A mesa redonda “Saúde e suas relações com o trabalho na atualidade”, promovida pelo Sindicato dos Bancários de Porto Alegre na última quinta-feira, dia 11, reuniu na Casa dos Bancários diversos especialistas e interessados no assunto. Com os trabalhos coordenados pelo médico e professor doutor Álvaro Crespo Merlo, o debate teve participação do diretor de Políticas Sindicais e Cidadania do SindBancários, Mauro Salles, o professor Paulo Antonio Barros de Oliveira e a professora Jussara Mendes.
Para Merlo, que ao final do debate autografou o livro “Psicodinâmica e Clínica do Trabalho”: Temas, Interfaces e Casos Brasileiros”, organizado por ele, Ana Magnólia Mendes, Carla Faria Morrone e Emílio Peres Facas, os bancos são um dos piores exemplos que existem em se falando de violência no ambiente de trabalho, ocasionada principalmente pelo assédio moral. “O assédio moral está sendo usado como instrumento de gestão pelas empresas. Os funcionários são humilhados, ameaçados de demissão e forçados a um processo de mutação.”
O assédio moral, em casos extremos, pode levar ao suicídio. Segundo o especialista, os bancos e empresas precisam ser processados, pressionados e denunciados para se preocuparem realmente com a saúde do trabalhador. “As pessoas enfrentam a violência no ambiente de trabalho de várias formas. Alguns bebem, outros cheiram, uns espancam a família. Cabe aos sindicatos lutar por uma mudança nesse quadro, e o SindBancários é um bom exemplo a ser seguido. Aqui há uma continuidade no debate e na pesquisa, o que é fundamental.”
As doenças no ambiente de trabalho começaram a ser denunciadas, no Brasil, no começo da década de 80 pelos sindicatos. Primeiramente, foram diagnosticadas as lesões por esforços repetitivos (LER). Nos anos 90 e 2000, passaram a ser percebidos casos de suicídios nas empresas, que estariam relacionados às pressões no ambiente laboral.
“O avanço de modificações no modo de organizar o trabalho, nos modos de gerência, nas transformações que o taylorismo sofreu, ficando mais agudo e exigente, fizeram surgir as metas. Foram criadas demandas que as pessoas não dão conta no tempo necessário”, ressalta.
O processo de mutação é outro importante fator que leva ao adoecimento: o trabalhador é pressionado pelos chefes a “funcionar” como uma máquina. “O empregado não pode ter hora para trabalhar, precisa se deslocar e viajar o tempo todo. O que não é analisado é que o biológico humano continua o mesmo de quando o homem fugia dos leões na África. Há tanto uma exigência física, que podemos observar com o aumento de casos de lesões por esforço repetitivo, quanto intelectual, em relações que são muito esquizofrênicas, ambíguas. A empresa diz ao trabalhador que ele é uma pessoa importante, que precisa dele. Entretanto, o funcionário sabe que, a qualquer momento, o colocam para fora na mesma hora.”
Merlo revela que há necessidade de mudar a concepção das pessoas, que acreditam que quem se suicida é porque tem problemas pessoais anteriores, ou porque a pessoa não é forte o suficiente psicologicamente. “Pode até ter alguma relação, mas não é o que se vê em algumas epidemias como a da France Telecon, onde 58 empregados se suicidaram. Ou então, todas as pessoas se tornaram frágeis de uma hora para outra”, questiona.
O professor relaciona os problemas psicológicos com o que aconteceu com as lesões por esforço repetitivo. “Sempre existiu pessoa com problemas no punho, mas logo se curavam e eram casos raros. Hoje no nosso ambulatório, 70% dos casos atendidos é de LER/DORT; desses, metade tem síndrome da doença do carpo. Sempre foi uma doença rara, e hoje os residentes não aguentam mais ver trabalhadores com esse problema. Se o DNA das pessoas continua o mesmo, não há dúvida: o que mudou foram as relações no ambiente de trabalho”, conclui.