Após 8 anos, mãe descobre filho vivo e trabalhando como “escravo”

Depois de oito anos sem ver o filho, já considerando que ele estivesse morto, a pensionista Rita Mota Rosa, de 72 anos, teve uma surpresa ao assistir a uma reportagem sobre trabalho análogo à escravidão em São Fidélis, no Norte Fluminense, no último final de semana.

Entre os homens libertados pela polícia, que viviam em condições sub-humanas e sem receber, estava Romário Mota Rosa, de 33 anos, filho de dona Rita. Emocionada, a moradora de Campos dos Goytacazes foi até a delegacia da cidade na segunda-feira (28) para o tão sonhado reencontro.

“Eu estava em casa e chegou um rapaz lá falando que meu filho estava passando na televisão. Eu nem acreditei que era ele. Todo mundo começou a chorar lá em casa e eu vim atrás dele. Nós ficamos esse tempo todo sem notícia e eu sempre rezava pra que ele estivesse vivo e voltasse um dia”, contou a mãe, que durante anos peregrinou pelas delegacias da região em busca de notícias.

A ação da polícia ocorreu na tarde de sábado (26), em uma fazenda de São Fidélis (RJ), depois que um dos quatro trabalhadores conseguiu fugir e pedir socorro à polícia.

Ao chegar e fazer buscas pelo local, a polícia encontrou os trabalhadores escondidos em uma espécie de valeta dentro da propriedade, segundo eles, por ordem do patrão, conforme Romário relatou à equipe do G1.

“A gente estava igual a um porco na lama. Eu ainda tentei fugir, porque pensei que fossem bater na gente de novo, aí o policial disse que a gente estava livre”.

Tortura

“A gente passou por muita dificuldade e imaginava que ia morrer a qualquer momento. Saí de Campos e fui procurar emprego em São Fidélis e ele (o dono da fazenda onde Romário trabalhava) me perguntou só se eu bebia e fumava e me contratou. Depois ele não quis me pagar, ficava enrolando. A gente comia só arroz e canjica e ganhava fumo e cachaça”, contou Romário.

Segundo declaração à polícia, eles eram sempre vigiados. Após o trabalho, de 4h às 17h, todos eram levados para um cômodo com um banheiro onde ficavam trancados sem a menor condição de higiene e estrutura precária.

“Ninguém podia reclamar. Lá na fazenda eles já avançaram com um cavalo em cima da gente e batiam com pedaço de pau e até com chicote. A gente vivia igual bicho. Eu já tentei fugir, mas eles conseguiram me pegar. Sempre tive medo de fazerem algo com a minha família”, desabafou Romário.

Três homens presos durante ação

Durante a ação de resgate da polícia, Paulo César Azevedo Girão, de 59 anos, que é dono da fazenda onde os homens trabalhavam, foi preso em flagrante. Também foram presos o filho dele, Marcelo Conceição Azevedo Girão, 33 anos, e o caseiro Roberto Melo de Araújo, de 38 anos. Os três já estão no Presídio Público Carlos Tinoco da Fonseca, em Campos.

Eles vão responder pelo crime de “redução à condição análoga a de escravo” e podem pegar de 2 a 8 anos de prisão. A polícia está apurando também a suspeita de crime de tortura.

Liberdade

Divorciado na época que desapareceu, agora, o trabalhador espera recomeçar a vida em um emprego digno e reencontrar a filha, que ele calcula ter cerca de 10 anos. Uma equipe da Prefeitura de Campos que acompanha o caso vai auxiliar os trabalhadores na aquisição de documentos, além de prestar apoio psicológico e encaminhamento para o mercado de trabalho.

“Eu só tenho a agradecer a todos os policiais que foram verdadeiros heróis para a gente e também a todo mundo que ‘tá’ ajudando. Tudo parece um sonho”, concluiu Romário.

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