Fabiana Lopes
Valor Econômico | De São Paulo
Em sua primeira aparição desde que assumiu o posto de seu pai, morto na semana passada, na presidência do Conselho do Santander, Ana Patrícia Botín reiterou a confiança do grupo na filial brasileira e comprometeu-se a dar continuidade à estratégia de Emilio Botín, caracterizada por uma “visão clara” e por “assumir riscos de modo prudente”.
Esse foi o primeiro contato da nova presidente com os acionistas do grupo, durante assembleia extraordinária que aprovou o aumento do capital do Santander Espanha para a compra da totalidade de ações do Santander Brasil em circulação no mercado.
“Esta operação mostra a confiança do grupo no Brasil e na nossa filial. O Brasil é um grande país, com um forte potencial de crescimento, com instituições sólidas, um setor empresarial de qualidade e um sistema financeiro bem gerenciado e supervisionado. Tudo isso nos faz confiar na economia brasileira e que ela superará o período de desaceleração pelo qual está passando”, disse em seu discurso, durante o encontro.
Ana também destacou a confiança do grupo na capacidade do banco Santander Brasil de impulsionar seus resultados, que hoje representam 20% dos resultados do grupo. “Temos um grande potencial para o desenvolvimento de nossa atividade no Brasil, através do crescimento do crédito em segmentos onde nossa fatia de mercado é reduzida, e dos financiamentos a importantes projetos de infraestrutura que irão ocorrer”, disse.
Na operação, anunciada em 29 de abril, as ações e units da filial brasileira serão trocadas por certificados de depósito de valores mobiliários (BDRs) representativos de ações ordinárias do Santander Espanha. As ações que serão adquiridas pelo grupo representam 24,75% do capital do Santander Brasil.
Depois de alguns acionistas minoritários terem se posicionado contra a oferta, Ana fez questão de destacar que a operação é financeiramente positiva para todos os acionistas, do Brasil e da matriz. Para ela, os minoritários do Santander Brasil vão se beneficiar não apenas do prêmio inserido na operação, mas também dos investimentos do grupo na filial brasileira.
Em seu discurso para os investidores, Ana também destacou que aposta no crescimento do grupo. “O grupo tem a base de capital, a solidez de balanço e a capacidade de geração de renda necessárias” para o crescimento, disse. De tailleur preto risca de giz e lenço vermelho, Ana disse que conta com o apoio do conselho, que ela integra há mais de 25 anos. A família possui cerca de 2% do Santander.
A executiva enfrenta a preocupação dos investidores de que o capital do banco esteja mais fraco do que o de certos rivais. “O primeiro desafio é manter a coesão interna no banco”, disse David Vaamonde, analista do Main First Bank, em Madri, que classifica o desempenho do Santander como fraco. “Manter um banco com uma proporção de capital inferior a de seus pares é outro desafio importante.”
A própria executiva admitiu que manter a trajetória de crescimento não será uma tarefa simples. “Nós achamos que eles têm pouco capital”, disse Andrea Williams, diretora de ações europeias na Royal London Asset Management em Londres. “Ela delega um pouco mais e tem uma boa equipe – gostaria de acreditar que dará mais ouvidos à gerência”, diz.