidores devem tomar cuidado com os juros e evitar o pagamento mínimo da fatura. Apesar de terem sido reduzidas, as taxas continuam altas no país. No caso do cartão de crédito, os juros chegam a quase 200% ao ano.