Valor Econômico
Cristiane Perini Lucchesi e Maria Christina Carvalho, de São Paulo
O Itaú BBA e a área de atacado do Unibanco vão se unir, em decorrência da fusão do grupo Itaú com o grupo Unibanco, mas já está decidido que a gestão autônoma será preservada. O anúncio foi feito ontem por Cândido Bracher, presidente do Itaú BBA, em almoço com a imprensa. “Depois de três trimestres de movimento recorde neste ano, estamos diante do desafio da crise e do desafio da fusão”, disse, para completar que a “união com nosso competidor fortíssimo deixa a todos mais fortes”.
Desde que o BBA foi comprado pelo Itaú, há seis anos, o Itaú BBA se manteve uma empresa separada dentro do grupo para atendimento às grandes empresas. Os executivos principais tinham participação no capital até os 50%. Agora, com a fusão, a nova estrutura societária não está definida. Mas, segundo Bracher, deve seguir “os mesmos princípios”. Há bastante sobreposição de clientes entre o Itaú BBA e o atacado do Unibanco, segundo Alberto Fernandes, diretor vice-presidente do Itaú BBA. Com isso, o total de empresas atendidas não deverá passar os 2.200 a 2.500 que possuem faturamento acima de R$ 150 milhões.
“Vamos somar as bases de capital do Itaú com as do Unibanco e poder emprestar mais para esses clientes”, disse Roberto Setubal, presidente-executivo do Itaú Unibanco Banco Múltiplo, holding formado a partir da fusão do Itaú com o Unibanco. “Pretendemos ganhar mercado com operações maiores, pois nossos limites ficarão maiores”, disse Fernandes. Setubal não negou, no entanto, uma maior seletividade com os clientes por causa da crise econômica internacional, que tende a elevar a inadimplência entre empresas e pessoas físicas.
Ele disse ainda que daqui para a frente vai procurar saber mais detalhadamente as posições consolidadas de derivativos que seus clientes possuem, observar a governança corporativa das empresas e como funcionam os processos decisórios para a aprovação do uso desses instrumentos. “Mesmo para oferecer outros produtos de crédito como Finame vamos passar a observar isso, pois esses clientes podem ter um risco maior de crédito por causa dos derivativos que não sabíamos”, afirmou ele.
O Itaú BBA é um dos grandes participantes no mercado de derivativos de câmbio para clientes e é um dos credores da Aracruz, que perdeu US$ 2,1 bilhões com instrumentos como “target forward” e ainda negocia como vai pagar o que deve a 12 bancos. Bracher diz que quando o Itaú BBA operava com uma empresa, não sabia se essa empresa estava fechando transações de derivativos também com outros bancos.
De acordo com ele, as empresas que fizeram posições aceitáveis tiveram impactos aceitáveis, embora grandes, em sua dívida quando o dólar foi de R$ 1,60 para R$ 2,40, “o que ninguém esperava”. No entanto, segundo ele, as posições maiores causaram problemas mais graves. Setubal frisou que as empresas sabiam bem os riscos envolvidos e que as gravações da mesa de operação do Itaú BBA mostram isso. “As explicações eram claras e se houve desinformação em algum caso foi uma exceção.” Ele disse que o problema maior ficou isolado em poucas grandes empresas e não houve risco sistêmico.
Nos três primeiros trimestres do ano, o lucro líquido do Itaú BBA cresceu 25% e as receitas com comissões e spreads tiveram aumento de 50%, informou Bracher. O presidente do Itaú BBA é membro do conselho de administração do Itaú Unibanco Banco Múltiplo, eleito em assembléia geral na sexta-feira. O presidente do conselho é Pedro Moreira Salles. Foram nomeados também Roberto Setubal, Alfredo Egydio Setubal, Ricardo Villela Marino, Alfredo Egydio Arruda Villela Filho, Fernando Moreira Salles, Guillermo Alejandro Cortina (representante do Bank of America) e Cândido Bracher (representante do BBA). Há outros seis membros independentes: Henri Penchas, Gustavo Loyola, Alcides Tápias, Israel Vainboim, Francisco Pinto e Pedro Bodin.